À medida que os dias de cão de agosto aproximam-se do fim, os banqueiros estão cruzando os dedos, torcendo por um reaquecimento outonal das ofertas públicas iniciais de ações (IPO, na sigla em inglês). Mas isso pode trazer alguma atenção indesejada.
Até agora, foi um ano difícil para os especialistas em mercado de capitais: o ritmo de IPOs diminuiu 61%. A situação é ainda pior na Europa, onde os IPOs caíram 73%. Há, porém, razões para otimismo. Os mercados descartaram o pânico inicial em torno do Brexit, a volatilidade nas bolsas se dissiparam e os bancos centrais estão mantendo as taxas de juros baixíssimas por mais tempo. O J.P. Morgan afirmou que tem mais de 20 IPOs mundiais na fila para setembro.
No entanto, a retomada dos IPOs pode trazer maior fiscalização. Agências regulatórias e gestores de fundos estão pressionando por maior transparência num processo que permanece opaco e carregado de potenciais conflitos de interesse. Uma retomada dos IPOs é, evidentemente, boa notícia para os bancos no curto prazo - mas poderá criar o campo de testes para novas medidas que poderão reduzir suas receitas no longo prazo.
Considere o processo de alocação de investidores que decide quanto cada parte recebe em uma abertura de capital. No Reino Unido, a Autoridade de Conduta Financeira (FCA) publicou estudo condenatório - embora pouco surpreendente - que conclui que bancos tendem a recompensar os maiores clientes com alocações favoráveis e também favorecer "flippers" (compra e revenda de curto prazo) em detrimento de investidores de longo prazo. Isso pode parecer uma pequena parte do processo - mas os bancos ganham mais dinheiro dos investidores do que com as comissões cobradas das companhias emissoras, de acordo com o estudo da FCA.
A autoridade regulamentadora disse que quer melhorar o processo para garantir que mais informações fiquem disponíveis e para assegurar que o mercado "permaneça aberto a entradas e a inovação". Nada disso soa bem para a capacidade dos bancos de ganhar dinheiro em um ambiente já competitivo - especialmente na Europa, onde as comissões cobradas pelos bancos para o gerenciamento de IPOs tendem a equivaler a um terço das praticadas nos EUA.
A fiscalização regulatória também cria a perspectiva de introdução de mais tecnologia e automação num mercado que tem resistido totalmente a tais inovações. Os passos, até agora, têm sido hesitantes: uma associação comercial, a Fix, testou recentemente um sistema automatizado de pedidos de ações em IPOs que envia ordens de compra e recebe alocações eletronicamente. À primeira vista, isso parece puramente uma maneira de evitar erros manuais ou uma trilha complexa de burocracia, mas imagine as futuras consequências da adoção generalizada de uma auditoria de operações eletrônica, transparente e que pode ser rastreada (embora não seja pública).
Um gestor de fundos seria teoricamente capaz de pressionar pela disponibilização de informações mais detalhadas sobre o porque de uma alocação inicial ter sido reduzida mais do que conforme o pedido posterior de um fundo de hedge, por exemplo. Em consequência, isso poderia mudar o comportamento e as receitas de clientes.
É improvável que isso faça com que os banqueiros envolvidos em IPO estejam passando preocupadas noites em claro, por enquanto, e é provável que eles resistam a mudanças drásticas. Eles também já superaram escândalos regulatórios passados: lembram-se do boom no setor pontocom? Maior fiscalização focada nas alocações pode não ser suficiente para forçar uma reestruturação radical ou comprometer as receitas de um serviço que inclui de tudo: de subscrição de risco a avaliações financeiras.
Mas não é preciso ir muito longe para ver o que acontecerá com as receitas depois que automação e transparência começarem a fazer progressos. Os negócios eletrônicos com ações cortaram muita gordura em termos de comissões de corretagem. Os negócios com títulos revelaram-se muito mais resistentes, mas novas plataformas eletrônicas estão ganhando força.
É possível que os IPOs não se submetam a mudanças. Mas se a história servir de guia, os pequenos passos de hoje são o presságio de saltos maiores amanhã. - Valor Econômico Leia mais em portal.newsnet 30/08/2016
Nenhum comentário:
Postar um comentário