Com a negociação de sua fatia de 66% no bloco BMS8, no pré-sal da Bacia de Santos, a Petrobras atingiu a marca de US$ 4,5 bilhões em venda de ativos desde o ano passado, quando lançou o maior programa desse tipo na sua história, na tentativa de reduzir sua alavancagem. As operações já anunciadas pela empresa equivalem a cerca de 30% da meta de venda de ativos para o biênio 20152016, de US$ 15,1 bilhões.
A venda de Carcará é a primeira negociação anunciada na gestão Pedro Parente, que assumiu o comando da estatal, em junho, pregando o discurso de que aceleraria o ritmo dos desinvestimentos. Iniciada ainda em 2015, sob a direção Aldemir Bendine, a venda do BMS8 é simbólica, não só pelo valor envolvido na operação, mas também por se tratar de uma área no pré-sal, cujo desenvolvimento foi, durante o governo PT, carregado de discursos nacionalistas.
Carcará renderá à Petrobras US$ 2,5 bilhões, embora metade desse montante ainda dependa de certas condições, como a conclusão do processo de unitização do campo. Além do BMS8,
a lista de ativos já vendidos pela empresa inclui a Petrobras Argentina (US$ 897 milhões) e Petrobras Chile (US$ 464 milhões), ambas anunciadas neste ano; e os 49% da Gaspetro (US$ 540 milhões) e os ativos na Bacia Austral, na Argentina (US$ 101 milhões), fechadas no ano passado.
A Petrobras, contudo, está negociando uma série de outros ativos importantes, como a Nova Transportadora do Sudeste (NTS) e o controle compartilhado da BR Distribuidora operação que a companhia estima encerrar até o início do ano que vem. A estatal também já iniciou os processos de venda de 100% da Liquigás; de terminais de GNL e termelétricas associadas; campos terrestres e em águas rasas; e da Petroquímica Suape e da Companhia Integrada Têxtil de Pernambuco (Citepe).
A venda de Carcará foi bem recebida pelo mercado. Na sexta-feira, as ações preferenciais da Petrobras fecharam com alta de 3,76% (R$ 11,87), enquanto as ordinárias subiram 5,02% (R$ 14,01).
Na avaliação do Credit Suisse, o negócio faz sentido para a companhia do ponto de vista estratégico, por ajudar na redução do endividamento e garantir a entrada de caixa no curto prazo. O banco destaca que a produção de Carcará foi adiada no último plano de negócios da Petrobras e que o projeto ainda exigiria desembolsos adicionais até entrar em operação.
O Valor apurou que o desenvolvimento de Carcará custaria algo em torno de US$ 12 bilhões. O custo do projeto é considerado elevado. A própria diretora de Exploração e Produção da Petrobras, Solange Guedes, calcula que a produção no BMS8
teria um custo 25% a 30% mais caro do que o de outros blocos. “Existe uma característica técnica com relação ao ativo, uma ocorrência que faz com que os equipamentos usados aqui não possam ser os mesmos de outras explorações”, disse Solange, em coletiva de imprensa, na sexta.
A previsão de retorno da produção para a carteira da companhia estava prevista para acontecer apenas entre 2020 e 2023.
Já o valor envolvido na negociação de Carcará é controverso. Os US$ 2,5 bilhões anunciados na operação são superiores, por exemplo, à estimativa apresentada ainda em 2015 pelo Bank of America Merrill Lynch para o ativo, de US$ 1,4 bilhão a US$ 2,1 bilhões. A Raymond James, contudo, considerou baixo o valor definido. Segundo a corretora, o valor da venda indica que as reservas recuperáveis foram avaliadas em um preço de US$ 3 a US$ 5 por barril.
“Para um ativo que ainda não está em fase de produção, como esse, acreditamos que foi um valor extremamente baixo para um campo tão ‘premium’ como esse”, disse a Raymond James.
Ainda segundo a corretora, Carcará deveria exercer um papel importante na curva de produção da Petrobras a partir de 2020. A expectativa é que, sem o BMS8, a Petrobras deixará de produzir futuramente entre 462 milhões e 858 milhões de barris de óleo equivalente. Esta é a estimativa equivalente aos 66% que a estatal detém no bloco. Segundo a Statoil, os volumes recuperáveis totais da área são estimados entre 700 milhões a 1,3 bilhão de BOE. Fonte: Valor Econômico Leia mais em ABEGAS 01/08/2016
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