19 fevereiro 2017

Empreiteiras traçam futuros distintos

Duas das mais tradicionais empresas de construção do Brasil, Andrade Gutierrez e Camargo Corrêa, colocaram à venda quase tudo que podem para se manterem de pé. A lista de empreendimentos vai de hidrelétricas a estaleiros e de estádios a cimenteiras, num movimento que começou depois da Operação Lava Jato, que escancarou esquemas de corrupção envolvendo empreiteiras, estatais e políticos.

Com o faturamento em queda e quase nenhum novo contrato em carteira, o movimento de venda de ativos se intensificou nos últimos meses e virou a principal saída para reforçar o caixa dos grupos. As estratégias, porém, são diferentes. Na Andrade Gutierrez, a ordem é voltar às origens e se focar na construtora. Na Camargo Corrêa, os herdeiros querem se desfazer da empreiteira e se tornar uma holding de investimentos.

Segundo o Estado apurou, a família controladora da Camargo estava em conversas firmes com a chinesa China Communications Construction Company (CCCC) para vender 100% da construtora, mas as negociações foram interrompidas em novembro passado. Havia uma expectativa de que as conversas fossem retomadas a partir deste ano. Mas, por ora, as chances de um acordo diminuíram. Fontes a par do assunto afirmam que o negócio é avaliado em cerca de US$ 1 bilhão.

Nos últimos anos, especialmente por causa das concessões, as empreiteiras viraram grandes investidoras em áreas estratégicas, como o setor de infraestrutura. No caso da Andrade, o objetivo hoje é pegar o caminho inverso. A empresa já se desfez de participações na Oi e na Sanepar (empresa de saneamento do Paraná).

Agora colocou à venda a participação na Cemig, no estádio Beira-Rio, em Porto Alegre, e no Sistema Produtor São Lourenço - uma parceira público-privada de saneamento em São Paulo. Por ora, o único ativo fora de qualquer negociação é a CCR, empresa que administra concessões na área de transportes e que também tem como sócia a Camargo Corrêa. Procurada, a Andrade não comentou.

Mudança

Na Camargo, com a decisão de sair da construção e virar uma holding de investimentos, ativos importantes já foram vendidos. No fim de 2015, a empresa se desfez da Alpargatas, por R$ 2,7 bilhões. No ano passado, vendeu a participação de 23% na CPFL para a chinesa State Grid, por R$ 5,85 bilhões.

Hoje, segundo fontes, a companhia quer vender sua fatia no Estaleiro Atlântico Sul (EAS) e busca um comprador para parte da cimenteira Loma Negra, da Argentina. Mas, assim como a Andrade, descarta vender sua participação na CCR.

Procuradas, a construtora e a InterCement, o braço da Camargo no setor de cimento, não comentaram o assunto. A Camargo disse que, com a efetivação da venda da CPFL, encerrou o processo de readequação do seu portfólio e que não venderá mais ativos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo. Renée Pereira e Mônica Scaramuzzo Leia mais em mackenziesolucoes 19/02/2017
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Efeito Lava Jato emperra venda de ativos de empreiteiras

As incertezas sobre novos desdobramentos da Operação Lava Jato, que apura corrupção na Petrobrás, estão emperrando a venda de ativos de grandes empreiteiras envolvidas nas investigações. Em conversas adiantadas com a chinesa China Communications Construction Company (CCCC), as negociações entre a Camargo Corrêa e a gigante asiática pararam diante de um impasse: a falta de segurança jurídica para blindar a chinesa de heranças decorrentes das investigações da Lava Jato, afirmaram fontes.

Também é o caso da Odebrecht Ambiental, do grupo Odebrecht, que foi negociada com a gestora canadense Brookfield. O fundo se comprometeu a comprar 70% da empresa, mas aguarda os processos de delação premiada e leniência do conglomerado baiano para concluir o negócio. "O risco é que a punição se estenda a todas as empresas do grupo. Se não se sabe o valor da multa, fica difícil fechar o preço do ativo", disse um advogado que acompanha negociações entre construtoras e investidores estrangeiros.

