O que precisa ser feito para superar a crise política que paralisou a economia?
Na nossa avaliação, o presidente Temer perdeu totalmente a condição de governabilidade. Ele tem de sair, mas a Constituição tem de ser cumprida. Vale dizer: tem de haver uma eleição indireta no Congresso. Independentemente do tempo, o mais relevante é a ideia de qual será a saída dessa eleição.
Como assim?
Podemos ter uma pessoa eleita com condições de governabilidade, de reagrupar a base política e trazer de volta as reformas. Se isso acontecer, nós teríamos perdido um trimestre e eventualmente voltaríamos a ter possibilidade de recuperar uma trajetória de crescimento para o ano que vem, menor do que projetávamos, mas com alguma expressão. Aí conseguiremos sair do buraco.
Qual seria a alternativa?
Se for eleito alguém mais fraco politicamente ou, por características pessoais, que não tenha condições de retomar a agenda de reformas e de crescimento, aí haverá o problema que todo mundo teme: uma “sarneyrização”. Seria um horror. Tudo ficaria parado até a próxima eleição.
Com que cenário o sr. está trabalhando?
Temos de aguardar. Hoje, não consigo associar probabilidades nem fazer projeções.
Qual será o custo dessa crise política para a economia?
O menor custo que teremos é o de um trimestre perdido, como já citei, se for escolhido alguém com o mínimo de condições políticas. Assim, voltaríamos a crescer no ano que vem e, desta forma, sairíamos de vez da recessão. Tecnicamente, já saímos da recessão: todo mundo concorda que o primeiro trimestre teve crescimento positivo do Produto Interno Bruto (PIB). Isso é o mais razoável que se pode dizer. A interrupção da recuperação já é um dano considerável, dependendo da velocidade da solução política. A velocidade com que será feita a sucessão será a chave para a saída da crise econômica.
Como o outro cenário aventado, de um sucessor que não retome a agenda de reformas, voltaríamos à recessão?
Se demorar muito, por questões políticas e jurídicas, para escolher o sucessor, e se o sucessor for alguém frágil ou sem comprometimento com a agenda de reformas, podemos voltar para recessão. E o custo será enorme para o País como um todo. Aí vamos ficar marcando passo até a eleição de 2018, o que seria bem complicado. Isso poderia gerar uma paralisia na economia. Não acho que vá afundar tudo de novo porque um pouco dessa melhora da economia é cíclica, como a substituição de uma máquina ou o enxugamento de estoques em alguns setores. Mas nunca foi tão óbvio o risco e o custo de voltarmos ao pântano. No fundo, o custo pode ser a gente não conseguir sair da recessão e eventualmente voltarmos a ela. Existe um risco enorme de ter um custo mais elevado. Hoje, acho uma ousadia associar a probabilidade a esses cenários. Podemos caminhar para uma solução decente ou para uma coisa muito complicada. O Estado de S.Paulo - 23/05/2017 Leia mais em abinee 23/05/2017
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