17 abril 2017

Retomada de IPOs promete lucros, mas é preciso atenção

As ações da Azul estrearam na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), na última terça-feira, com uma alta de quase 7%, e os papéis da empresa de diagnósticos Hermes Pardini já acumulam valorização de mais de 11% desde a abertura de capital, em fevereiro. O desempenho dessas empresas vem atraindo o interesse de investidores em um ano que deve ser mais aquecido no mercado das ofertas iniciais de ações (IPO, na sigla em inglês). O ganho pode realmente ser atraente, mas especialistas alertam que participar de um IPO requer um minucioso estudo prévio.

Uma empresa recorre a um IPO quando precisa de recursos para manter seus planos de crescimento. Os investidores que apostarem nela receberão ações, cujo valor vai variar conforme as oscilações da Bolsa. Mas, diferentemente dos papéis que já são negociados no mercado, a decisão de comprar ou não precisa ser feita sem que se tenha um histórico das cotações — uma das ferramentas que ajudam a determinar se o preço está bom para compra ou não — e sem saber como os controladores da empresa se relacionam com os acionistas minoritários.

— O IPO pode ser interessante, mas é preciso fazer uma análise profunda do negócio. Saber o motivo pelo qual a empresa está pegando esse dinheiro e como é o setor em que ela atua. O que tem de prevalecer nesse momento é o fundamento econômico, e não uma euforia por conta da volta dos IPOs — afirma Renan Silva, estrategista-chefe da consultoria BullMark Financial Group.

São três os principais fatores que fazem uma empresa precisar de dinheiro: necessidade e recursos para expandir os negócios; reduzir o seu endividamento; e quando um dos sócios quer vender suas ações. A destinação dos recursos do IPO é um dos itens do prospecto, que é o documento pelo qual a empresa que quer abrir o capital se apresenta aos investidores. Nele também são informadas as participações acionárias de cada um dos atuais sócios, os dados financeiros e os fatores de risco.

— São muitas informações e, muitas vezes, um investidor de varejo não vai saber analisar todas elas. É uma avaliação técnica, que demanda algum conhecimento de análise de empresas. Quem não conseguir fazer isso sozinho, pode procurar consultores em valores mobiliários — explica Silva.
Como em todo investimento em ações, o ideal é que a decisão seja tomada olhando o longo prazo.

Com base nos dados que estão no prospecto, é possível saber se a empesa está melhorando seus resultados financeiros, o que indica se ela tem chance de crescimento. Analisar o setor em que ela está inserida, seus concorrentes e que efeitos a atividade econômica do país pode ter em seus negócios são outros fatores a serem observados.

É justamente a perspectiva de uma retomada da economia que faz com que 2017 seja um ano mais propício para aberturas de capital. Já houve três neste ano, e outras empresas já se preparam para traçar o mesmo caminho. Segundo profissionais de bancos de investimento, que assessoram as empresas nessas operações, o número de IPOs no ano deve ser de ao menos 15. A aprovação de reformas econômicas e a redução dos juros — que deve levar os investidores a buscarem outras opções de aplicação — podem contribuir para que esse número seja maior.

Fabricio Tota, gerente do homebroker da corretora Socopa, lembra que a perspectiva para o cenário macroeconômico deve ser levada em conta na hora de entrar ou não em um IPO. E, embora algumas ações tenham um bom desempenho logo em sua estreia, não se deve participar de uma abertura de capital pensando em ganhos de curto prazo.

— Se a ideia é comprar a ação e esperar por uma valorização rápida, a recomendação é não

ANTES DE ENTRAR EM UM IPO
  HISTÓRICO: Qual é a evolução dos resultados da empresa?
  DESTINO: Onde a empresa vai aplicar os recursos do IPO?
  REFLEXO: Qual o efeito da atividade econômica sobre o setor de atuação da empresa?
  MERCADO: Quais são seus concorrentes?
  COMANDO: Quem são os administradores da empresa?

QUER VALORIZAÇÃO RÁPIDA? NÃO COMPRE
Das quatro empresas que fizeram IPOs nos últimos 12 meses, três estão com suas ações negociadas em um nível superior ao fixado na abertura de capital. Uma delas, a Alliar, já acumula desvalorização de 21,75% desde sua oferta inicial de ações, em outubro do ano passado — foi a primeira operação desse tipo em 16 meses. A Alliar, da área de diagnóstico, é também a única a ter um desempenho inferior ao Ibovespa, considerando o período entre a data da oferta inicial e o último fechamento. Tota: “É melhor, primeiro, entender a dinâmica” fazer isso, principalmente para quem é um iniciante no mercado de ações. Nesses casos, o risco é muito elevado. O ideal é ter uma ideia de ganho de valor no longo prazo — explica Tota.

Ele espera que, nessa nova onda de IPOs, os investidores sejam mais cautelosos do que os que atuaram em 2006 e 2007, quando a abertura de capital no Brasil teve o seu grande boom — só em 2007, foram mais de 60 operações. Com o mercado aquecido, muitas pessoas físicas sem experiência no mercado de ações acabaram comprando papéis em aberturas de capital, em meio à empolgação que envolvia o setor. Alguns anos depois, algumas dessas operações acabaram se mostrando um grande equívoco — a construtora PDG, que pediu recuperação judicial No entanto, a exigência de toda essa documentação, que pode passar de 800 páginas, não elimina todos os riscos. Um deles, comum no mercado de ações, é o de liquidez. Quando um investidor compra um papel que já é negociado em Bolsa, ele tem como saber se sempre há negócios com aquela ação, o que lhe permitirá vendê-la quando quiser. Em um IPO, você ainda não tem esse padrão de negociação e corre o risco de não encontrar essa facilidade — quanto maior a oferta, menor esse risco.

E é justamente o apetite por risco que vai determinar se compensa para um investidor de varejo entrar ou não em um IPO. Paulo Funchal, sócio da área de transações da consultoria Grant Thornton, explica que o valor de uma ação no IPO é determinado dentro de uma faixa de preço estipulada pela empresa. Quando há uma demanda muito grande por esses papéis, a cotação acaba ficando perto do preço máximo.

— Temos dois tipos de investidores. O que busca só o ganho de capital, e aí ele pode achar interessante comprar uma ação no IPO se perceber que pode ter um ganho a curto prazo. É um risco maior, mas o retorno também é. E tem aquele com olhar de mais longo prazo, que vai olhar não só a perspectiva de valorização das ações, mas também como é a política de distribuição de dividendos de uma empresa — explica Funchal. O Globo Leia mais em portal.newsnet 17/04/2017

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