Parte de bancos estrangeiros, sobretudo de origem americana, também está impedida de assessorar transações de empresas envolvidas na Lava Jato, afirmou uma fonte do mercado financeiro. "Há muitos ativos à venda no Brasil e isso tem atraído interessados. Mas os investidores passaram a ter mais cuidado em fechar negócios com empresas envolvidas em corrupção", disse outra fonte.

No caso da Camargo Corrêa, que desembolsou um total de R$ 804 milhões por participação em cartel, fraude e corrupção, a empresa não encontrou dificuldades para vender a Alpargatas, em 2015, e a CPFL, no ano passado, por exemplo. Mas as conversas entre os herdeiros da terceira geração da família, que assumiram o comando dos negócios no ano passado, e a chinesa CCCC, representada no Brasil pelo banco Modal, foram interrompidas no fim do ano.

"Não havia um acordo assinado de exclusividade entre as empresas, mas um interesse mútuo de que o negócio seria levado adiante", disse uma fonte a par do assunto. O Estado apurou que o interesse da CCCC pelo "acervo técnico" da construtora continua, mas a estatal chinesa não tem mais tanta pressa de retomar as conversas.

No fim do ano passado, a CCCC comprou 80% da Concremat Engenharia, por R$ 350 milhões, e está em processo final para assumir o projeto do porto intermodal da WTorre, em São Luís, no Maranhão. Os chineses também têm interesse nas ferrovias Transnordestina - já sinalizou ao governo - e na Norte-Sul. Procurados, representantes da CCCC não comentaram.

Reestruturação
A construtora, fundada em 1939 por Sebastião Camargo, que deu início ao império da família, foi a primeira a admitir participação nos esquemas de cartel e propina na Petrobrás e setor elétrico. O grupo também teve o nome envolvido na Operação Castelo de Areia, deflagrada em 2009 e que investigou crimes financeiros e de lavagem de dinheiro. A terceira geração da família está à frente de um amplo processo de reestruturação e nova governança do conglomerado, que migrou de um modelo de grupo empresarial para se tornar uma holding gestora de portfólio de empresas investidas.

Além de procurar um sócio minoritário para a Loma Negra, da InterCement, braço do grupo no setor de cimento, a Camargo também pode vender a participação de 50% no Estaleiro Atlântico Sul (EAS). O empreendimento, em sociedade com a Queiroz Galvão, tem uma dívida de cerca de R$ 2,5 bilhões e está em reestruturação. "Todos os estaleiros no País estão à venda, mas ninguém vai comprar nada neste momento", disse outra pessoa a par do assunto. O grupo vai passar a investir mais em empreendimentos imobiliários.

Contratos
"Na Andrade, tudo que não faz parte do core business da empresa está à venda", afirmou uma fonte próxima da companhia. É o caso da PPP do Sistema Produtor São Lourenço, que também já despertou interesse da CCCC, e participação em empresas de energia, como a Cemig e Hidrelétrica Santo Antônio.

Com os ativos à venda, a companhia tenta se concentrar na busca de novos serviços. No ano passado, a empresa mineira, criada em 1948, conquistou dois novos contratos: de R$ 2 bilhões, para construir linhas de transmissão, e de R$ 100 milhões, para duplicar uma estrada no interior de São Paulo. Neste ano, conseguiu dois contratos de US$ 300 milhões para construir duas plantas industriais na Argentina.

A empresa, multada em R$ 1 bilhão pelo esquema de corrupção, também disputa alguns contratos importantes, como uma duplicação de rodovia no Paraná, da CCR - empresa da qual é sócia com a Camargo - e de uma barragem de rejeitos. "Ainda é muito pouco para uma construtora do tamanho da Andrade, mas é uma notícia boa no meio de tantas ruins", afirmou uma fonte do setor. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo. Renée Pereira e Mônica Scaramuzzo Leia mais em mackenziesolucoes 19/02/2017 

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