Com a economia em frangalhos e os juros nas alturas, as empresas precisam urgentemente de dinheiro. Se não conseguem com os clientes, por meio das vendas, ou com o banco, por meio de empréstimos, resta-lhes buscar um sócio. E é isso que tem motivado a maioria das fusões e aquisições no segmento de médias empresas – aquelas que faturam entre R$ 100 milhões e R$ 300 milhões.
E, como os compradores sabem que tudo o que os vendedores querem é seu rico dinheirinho, estão redobrando as exigências. É o que afirma Marcelo Perlman, sócio do PVG Advogados e especialista em direito societário. Veja os principais trechos da conversa com O Financista:
Financista: Para a KPMG, este foi o pior segundo trimestre para fusões e aquisições desde 2009. O que aconteceu?
Marcelo Perlman: O que notamos é que há um número relevante de negócios iniciados e não concluídos. Um motivo é a deterioração financeira da empresa à venda ao longo da negociação. Outro é a descoberta de contingências no meio do caminho. Tudo isso eleva o risco do comprador e tem impacto direto sobre o preço que está disposto a pagar.
Financista: Os descontos sobre o preço inicial estão maiores devido à crise?
Perlman: Já na largada, os preços estão muito justos, com pouca margem para cortar. O que ocorre é que as empresas estão buscando outras formas de lidar com o preço. Uma delas, por exemplo, é aumentar a retenção daquela parte do valor acordado que só será liberadamediante o cumprimento de certas condições, como o desempenho da empresa ou a evolução das contingências.
Financista: Você disse que as empresas estão mais criativas para fechar os acordos. Como?
Perlman: O que se busca, hoje, são formas de acelerar a injeção de recursos no caixa e de proteger os investidores que se tornam sócios. Um exemplo é a emissão privada de debêntures conversíveis em ações. Nesse caso, os investidores pedem termos mais rigorosos de desempenho da empresa que, se não forem cumpridos, lhes darão o direito de exigir o pagamento antecipado da dívida ou sua conversão em ações.
Financista: O que mais vai estimular os negócios até dezembro: a crise econômica, arrastando outras empresas para o vermelho; ou a volta da confiança, após o impeachment de Dilma?
Perlman: No segmento de middle market, em que a maioria das empresas é familiar, o elemento emocional pesa muito em uma fusão ou aquisição. Por exemplo, os potenciais compradores precisam ter a certeza de que a economia está na direção correta, para aumentar sua disposição ao risco. Eu diria que a crise continuará estimulando os negócios, mas de outro modo: os investidores estratégicos, principalmente do exterior, podem se interessar mais em entrar no Brasil neste momento, porque os preços estão baixos, mas as perspectivas parecem melhorar. O Financista Leia mais em o antagonista 12/08/2016
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