15 agosto 2016

Sócios e acionistas da Compactor brigam na Justiça

Compactor: acionista alemão afirma que empresa não tem prática de governança

Os acionistas da Canetas Compactor, de Nova Iguaçu (RJ), empresa nacional produtora de canetas, lapiseiras e marca textos, estão em pé de guerra.

Desde março do ano passado, o novo sócio da companhia, a alemã Edding International, tenta na Justiça do Rio ter uma participação mais ativa no negócio e questiona a postura dos herdeiros em relação às finanças do grupo, apurou a reportagem.

Os desentendimentos entre os sócios começaram três meses após a Edding comprar 26,2% da companhia, fatia que pertencia a Dieter Buschle, sobrinho do fundador da companhia, Erich Buschle.

Os dois chegaram no Brasil, nos anos 50, saídos da Alemanha, em busca de oportunidades após a Segunda Guerra Mundial.

A Edding, companhia produtora de canetas e marca textos, também de origem alemã, com capital aberto no seu país de origem, comprou a participação de Dieter Buschle em dezembro de 2014, que tinha uma fatia minoritária na companhia.

Poucos meses depois, a empresa passou a pedir maior detalhamento dos dados financeiros para os três filhos e herdeiros diretos de Erich Buschle, falecido em 2015.

Em um mercado dominado por multinacionais - como a alemã Faber Castell, a francesa BIC e a japonesa Pilot -, a Canetas Compactor é a quarta do setor de papelarias no País, de acordo com dados levantados pela Euromonitor.

O segmentos de papelaria, no qual as canetas estão inseridas, movimenta cerca de R$ 3,5 bilhões por ano.

Litígio

Fontes próximas à Edding afirmaram que os herdeiros não se mostraram receptivos a passar os dados da companhia, que não tem prática de governança corporativa.

Esse foi o estopim para o início do litígio que corre no Tribunal de Justiça de Nova Iguaçu. Desde então, o que se vê é uma troca de acusações.

De um lado, a Edding argumenta que a gestão da companhia não é profissionalizada - a empresa entrou com processo administrativo contra os controladores. Os balanços referentes a 2014 e 2015 aprovados nas assembleias gerais também foram questionados.

Como não participa diretamente da gestão da Compactor, a Edding indicou o executivo Fabio da Silva Batista para o conselho fiscal da companhia, mas um ano após assumir a função, foi afastado pelos controladores.

Há questionamentos também sobre pagamento de salário mensal para a matriarca da família que não faz parte do corpo executivo da empresa e de despesas pessoais dos herdeiros que seriam pagas pela empresa.

Já fontes ligadas aos herdeiros dizem que há dados do balanço da Compactor estratégicos que não foram passados ao atual sócio por uma questão concorrencial.

"A Edding atua no mesmo segmento que a Compactor", diz uma pessoa ligada aos herdeiros, que preferiu não se identificar. Essa fonte disse que a companhia alemã exigiu a lista dos principais clientes da Compactor, mas essas informações são sigilosas. "Trata-se de abuso de poder de acionista minoritário."

Segundo a mesma fonte, o atual sócio teria pedido um valor "exorbitante" para sair do negócio, que não teria sido aceito pelos controladores. A fatia de 26,2% teria sido comprada, à época, por cerca de ¤ 3,5 milhões, segundo fontes.

A troca de acusações, cujo processo tramita na Justiça de Nova Iguaçu e não está sob sigilo, inclui até distribuição indevida de dividendos, fato questionado pelo novo sócio, uma vez que os resultados da companhia ano passado foram negativos.

Em 2015, o faturamento da companhia foi de R$ 69,3 milhões. A empresa registrou prejuízo líquido de R$ 1,02 milhão.

A disputa societária entre a família Buschle e a Edding tem sido uma prática comum, sobretudo após a crise, com a entrada de investidores em empresas familiares tocadas pela segunda e terceira gerações, afirmaram especialistas ao jornal O Estado de S. Paulo.

Procurado, o advogado André de Almeida, do Escritório Almeida Advogados, que representa a Edding, afirmou que a companhia está tomando todas as medidas cabíveis para defender o acionista minoritário. Já os controladores não quiseram comentar.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo. Mônica Scaramuzzo, do Estadão Leia mais em exame 15/08/2016

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