04 junho 2017

Rolou uma química

Com aquisições e fusões bilionárias, algumas das maiores empresas químicas do planeta estão se tornando ainda maiores. Entenda os mais recentes movimentos e seus impactos no campo

Presença: com a compra da Merial, a BI passa a participar mais no mercado de bovinos, aquirindo toda uma plataforma de tecnologia e uma receita de US$ 3 bilhões

Em meio a um bucólico campo repleto de macieiras, na cidade alemã de Ingelheim, a cerca de 60 quilômetros de Frankfurt, surge um moderno e imponente prédio de imensas paredes envidraçadas. O edifício, um marco na arquitetura local, é também considerado motivo de orgulho para os cidadãos do município de apenas 25 mil pessoas. Afinal, é ali que está a sede de um dos ícones da indústria química alemã e uma das maiores farmacêuticas do mundo: a Boehringer Ingelheim (leia-se bêringuer inguelraim) ou BI. E, desde o ano passado, a empresa aumentou seu prestígio entre os alemães ao comprar a Merial, da francesa Sanofi, e se tornar a segunda maior companhia de saúde animal do planeta. “O momento representa o maior desafio de toda a nossa organização”, afirma o advogado Humbertus von Baumbach, CEO da Boehringer Ingelheim. Embora a empresa fizesse parte do setor de saúde animal desde 1955, ainda tinha uma participação pequena. De seu faturamento de US$ 18,3 bilhões, em 2016, somente US$ 1,7 bilhão vieram desse nicho de mercado.74

Agora, o cenário mudou. “Po­­de­mos dizer que passamos a ter um negócio com a força de dois”, diz Baumbach. Somando a receita de 2016 da BI com saúde animal, que foi de US$ 1,7 bilhão, com os US$ 3 bilhões da Merial, a companhia ostenta agora um faturamento de US$ 4,7 bi­­lhões. Fica atrás da americana Zoetis. E à frente de gigantes, como as também americanas Merck e Lilly e a alemã Bayer no setor de saúde animal.

Sem trocadilho, as reações do setor de químicos têm permanecido bem ativas no que diz respeito ao mercado de fusões e aquisições. No ano passado, o setor movimentou cerca de US$ 4,1 trilhões, segundo o Conselho da Indústria Química Europeia (Cefic, na sigla em francês), em diversas áreas, como petróleo, plástico, fertilizante, defensivos e saúde animal. O negócio da BI não é um movimento isolado, mas parte de um mercado em franco crescimento, de acordo com uma recente pesquisa da consultoria americana A.T. Kearney, que analisou as operações desse segmento nos últimos 15 anos. Em 2016, as fusões e aquisições no setor geraram negócios da ordem de US$ 92 bilhões. Para este ano, são esperados US$ 301 bilhões. Segundo a consultoria A.T. Kearney, a maior parte desse valor vem das fusões entre a alemã Bayer e a americana Monsanto, e da chinesa ChemChina com a suíça Syngenta. Segundo Guttorm Aase, diretor da área de Óleo e Gás na A.T. Kearney, o futuro desse tipo de operação continua bastante promissor. “A tendência é de um mercado emergente, com empresas procurando acesso a novas tecnologias como o mais importante condutor do futuro da atividade de fusões e aquisições”, disse Aase, em um depoimento na rede social da empresa.

Em uma entrevista exclusiva à DINHEIRO RURAL, o médico veterinário Joachim Hansenmaier, diretor global de saúde animal da BI, disse que a empresa vinha estudando um plano de aquisição desde 2013. “Nenhuma das empresas procuradas estavam interessadas em serem vendidas apenas por dinheiro”, diz Hansenmaier. Para garfar a Merial da Sanofi, a BI teve de abrir mão de seu negócio de medicamentos livres de prescrição médica, no qual está, por exemplo, o analgésico Buscopan, muito popular no Brasil. Além disso, complementou a transação com US$ 5,4 bilhões. “Não sei quais as estratégias das demais companhias”, diz Hansenmaier. “Só sei que queremos crescer acima do porcentual do mercado.” No ano passado, o setor de saúde animal movimentou globalmente cerca de US$ 31,1 bilhões. A previsão é de US$ 61 bilhões em 2030, numa toada de crescimento de 5% ao ano, segundo a consultoria britânica Vetnosis.

Meta: para Paco Escudero, líder da BI no Brasil, em dois anos a empresa será a quatro maior em saúde animal no País

A BI passou a ter musculatura visando investimentos em todo o mundo. A empresa sai de quatro para 19 fábricas, de três centros de pesquisa para 16 unidades e de 3,9 mil funcionários para 10,8 mil. Na área de pesquisa e desenvolvimento, o plano é investir cerca de US$ 500 milhões por ano. Desse total, estão no País três fábricas, uma fazenda experimental e um quadro de 800 funcionários. Segundo Paco Escudero, diretor das operações da BI no Brasil, 14 novos produtos devem ser lançados ainda este ano. Entre eles, nove são medicamentos para bovinos de leite. Antes de comprar a Merial, a maior parte das operações da BI estava no setor de suínos. “A empresa está focando o seu crescimento, principalmente, no mercado de pecuária bovina”, diz Escudero. “Em dois anos queremos estar entre as quatro maiores empresas que atuam no Brasil.” Uma ambição proporcional ao tamanho do mercado brasileiro. O setor de saúde animal movimenta, por ano, cerca de R$ 4,5 bilhões no País. Leia mais em dinheiro rural 01/06/2017

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