26 junho 2017

Via Varejo ainda está à venda

Após ter interrompido de forma temporária o processo de venda da Via Varejo - em seguida a um desentendimento com os sócios da família Klein - o Grupo Pão de Açúcar (GPA) caminha, de maneira ainda lenta, no plano para se desfazer da empresa de varejo de eletrodomésticos. O Pão de Açúcar acaba de montar o "data room", com as informações relevantes da companhia para interessados. A família Klein continua interessada no negócio, segundo fonte.

Dias atrás, o grupo cancelou o contrato com o Santander, um dos bancos chamados para encontrar compradores para a Via Varejo, mas continuam na transação outras instituições financeiras, como Rothschild, HSBC e Société Générale. Segundo o Valor apurou, a empresa informou ao Santander que decidiu fazer alguns ajustes na Via Varejo antes de colocá-la à venda novamente.

Neste momento, a prioridade do grupo é tentar tornar o processo de venda mais competitivo. Esse processo inclui avançar numa discussão que acontece há alguns meses entre os dois sócios da varejista, GPA e o empresário Michael Klein, sobre os passivos trabalhistas da empresa.

Advogados dos dois sócios estão fazendo uma análise dos processos de trabalhadores contra a empresa para tentar definir o que é responsabilidade dos Klein e o que é da alçada do GPA. O tema tem sido tratado nas últimas reuniões de conselho de administração da Via Varejo.

A Casas Bahia, vendida em 2009, carregava um passivo trabalhista pesado e, no momento da venda, ficou acertado que os processos envolvendo funcionários da Casas Bahia seriam de responsabilidade dos Klein até novembro de 2016. Os sócios deram como garantia ao GPA imóveis da família. Mas a empresa não cumpriu alguns prazos de recursos em processos anteriores a 2016, e por causa disso, perdeu os processos, segundo fonte a par do assunto. Os Klein entendem que essa perda cabe ao grupo, não aos sócios.

Advogados das duas partes analisam mais de 10 mil processos para verificar quem é responsável em cada ação, e não há prazo para término desse trabalho, que começou antes de a Via Varejo ter sido colocada à venda.

"Para quem for comprar o negócio, vai ter que ficar claro no contrato que, ou o Klein ou o GPA ficarão responsabilizados por esse passivo", diz uma fonte.

"Se a venda avançar com os Klein, eles vão ter que se entender sobre isso, mas há boa vontade de ambos os lados em resolver isso. Não há qualquer animosidade".

No balanço do primeiro trimestre, a Via Varejo informou que o saldo para provisão de demandas judiciais previdenciárias e trabalhistas atingia R$ 718 milhões versus R$ 432 milhões um ano antes. Em março, a companhia possuia quase 35 mil processos trabalhistas ativos em comparação com 31 mil em dezembro de 2016.

Na primeira tentativa de colocar o ativo à venda, o GPA acabou não conseguindo atrair interessados no patamar de preço que gostaria, depois de uma forte valorização dos papéis da companhia na bolsa de valores.

Os passivos da companhia também contribuíram para reduzir o apetite dos interessados. É por isso que agora o GPA deve concentrar seus esforços em equacionar isso antes de ofertar a Via Varejo novamente.

Procurada pela reportagem, o Grupo Pão de açúcar informou, por meio de nota, que todos os bancos com mandatos continuam trabalhando com o grupo, e que o processo de alienação está em andamento. O Santander não comentou o assunto.

Apesar das incertezas geradas com o aprofundamento da crise política, que tem "travado" algumas operações no mercado e reduzido o valor de ativos, o objetivo do GPA de vender a Via Varejo permanece por questões estratégicas.

O plano de se desfazer da Via Varejo (Casas Bahia e Ponto Frio) é um caminho sem volta, diz uma fonte, pela decisão do grupo de privilegiar a área alimentar.

Mas como o momento é difícil, a ideia é ir "tocando" a operação, numa expectativa de que apresentação de números mais positivos da empresa neste ano, e a perspectiva de alguma melhora no mercado de consumo possa mudar o cenário de negociação. - Valor Econômico Leia mais em portal.newsnet 26/06/2017


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