O investimento chinês no Brasil deve crescer nos próximos anos, afirmaram especialistas entrevistados pelo DCI. Nos últimos dias, os asiáticos anunciaram o envio de aportes bilionários ao País.
"A China vê que existe uma boa janela de oportunidade: o Brasil está precisando de mais investimentos externos e tem um governo que promete ser mais aberto ao exterior", afirmou Ivan Fernandes, professor de políticas públicas da Universidade Federal do ABC (UFABC).
O especialista ressaltou que, para atrair investidores, as taxas de retorno em negociações com países em crise costumam ser altas. "E, no caso do Brasil, essas apostas estão fadadas a serem lucrativas, já que a recessão é temporária e há uma grande demanda por infraestrutura no País", acrescentou ele.
O professor de economia da Fundação Getulio Vargas (FGV), Mauro Rochlin, seguiu a mesma linha. "Existe uma tendência de avanço para o investimento chinês, mas não tanto por fatores políticos", defendeu.
Segundo ele, os asiáticos buscam reforçar uma "relação estratégica" com o Brasil, já que o País tem grande relevância nas áreas de commodities e recursos naturais.
O entrevistado indicou também que os setores de infraestrutura, energia, logística e comunicação devem ser os mais beneficiados por aportes chineses.
Por outro lado, foi demonstrada cautela em relação ao valor que deve ser enviado. "Já aconteceram anúncios de investimentos no Brasil que não se concretizaram da forma esperada", destacou Antônio Correa de Lacerda, professor de economia da Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP).
Negócios
Na tentativa de atrair investidores chineses para o Brasil, especialmente na área de infraestrutura, o governo apresentou em Xangai, na semana passada, um "cardápio" de oportunidades que devem demandar aportes de US$ 269 bilhões até 2019.
Entre os setores que vão precisar de investimentos, e que devem ser concedidos à iniciativa privada, estão petróleo e gás, energia, ferrovias, telecomunicações, estradas, saneamento básico e aeroportos.
A atração de investimentos chineses para projetos de infraestrutura no Brasil foi um dos pontos centrais da visita que o presidente Michel Temer iniciou na última sexta-feira.
Em evento que reuniu cerca de 100 empresários brasileiros e 250 chineses em Xangai, alguns aportes já foram anunciados. A CBSteel oficializou um acordo de US$ 3 bilhões (R$ 9,75 bilhões) para siderurgia no Estado do Maranhão.
Além disso, a China Communications Construction Company (CCCC) informou uma inserção de US$ 460 milhões (R$ 1,5 bilhão) em terminal multicargas em São Luís (MA). A Hunan Dakang disse que investirá US$ 1 bilhão (R$ 3,25 bilhões) em agricultura. E a Embraer fechou a venda de pelo menos quatro aviões para dois grupos chineses.
A construtora Camargo Corrêa, uma das maiores do País, também estaria na mira dos asiáticos. A CCCC seria um dos potenciais compradores da empresa, que também despertaria o interesse de companhias europeias.
Para Fernandes, a aquisição seria positiva para o mercado brasileiro. "A Camargo Corrêa foi muito afetada pela Lava Jato e já não tem a mesma força de antes. Além disso, uma abertura maior do setor para estrangeiros pode ampliar o investimento e também melhorar a capacidade tecnológica no País", considerou.
Já Lacerda afirmou que outros grupos "fragilizados" pela crise econômica e por esquemas de corrupção podem ter ativos comprados pelos chineses. "Alguns desses investimentos já estão acontecendo e podem ocorrer mais vezes", apontou o especialista.
Baixo investimento
Ainda que na primeira colocação entre os maiores parceiros comerciais do Brasil, os chineses ainda não uma têm tradição tão grande no que diz respeito a investimentos.
Em 2016, por exemplo, o gigante asiático aparece apenas na décima oitava posição entre os países que mais fizeram aportes em participação no capital de empresas brasileiras.
De acordo com o Banco Central (BC), foram recebidos US$ 305 milhões da China em sete meses deste ano. Países de menor expressão econômica, como Suécia e Chile, apareceram à frente dos asiáticos.
"Isso também tem a ver com o momento econômico dos chineses", disse Fernandes. Segundo ele, os asiáticos têm expandido seus aportes em outros países além do Brasil.
"Foi enviado um grande volume de recursos para a África e há algumas outras tentativas de inserção em países sul-americanos. Esse movimento também visa uma ampliação de poder em áreas sob maior influência dos Estados Unidos", explicou.
Rochlin também mencionou questões geopolíticas para justificar a inserção crescente dos chineses no exterior. "Eles querem ampliar a presença em locais que oferecem maior acesso a matérias primas estratégicas, como o petróleo." Para o entrevistado, esse seria o motivo do investimento chinês em países como a Angola.
Ressalvas
Os especialistas ainda defenderam um melhor planejamento, no Brasil, em relação aos recursos estrangeiros.
"Esses aportes podem ser algo positivo se garantirem benefícios para o País, por isso é importante que haja contrapartidas que evitem uma desnacionalização muito intensa. Isso poderia gerar perda de empregos para o exterior e recuo acentuado na produção nacional", disse Lacerda. - DCI Leia mais em portal.newsnet 06/09/2016
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