A perspectiva de recuperação da economia brasileira deve movimentar o mercado de fusões e aquisições neste ano.
Ninguém arrisca um exercício de futurologia para fazer projeções, mas a percepção de banqueiros de investimento e advogados é que a expectativa de retomada econômica trouxe um ânimo adicional para potenciais compradores.
Do lado das companhias, a notícia vem em boa hora, já que para muitas delas a venda de ativos é a única alternativa para reestruturar seus passivos.
"Há compradores de grandes grupos estrangeiros e locais que entendem que o Brasil está num ponto de inflexão, e eles estão buscando empresas para comprar", afirma Alessandro Farkuh, diretor de fusões e aquisições do Bradesco BBI.
Negócios anunciados no ano passado já sinalizam para um 2017 mais vigoroso. Foram 138 operações divulgadas em 2016, que somaram R$ 179,2 bilhões, ante 111 fusões e aquisições, de R$ 109,5 bilhões, em 2015, segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). Como algumas dessas transações ainda não foram fechadas, elas devem engordar a estatística de 2017.
Em termos de operações fechadas, o ano passado mostrou uma queda na comparação com 2015, tanto em número quanto em volume financeiro, algo que deve ser revertido neste ano, na avaliação dos banqueiros.
Além da perspectiva de um cenário econômico mais favorável, os compradores de ativos encontram uma oferta bastante extensa de empresas à venda ou em busca de alguém para se unir por causa do elevado grau de endividamento. "Alguns grupos veem a oportunidade de comprar ativos que não vinham a mercado antes", diz Roderick Greenlees, diretor da área de banco de investimentos do Itaú BBA.
Entre os ativos que se enquadram nesse caso estão, por exemplo, a fabricante de sandálias Alpargatas, vendida pela Camargo Correa para o grupo J&F, e algumas operações alienadas pela Petrobras.
Diante de problemas de liquidez, é via fusões e aquisições que as empresas estão buscando se reestruturar. "Vendeu, entrou dinheiro, desalavanca rápido, a empresa desafoga, passa a ter um rating melhor, tem mais capacidade de crédito e quando a economia voltar a crescer ela tem mais capacidade de se desenvolver", diz um banqueiro que preferiu não ter seu nome divulgado. "Em última instância, posso dizer que algumas empresas estão dando um passo para trás para poder dar dois ou três para frente." Ainda não concluído, o programa de venda de ativos da Petrobras trouxe ao caixa da companhia R$ 7,23 bilhões no ano passado. Essa foi uma das medidas que permitiram à empresa conseguir em fevereiro uma melhora da classificação de risco pela S&P Global, abrindo espaço para uma redução no custo de empréstimos.
Eduardo Miras e Alessandro Zema, corresponsáveis pelo banco de investimento do Morgan Stanley, também dizem perceber que muitos controladores estrangeiros de companhias ainda estão avaliando se vão manter as atividades de suas empresas. "Quando acontece uma recessão, gera-se a necessidade de decidir se a empresa vai ou fica", afirma Zema.
É o que se viu acontecer recentemente com o HSBC, vendido para o Bradesco, com o banco de varejo do Citi, comprado pelo Itaú Unibanco, e com a Brasil Kirin, adquirida pela holandesa Heineken. Movimentos desse tipo ainda devem acontecer.
As fusões e aquisições também podem ganhar mais tração se os bancos demonstrarem mais disposição para financiar os negócios, de acordo com o advogado José Eduardo Carneiro Queiroz, sócio da área de fusões e aquisições do Mattos Filho. Se até o ano passado as instituições mantinham as torneiras bastante fechadas para conceder crédito, agora algumas instituições já começam a prever mais desembolsos.
Questionados sobre as áreas que mais devem ter fusões e aquisições, os banqueiros dizem que não haverá uma concentração setorial. Empresas de energia, saúde, educação, óleo e gás, seguro e varejo são alguns dos alvos. A cadeia do agronegócio, ainda bastante concentrada nas mãos de brasileiros, também deve ver mais ativos candidatos à venda. - Valor Econômico Leia mais em portal.newsnet 28/03/2017
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