Analistas estrangeiros e domésticos chegaram ao fim de 2016 com pelo menos uma convicção: os ativos brasileiros dificilmente repetirão no ano que se inicia os expressivos desempenhos dos últimos 12 meses. Essa expectativa vale especialmente para a taxa de câmbio, que se valorizou quase 20% em 2016, a maior alta entre os principais mercados. O dólar encerrou o ano cotado a R$ 3,2506.
Se ao longo dos últimos meses o mercado local assumiu uma postura mais otimista com a realidade doméstica em comparação a investidores estrangeiros, a percepção é de alguma convergência nas últimas semanas com analistas baseados no Brasil começando a fazer mais ponderações sobre o encaminhamento do processo de correção das contas públicas. Santander, Itaú Unibanco, BTG Pactual e Bradesco recentemente revisaram para cima suas projeções para o dólar, aproximando-as de estimativas mais altas de casas de fora.
"Não está no preço uma não aprovação das reformas", afirma o gestor sênior de câmbio da Absolute Investimentos, Roberto Campos, numa indicação da assimetria de riscos para o mercado brasileiro no ano que vem. Campos tem como cenário base um dólar "acima" de R$ 3,50 até o fim do ano, mas essa taxa já embute o efeito positivo do encaminhamento de reformas econômicas e fiscais, como a da Previdência.
A expectativa de desvalorização do câmbio em 2017 também está ligada, segundo analistas, a uma questão de patamar de preço, já que grande parte da apreciação do real de 2016 teve espaço a partir do tombo de 30% do ano anterior.
Além disso, tudo indica que o ambiente internacional mais positivo para as moedas emergentes - em meio ao tom "dovish" (inclinado ao afrouxamento) que o Fed vinha mantendo - não se repetirá em 2017, sobretudo caso o presidente eleito americano, Donald Trump, fortaleça suas políticas inflacionárias, levando o BC dos EUA a elevar mais fortemente os juros.
Enquanto algumas instituições financeiras no Brasil revisaram para cima suas projeções para o dólar, estrangeiras mantiveram suas estimativas, que já eram mais elevadas. Os bancos Brown Brothers Harriman e Julius Baer, por exemplo, estimam dólar a R$ 3,65 e R$ 3,90 no fim de 2017, respectivamente. Ou seja, esperam que o real possa sofrer uma depreciação ao longo do ano que apague quase todo o ganho de 2016.
Entre as casas locais, o BTG Pactual elevou de R$ 3,30 para R$ 3,35 a expectativa para o dólar no fim de 2017. O Bradesco aumentou a projeção de R$ 3,30 para R$ 3,45, citando especialmente a mudança de cenário derivada do resultado da eleição americana. Nos cálculos de Andréa Bastos Damico, especialista em câmbio do Departamento Econômico do Bradesco, nos atuais patamares, em torno de R$ 3,25 por dólar, o real já está acima do que seria seu valor justo - que considera nível de prêmio de risco e taxas dos Treasuries (títulos do Tesouro americano). O patamar justo, segundo ela, seria de R$ 3,39, considerando uma taxa de 2,50% para o Treasury de dez anos. Se a taxa do papel americano subir a 3,50% ao fim de 2017, o patamar juro para o real vai para R$ 3,65.
Nos dias seguintes à eleição de Trump nos EUA, o Itaú Unibanco revisou de R$ 3,50 para R$ 3,60 a estimativa para a cotação do dólar para o fim de 2017. Em recente revisão de cenário Brasil, o banco manteve essa projeção, reiterando o impacto das eleições americanas sobre o desempenho de moedas emergentes em geral. A expectativa de aprovação das reformas domésticas e de melhora adicional dos preços das commodities tendem, no máximo, a limitar a depreciação do real, na opinião da área de pesquisa do banco.
Outro fator que reforça dúvidas sobre a força do real em 2017 é a esperada queda no diferencial de juros. A expectativa de aumentos adicionais de juros nos Estados Unidos se mantém num momento em que o Banco Central do Brasil caminha para acelerar o processo de alívio monetário, reduzindo o diferencial de taxas favorável ao câmbio doméstico. Essa queda na atratividade do real já é mostrada no mercado a termo de moedas no exterior, em que são negociados contratos de NDF de real.
"Isso certamente vai pressionar o real no ano que vem", diz o economista do Banco Votorantim Carlos Lopes, que prevê dólar a R$ 3,50 no fim de 2017.
Do lado doméstico, Lopes avalia o ambiente político como "propício" a reformas, mas reconhece que a recessão econômica e a "frágil" estabilidade em Brasília jogam contra o real.
O chefe do departamento de pesquisa econômica do Goldman Sachs para a América Latina, Alberto Ramos, mostra mais ceticismo com a "lua de mel" com o governo, sentimento comum a outras casas estrangeiras. "Essa lua de mel está se esgotando num momento em que o Fed pode ser mais agressivo no aumento de juros e o dólar deve continuar forte no mundo. Isso fará com que o desempenho do real nem de longe se pareça com o de 2016", afirma. O Goldman espera o câmbio a R$ 3,45 por dólar até o fim de 2017. - Valor Econômico Leia mais em portal.newsnet 02/01/2017
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