Estratégia é oferecer sistemas completos de assistência à direção
Durante o salão de veículos comerciais (IAA) de Hannover, na Alemanha (22 a 29 de setembro), a ZF reafirmou sua estratégia de ampliar sua atuação como fornecedor de sistemas completos de assistência à direção para caminhões e ônibus. Para isso, a empresa alemã foi às compras com bastante apetite nos últimos tempos. Há um ano, concluiu a compra da companhia americana TRW por US$ 11 bilhões, ganhando assim competência na área de sensores, radar veicular, atuadores mecatrônicos e direção, que já está usando com intensidade em seu Innovation Truck mostrado no IAA. Nessa rota, a companhia também fechou acordo de parceria com a Wabco para desenvolver um sistema de frenagem automática com desvio de obstáculos em caso de necessidade. Em agosto foi comprada participações acionárias de 40% na Ibeo, especialista na tecnologia LIDAR (sensor de distância a laser), e na empresa indiana de softwares doubleSlash. Agora a mira da ZF está voltada para a Haldex, fabricante sueca de sistemas de freios e suspensões pneumáticas para veículos pesados e carretas.
O objetivo de tantas aquisições é bastante claro: a ZF pretende ser um dos maiores (senão o maior) entre os fornecedores de tecnologias de alta complexidade que vão mover os caminhões e ônibus de um futuro não muito distante, que começa a se mostrar por meio de funções automatizadas de direção, aceleração, frenagem, navegação, conectividade e propulsão elétrica, cada vez mais presentes nos veículos comerciais pesados. “Para oferecer soluções completas de assistência à condução precisamos integrar todos esses sistemas. Nossos clientes seguem as megatendências da indústria rumo à eletrificação, direção autônoma e conexão total para reduzir consumo e aumentar a eficiência logística de seus veículos. Nós precisamos seguir esse mesmo caminho. Com os nossos produtos, atendemos às grandes tendências de automatização, integração, segurança e eletrificação. É isso que garantirá nosso futuro”, disse Stefan Sommer, CEO da ZF, em sua apresentação no IAA.
Os alvos dessa estratégia tecnológica relatada por Sommer são sistemas de inteligência artificial que enxergam, analisam e agem com pouca interferência humana, resumidos pela empresa no slogan “ver, pensar, agir”. Isso envolve centrais de gerenciamento com enorme capacidade processamento e análise de dados, com funções de autoaprendizagem (self learning), e atuadores mecatrônicos.
INNOVATION TRUCK
Boa parte dessa visão está embarcada no Innovation Truck da ZF apresentado no IAA, que tem sensores por todos os lados para monitorar a rota (é o “ver”), computadores de alta velocidade para avaliar essas informações (é o “pensar”) e atuadores que dirigem o veículo dentro da faixa de rodagem sem que o motorista precise por as mãos no volante, executam frenagem e desvios automáticos de emergência e até fazem manobras autônoma de estacionamento em uma doca com um simples clique no tablet (é o “agir”). “Com a nossa orientação tecnológica, podemos abranger todos os principais aspectos da condução autônoma e fazer com que os veículos tenham características humanas – esse é o nosso grande diferencial”, explica Sommer.
Basicamente, o Innovation Truck apresenta três funções de condução semiautônomas. O primeiro é o programa de manobras evasivas (EMA, na sigla em inglês), um projeto que a ZF desenvolveu em parceria com a Wabco, que conduz de forma automática caminhões puxando semirreboques em situação de risco, acionando os freios e a direção para desviar de algum obstáculo à frente e assim evitar colisões. O sistema de direção assistida em rodovias Highway Driving Assist (HDA) mantém o caminhão na faixa de rodagem e conserva a distância adequada de segurança do veículo à frente. O terceiro recurso é usado em terminais de carga e descarga: o SafeRange conecta o veículo ao terminal por meio de sensores e estaciona sozinho o caminhão na doca desejada, evitando colisões na manobra e reduzindo os tempos de parada.
A tudo isso se junta a mobilidade elétrica e híbrida, antes uma exclusividade de vans e caminhões de pequeno porte, que agora está migrando para os modelos semipesados e pesados que precisam fazer entregas em cidades e, ao mesmo tempo, cumprir com legislações de emissões cada vez mais restritivas em países da Europa e América do Norte. De olho em mais esta tendência, a ZF criou uma divisão de eletromobilidade para concentrar o desenvolvimentio de novos sistemas elétricos de propulsão. Mas a empresa já atua nessa área com alguns motores elétricos para caminhões, presentes tanto em seu Innovation Truck (para manobras de estacionamento sem emissões), como em protótipos de caminhões elétricos que foram apresentados no IAA pela Mercedes-Benz e MAN.
A ZF estima que o mercado de veículos híbridos ou totalmente elétricos deverá crescer sete a dez vezes até 2025. “Faremos parte desse crescimento e definiremos o mercado com as nossas competências no campo da integração de chassis, driveline e sistemas eletrônicos”, disse Sommer. “Estamos começando a atender as megatendências do mercado. Já demos grandes passos com a TRW e iremos além”, completou. A ZF estima que seu faturamento chegue a € 35 bilhões este ano, com rentabilidade média de 6% sobre as vendas.
DISPUTA PELA HALDEX
Para complementar sua gama de atuadores na área de freios para veículos comerciais e carretas, a ZF apresentou este mês uma oferta de € 553 milhões para adquirir o controle da sueca Haldex, cotada na Bolsa de Valores de Estocolmo. A empresa alemã já tem participação de 21,2% na Haldex e disputa a compra com a também alemã Knorr-Bremse, que oferece € 580 milhões.
A disputa deve ser decidida no início de outubro, mas mesmo oferecendo um pouco menos a ZF leva vantagem, pois o conselho de administração da Haldex aconselhou os acionistas a aceitar esta proposta e recusar a da Knorr-Bremse. Isso porque a ZF já tem liberação das autoridades de regulação da concorrência de mercado, pois seus produtos não competem, enquanto a Knorr-Bremse teria maior dificuldade para aprovar a aquisição, pois também é fabricante de sistemas de freios para veículos comerciais e a compra da Haldex, neste caso, aumentaria a concentração de mercado.
“Gostaríamos de concretizar esta aquisição, o que também acreditamos que seja o desejo da Haldex”, disse Sommer durante a coletiva de imprensa da ZF em Hannover, no IAA. O CEO da Haldex, Bo Annvik, também presente, confirmou: “Vemos a proposta da ZF como uma aquisição amigável. Não temos produtos em comum e por isso não há risco (de as autoridades antitruste vetarem a compra)”, disse. A Haldex tem oito linhas de produtos e oito fábricas no mundo (inclusive no Brasil). Em 2015 o faturamento somou € 498,6 milhões e o lucro líquido chegou a quase € 20 milhões. PEDRO KUTNEY, AB | De Hannover (Alemanha) Leia mais em automotivebusiness 26/09/2016
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