Namoro virtual. Lâminas de barbear online. Leite de amêndoa. Xampu de óleo de argan. Até aqui, nada fora do comum para os jovens clientes de hoje -- mas esses itens marcam uma mudança nos hábitos de compra que é um pesadelo para as tradicionais gigantes dos segmentos de consumo, lazer e mídia.
A solução preferida para se adaptar à nova geração? Fusões e aquisições caras. Aliás, é provável que essa seja a única solução.
Na segunda-feira, a emissora alemã ProSiebenSat.1 se tornou a última empresa a adquirir um negócio voltado aos jovens. Ela fechou a compra de uma participação majoritária do site de encontros Parship Elite.
O negócio avalia o site de namoro em cerca de 300 milhões de euros (US$ 335 milhões) incluindo dívidas, ou 12 vezes o Ebitda dos próximos 12 meses. A proprietária da Parship, a empresa de private equity Oakley Capital, vai colher mais de três vezes o investimento original em menos de dois anos.
A reação imediata dos analistas foi levantar dúvidas sobre o preço. A DZ, por exemplo, classificou o acordo como caro.
Mas essa história é conhecida. Em julho houve uma série de negócios fechados pelo impulso das grandes corporações por recuperar o tempo perdido em relação aos gostos desses consumidores.
A gigante francesa fabricante de iogurte Danone fechou a compra da WhiteWave, empresa dos EUA que produz alternativas aos lácteos, por US$ 10 bilhões -- um acordo amplamente criticado porque não deve cobrir seu custo de capital por possivelmente seis anos.
A Johnson & Johnson adquiriu a Vogue International, fabricante do xampu OGX, por US$ 3,3 bilhões -- impressionantes 29 vezes o Ebitda nos últimos 12 meses. E a Unilever pagou um total reportado de US$ 1 bilhão pela Dollar Shave Club, outro negócio caro se avaliado pelas métricas convencionais.
Será que essas velhas e desajeitadas corporações estão cometendo um grande equívoco -- assim como algumas companhias tradicionais pagaram altas quantias por qualquer empresa que tivesse pontocom no nome em 1999?
O fato é que elas estão em um beco sem saída.
A alternativa à compra dessas novas empresas está no desenvolvimento interno. Os acionistas poderiam se perguntar se essas multinacionais, com seus vastos recursos financeiros e laboratórios de pesquisa e desenvolvimento, não são capazes de criar uma marca de xampu por conta própria gastando a mesma coisa.
Infelizmente, a resposta é apenas "talvez", e, em caso afirmativo, apenas depois de bastante tempo. As empresas consolidadas estão começando tarde e normalmente não têm a cultura de criar esses negócios. Mesmo se o sucesso fosse garantido, as startups simplesmente continuariam crescendo e crescendo no período.
A Parship resume a situação perfeitamente. Uma grande fatia de seus clientes está na faixa dos 30 anos -- e a idade está caindo. É nesse espaço que a geração Y que atualmente está flertando por meio de aplicativos como o Tinder poderia acabar quando quiser uma relação estável.
A ProSiebenSat parece ter um plano para o desenvolvimento de suas plataformas digitais, em parte por meio de fusões e aquisições. A empresa fechou acordo para a compra da agência de viagens sueca Etraveli Holding por cerca de 235 milhões de euros em outubro.
Com pouco menos de 50 por cento da Parship em posse da Oakley e de sua diretoria, a cultura empreendedora deverá sobreviver intacta. Como bônus, a ProSiebenSat pode fazer propaganda do site por meio de propagandas na televisão.
Isso deverá ajudar a empresa a evitar o destino da ITV, que pagou 170 milhões de libras pela rede social online Friends Reunited em 2005. Cinco anos depois, a emissora britânica vendeu o site por 25 milhões de libras e posteriormente a página fechou.
As grandes blue chips têm acesso a recursos baratos e precisam resolver mudanças nos hábitos dos consumidores que parecem ter chegado para ficar. Entre os empreendedores que entendem a geração Y, não faltam rotas de saída para seus negócios.
Esta coluna não reflete necessariamente a opinião da Bloomberg LP e de seus proprietários. Chris Hughes (Bloomberg) -- Leia mais em bol.uol 05/09/2016
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