Uma fila de até dez companhias está se formando para fazer ofertas de ações em outubro, de olho no apetite dos investidores e na abundância externa de capital, que têm atraído dinheiro novo para o Brasil. A despeito da turbulência política, a percepção do mercado é de que houve uma “separação” entre a economia e a crise no governo federal.
Isso deve fazer de 2017 o ano de maior movimento de emissões de ações no País desde 2010. Até 31 de dezembro, as ofertas podem superar R$ 40 bilhões.
De janeiro até agora, as ofertas de ações já somam R$ 21,9 bilhões, mais do que o dobro do registrado em 2016. E a essa conta vão se somar as cifras de IRB Brasil Re (resseguradora) e Omega Geração (empresa de energia), que vão definir preços de seus papéis hoje. Ambas poderão contribuir com mais R$ 4 bilhões em julho, após a varejista Carrefour e Biotoscana, do ramo de saúde, terem movimentado mais de R$ 6 bilhões na semana passada.
Caso a expectativa com IRB e Ômega seja confirmada, será o melhor desempenho do mercado de ações brasileiro desde 2010, quando as emissões somaram R$ 149 bilhões – o valor foi inflado por uma operação de R$ 120 bilhões da Petrobrás.
Uma das razões para todo esse otimismo no mercado de renda variável é o entendimento de que a direção da economia não deverá sofrer alterações significativas, afirma o diretor gerente do Bradesco BBI, Leandro Miranda. “Os investidores estrangeiros sempre estiveram mais positivos do que os brasileiros”, diz. Miranda informa que o banco tem hoje oito ofertas nas mãos que podem ser viabilizadas até o fim deste ano.
Apenas com essa carteira, o diretor do Bradesco BBI calcula que as ofertas de ações poderão somar um volume adicional de R$ 17 bilhões até o fim ano, sendo R$ 10 bilhões podem ser somente em outubro.
A Tivit (de tecnologia da informação) e a Camil (de alimentos) já entraram com pedido para realizar suas ofertas iniciais de ações (IPOs, na sigla em inglês) na B3. A Neoenergia (de energia) e a BR Distribuidora (braço de distribuição de combustíveis da Petrobrás, que desistiu de uma venda de controle) também se movimentam para abrir o capital.
Movimento. De acordo com Fábio Nazari, sócio do BTG Pactual, o momento da Bolsa brasileira permite não só a capitalização de companhias, mas também viabiliza a saída de sócios, como fundos de private equity (que compram participações em empresas).
“As ofertas de ações estão atraindo os investidores. Virão a mercado as histórias certas, com o valor de avaliação correto”, diz o responsável pelo Bank of America Merrill Lynch no Brasil, Hans Lin.
A crise, porém, influencia os objetivos que as empresas têm ao fazer um IPO. Ao contrário do que ocorreu no “boom” da Bolsa, há dez anos, o dinheiro captado não está sendo usado prioritariamente para financiar projetos de expansão, mas para reduzir o endividamento dos negócios. “O mercado tem aceitado bem essa intenção, pois o custo da dívida é alto”, frisa Nazari. O movimento também tende a deixar os negócios mais saudáveis para uma eventual retomada da economia.
A próxima janela de IPOs, em outubro, deve ser usada também por empresas que se preparavam para lançar suas ofertas de ações, mas desistiram depois da delação do empresário Joesley Batista, da JBS, que envolveu o presidente Michel Temer e abalou o Palácio do Planalto. O bom resultado da B3 em julho deve dar um ânimo adicional às companhias que estavam em dúvida sobre a ida à Bolsa.
O executivo do BTG recomenda que, diante do cenário instável do Brasil, as empresas devem fazer a preparação para o IPO com antecedência. Assim, vão estar prontas para aproveitar as oportunidades geradas por momentos mais positivos, como o atual. - O Estado de S.Paulo Leia mais em portal.newsnet 27/07/2017
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