As chances da inflação deste ano ficar dentro da margem de tolerância da meta perseguida pelo Banco Central (BC) cresceram ontem após o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informar que Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo - 15 (IPCA-15) registrou alta de 0,19% em dezembro.
Segundo economistas, o quadro favorece cortes mais fortes na taxa básica de juros, a Selic, hoje em 13,75% ao ano.
O número de dezembro surpreendeu.
Analistas do mercado financeiro ouvidos pela Agência Estado esperavam que o IPCA15, uma prévia do índice oficial usado na meta do BC, ficasse entre 0,21% e 0,40%. A alta de 0,19% foi também a menor variação para meses de dezembro desde 1998.
No ano, o IPCA-15 fechou com alta de 6,58%, quatro pontos porcentuais abaixo dos 10,71% de 2015. Para a economista Maria Andréa Parente Lameiras, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a inflação perdeu fôlego de forma mais intensa a partir de setembro, quando terminou o efeito da “forte alta” dos preços dos alimentos, vista desde o início do ano, marcado pela seca provocada pelo El Niño.
O grupo Alimentação e Bebidas teve deflação de 0,18% no IPCA-15 de dezembro, a quarta variação negativa seguida. O IBGE destacou as baixas do feijãocarioca (-17,24%), da batatainglesa (-15,78%), do tomate (-10,58%) e do leite longa vida (-5,40%).
Mesmo assim, o alívio só anulou uma parte da forte alta do primeiro semestre. No ano, a alimentação teve alta de 9,15%.
“Mesmo com as boas notícias desse último trimestre, a alimentação ficou em um patamar muito alto no acumulado em 12 meses pelos choques de oferta do ano”, disse Márcio Milan, da consultoria Tendências.
Perspectiva. Economistas avaliam que esse processo seguirá, por isso, haverá espaço para o BC reduzir os juros de forma mais acelerada. O economistachefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, prevê 4,78% para o IPCA no próximo ano e já avalia que a inflação deixou de ser um problema.
“Em janeiro de 2016 o IPCA foi de 1,27% e, em fevereiro, ficou em 0,90%, inflação muito alta que não irá se repetir em 2017 e ajudará na forte queda do acumulado em 12 meses ao longo do primeiro semestre”, disse o economista-sênior do banco Haitong, Flávio Serrano.
Serrano e o analista Luiz Fernando Castelli, da GO Associados, já falam em corte de 0,75 ponto na Selic, a partir de fevereiro.
“O BC tem espaço para cortar a Selic em 0,50 ponto porcentual em janeiro e, apesar do conservadorismo, pode haver um corte de 0,75 em fevereiro”, disse Castelli.
Por outro lado, Milan, da Tendências, avalia que as incertezas no campo político e externo farão que o BC mantenha tom cauteloso e não intensifique o corte no juro. “Há muitos fatores contrabalançando a aposta em 0,75 ponto”, disse.
A pesquisadora do Ipea, vê mais riscos no exterior, como uma alta no dólar na esteira de medidas que podem ser tomadas pelo governo do futuro presidente dos EUA, Donald Trump. Também o recente acordo entre os produtores de petróleo pode gerar uma alta nos preços domésticos dos combustíveis, lembrou. No dia 5, a Petrobrás reajustou preços nas refinarias, mas a gasolina caiu 0,35% no IPCA-15 de dezembro.
A alta não foi captada por causa do período de coleta.- O Estado de S.Paulo Leia mais em portal.newsnet 22/12/2016
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