As fintechs, empresas iniciantes da área financeira, estão forçando a transformação digital dos bancos, seja pela dor ou pela colaboração. E já movimentam uma grande indústria, como fontes de negócios para consultorias - sejam as grandes como Accenture, Deloitte, EY, KPMG e PwC, ou as especializadas, como Clay Innovation, Conexão Fintech e Finnovation -, além de associações e hubs de inovação, a exemplo de ABStartup, ABFintech e 100 Open Startup.
Essas empresas e entidades estimam que já existam entre 250 e 300 fintechs no Brasil. A maioria é de startups (mas não apenas) que aliam serviços financeiros a inovações tecnológicas, democratizando o acesso a esses serviços, reduzindo taxas e tarifas, e humanizando as relações com consumidores.
"O grande impacto das fintechs nos bancos é cultural, pois ainda não ameaçam as receitas, e sim a lucratividade. Se os bancos não mudarem sua cultura, não vão conseguir competir", afirma Guilherme Horn, líder de inovação da Accenture.
Ele explica que há quatro estágios na relação dos bancos com as fintechs: rejeição, conhecimento, aproximação e colaboração. "Quem está no quarto estágio é o 'C level' [alto escalão]. Na prática, a organização ainda está em outros estágios, e quem está no de rejeição pensa que, se a fintech crescer, basta comprá-la", analisa Horn.
Gustavo Fosse, diretor setorial de tecnologia da Febraban e do Congresso e Exposição de Tecnologia da Informação das Instituições Financeiras (Ciab), e diretor de tecnologia do Banco do Brasil, não vê os bancos pressionados e diz que o seu relacionamento com as fintechs está entre os estágios de aproximação e de fazer negócio. No Ciab, realizado no início de junho, elas tiveram dois dias de debates e um dia inteiro de exposição, com 21 empresas.
Na avaliação de Fosse, com as fintechs, os bancos têm a oportunidade de melhorar a sua forma de trabalho e ter entregas mais rápidas. "A fintech complementa o banco em nichos específicos. Há instituições financeiras criando aceleradoras, outras fazendo parcerias. Não vejo ninguém enxergando como concorrência, mas como oportunidade, tanto para os bancos quanto para as fintechs", afirma.
O Guia Bolso, empresa de educação financeira que integra contas correntes e faturas de cartões, encontra resistência de instituições tradicionais que consideram que precisam resguardar a segurança e a confidencialidade das informações do cliente.
Alguns bancos negociam com a Guia Bolso para que o cliente autorize o banco a enviar os dados para a Guia Bolso, em vez de o cliente dar sua senha diretamente à fintech. "Já há, inclusive, bancos se integrando à Guia Bolso de forma mais automatizada. O próprio BB trabalha no conceito de Open Bank e já tem 12 APIs (interfaces de integração) abertas", informa Fosse.
A Guia Bolso ocupa dois andares de uma torre corporativa com 120 funcionários. Captou R$ 90 milhões de fundos como Kaszek, Ribbit, QED e até da IFC, braço corporativo do Banco Mundial. Após o sucesso com educação financeira, passou a conceder crédito com bancos parceiros, como Sorocred, Semear e outras cinco instituições de médio porte. "Ajudamos esses bancos a realizarem sua transformação digital, desenvolvendo toda a plataforma digital de crédito", diz Thiago Alvarez, fundador da Guia Bolso.
A Lendico, maior fintech de empréstimo "peer-to-peer", foi a primeira a se posicionar em relação ao Next, banco digital do Bradesco. Marcelo Ciampolini, fundador da empresa, diz que, embora seja uma iniciativa válida, é preciso ver o quanto o banco digital, de fato, será apartado do Bradesco.
No Ciab, Maurício Minas, vice-presidente do Bradesco, informou que o Next utilizará a infraestrutura de backoffice (retaguarda) do Bradesco, pois não fazia sentido construir outra.
"Será difícil um banco tão tradicional como o Bradesco não influenciar o Next. Não basta ter uma cesta de tarifa mais barata, pois não é verdade que os millennials não gostam de gastar. Eles consomem quando veem um serviço bem feito e agradável de usar, vide o crescimento do Spotfy e do Netflix", diz Ciampolini.
A Lendico já opera R$ 10 milhões ao mês de empréstimos para pessoas físicas. O controle da empresa é dividido entre o BMG, com 50%, e os fundadores e a Roquet Internet, em percentuais não revelados. "As fintechs estão ajudando os bancos pequenos e médios a ganharem uma sobrevida e se reinventarem. O BMG está concedendo empréstimos para todo o Brasil, sem precisar de uma ampla rede de agências", acrescenta Ciampolini.
Outro exemplo no ambiente de integração é a Kitado, plataforma inteligente para recuperação de crédito de forma mais humanizada. A empresa já presta o serviço para instituições financeiras como Itaú, Credicard, Banco Pan, Tribanco, Portocred, Santander, BV financeira. "A Kitado ajuda as empresas a resgatar o cliente e criar uma outra história de relacionamento. Temos condições de oferecer a melhor oferta para os dois lados", resume Alexandre Lara, fundador da Kitado.
A paySmart não é exatamente uma startup, mas se classifica como fintech por oferecer inovações tecnológicas para a área financeira. Lançou no Ciab uma solução integrada que permite a emissão de cartões de crédito em pulseiras contactless e também no celular. A personalização pode ser feita via NFC, e o cliente também pode imprimir o cartão em ATMs equipadas com impressoras de cartões. - Valor Econômico Jornalista: Felipe Datt Leia mais em portal.newsnet 22/06/2017
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