20 dezembro 2016

Com atividade mais fraca, ano termina melhor do que começou

O ano de 2016 termina pior do que começou se observadas as projeções para a atividade econômica, mas bem mais promissor se a ótica for a previsão dos analistas para a inflação. A mudança no comando do Banco Central, com a chega da Ilan Goldfajn, ajudou na retomada da ancoragem das expectativas, mas a própria piora da atividade econômica colaborou com o aumento menos intenso dos preços.

Depois de terminar 2015 em 10,67%, o maior valor desde 2002, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deve fechar o ano em 6,49%, de acordo com o Boletim Focus desta semana. No início do ano, essa mesma projeção chegou a superar os 7%. Caso esse cenário se confirme, a inflação oficial voltará para baixo do teto da meta (6,5%). Isso desobrigaria o Comitê de Política Monetária (Copom) a enviar uma carta para o Ministério da Fazenda explicando as razões para o estouro do teto.

Mesmo assim, pressionada, entre outros fatores, pelo câmbio, as expectativas de inflação chegaram a sofrer alta no primeiro semestre. A estimativa para o dólar no fim deste ano passou de R$ 4,20 para R$ 4,40 entre o último dia de 2015 e fevereiro. No mesmo período, a expectativa de inflação passou de 6,87% para 7,62%. A partir daí, ambos começaram a cair, com o câmbio ficando em R$ 3,38 na última edição do Focus.

O ano ficou marcado principalmente pelo aprofundamento da crise econômica, que só deve exibir alguma recuperação em 2017 - e ainda assim menos intensa do que a esperada anteriormente. Em 31 de dezembro de 2015, o Boletim Focus apontava que o PIB cairia 2,95% em 2016 e teria alta de 1% em 2017. No relatório divulgado ontem, o penúltimo do ano, o Focus estima, respectivamente, retração de 3,4% e crescimento de 0,58%.

Depois de atingir o seu nível mais baixo no fim de abril, as previsões para a atividade esboçaram recuperação, à medida que se confirmava o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Mas a expectativa de uma atenuação da crise foi embora nas últimas semanas, assim que ficou claro que a esperada melhora estava, naquele momento, baseada principalmente na alta dos índices de confiança. "Esse foi um erro quase generalizado dos economistas", diz Juan Jensen, sócio da 4E Consultoria.

Em cinco meses, entre o fim de abril e de setembro, a mediana do Focus para o PIB deste ano atingiu os valores mínimo e máximo, passando de retração de 3,89% para 3,14%. Para 2017, o resultado variou praticamente no mesmo período, indo de alta de 0,2% para 1,36%. No entanto, conforme a retomada se mostrava cada vez mais distante, por causa de fatores diversos como o rombo fiscal, os juros altos, o endividamento das famílias e empresas e as incertezas políticas, as expectativas foram se deteriorando. Entre o fim de outubro e meados de dezembro, a mediana do crescimento esperado do PIB caiu mais do que pela metade, passando de 1,30% para 0,58%.

"A recuperação da confiança não se traduziu em recuperação econômica", diz Jensen, que calcula um carregamento estatístico de 0,75% entre o terceiro e o quarto trimestre deste ano. Ou seja: caso a economia se mantenha entre outubro e dezembro no mesmo patamar de setembro, haverá um recuo de 0,75% em relação a todo o terceiro trimestre.

"A saída da crise será lenta. Além da necessidade de reformas estruturais e de austeridade fiscal, o setor privado passa por um processo de desalavancagem, o que não rima com uma recuperação rápida", diz a equipe econômica do Banco Safra em relatório.

Acompanhando as quedas esperadas para inflação e atividade, as estimativas para taxa Selic também tiveram retração. Entre o fim de 2015 e o último boletim, elas passaram de 15,25% para 13,75% neste ano e de 12,5% para 10,5% em 2017. Para 2018, houve melhora nas expectativas para a atividade. No fim do ano passado, o Focus apontava um crescimento da economia de 1,8%; agora, indica alta de 2,3%.

Para a inflação, desde o fim de julho o mercado espera que o IPCA esteja no centro da meta (4,5%) daqui a dois anos. Já a Selic deve ter recuo mais modesto em 2018 após a queda esperada para o ano que vem, ficando em 9,88%, de acordo com o último boletim. O mercado estima ainda que o dólar termine 2018 em R$ 3,50. - Valor Econômico Leia mais em portal.newsnet 20/12/2016

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