Os investidores não ficaram nem um pouco desapontados com a notícia de que a Mondelez International, que fabrica o chocolate Cadbury e os biscoitos Oreo, desistiu de comprar da Hershey, e ontem levaram as ações da companhia a subir 3,6%.
A Hershey, que também vende os confeitos recheados com creme de amendoim Reese's Peanut Butter Cups, recusou-se a entrar em negociações sem uma oferta de pelo menos US$ 125 por ação - muito acima da oferta inicial de US$ 107. Segundo analistas, Irene Rosenfeld, a ávida CEO da Mondelez, tem opções melhores. A companhia está muito concentrada fora dos Estados Unidos e alguns investidores não ficaram muito animados em comprar uma concorrente que é americana demais num momento de mudança nos hábitos dos consumidores.
"O anúncio [da desistência] é um acontecimento positivo para os acionistas da Mondelez", disse Steven Strycula do UBS. "Desde que as discussões entre a Mondelez e a Hershey ganharam as manchetes dos jornais no fim de junho, a resposta do lado comprador decididamente tem sido negativa." Muitos investidores, acrescentou ele, "viam a Hershey como uma distração e um desvio de um interessante processo de investimentos da Mondelez" nos mercados emergentes e em termos de expansão da margem.
Os investidores da Hershey ficaram menos impressionados. Suas ações caíram 11% para US$ 99,50 ontem. O truste que controla a companhia sediada na Pensilvânia passa por turbulências em meio a mudanças de governança e na diretoria, depois de uma investigação da procuradoria-geral daquele estado. Dadas as circunstâncias, muitos observadores vinham dizendo que um aquisição não seria aprovado.
Strycula disse que a Mondelez, cuja ação era cotada ontem a US$ 44,54 por volta do meio-dia, está sendo negociada a quase 20,5 vezes as estimativas para o lucro por ação de 2017, que estão abaixo das estimativas para o setor de alimentos como um todo, de 22,5 vezes.
As companhias de alimentos e bebidas, incluindo a Mondelez, vêm passando por alguns anos difíceis. A aquisição da Kraft e da Heinz pela 3G sacudiu o setor ao demonstrar o quanto as margens de lucro podem ser melhoradas via cortes de custos.
Ao mesmo tempo, grandes fabricantes de alimentos industrializados estão tendo que lidar com uma revolução nos hábitos de consumo que as têm forçado a reformular suas ofertas e comprar pequenos fabricantes com opções mais saudáveis, ao mesmo tempo em que tentam convencer os consumidores de que às vezes um pouco de indulgência faz bem.
Em um cenário tão desafiador, a Mondelez parece ter três opções claras, depois de voltar atrás na combinação com a Hershey.
A primeira é manter seu apetite por aquisições e sair em busca de outros fabricantes de salgadinhos ou confeitos. Pablo Zuanic, analista da Susquehanna, aponta para possíveis combinações com empresas como a Ferrero da Europa, conhecida por seus chocolates, e a Perfetti Van Melle, fabricante das balas Mentos.
A segunda opção para a Mondelez é comprar fabricantes menores de alimentos, que se encaixem em sua estratégia de vender produtos mais saudáveis. O grupo prometeu gerar metade de suas vendas com 'snacks' mais saudáveis, parcela que é hoje de um terço, em meio ao aumento das pressões reguladoras em todo o mundo para a redução dos níveis de sódio e açúcar nos alimentos.
No comunicado divulgado na segunda-feira, Irene Rosenfeld insinuou que pretende fazer mais negócios. "Embora estejamos desapontados com esse resultado [com a Hershey], continuamos focados em nossa estratégia de criar valor, inclusive por meio de aquisições, e confiantes de que nossa plataforma vantajosa nos posiciona bem para um alto desempenho no longo prazo", disse ela.
Finalmente, a Mondelez poderia se tornar um alvo atraente para um concorrente como a Kraft Heinz, uma possibilidade que está sendo discutida por analistas, em meio a especulações de que a 3G pode estar rondando novamente.
Outros nomes mencionados são os grupos de cereais General Mills e Kellog.
O fundo Trian Partners de Nelson Peltz, que obteve um assento no conselho de administração da Mondelez, parou de incitar uma fusão com a Frito-Lay, a divisão de aperitivos da PepsiCo, mas essa combinação ainda interessa a alguns analistas.
Alexia Howard, analista da Bernstein, escreveu recentemente a investidores: "Uma aquisição da Hershey adiaria qualquer possível fusão entre a Mondelez e a Frito-Lay, que consideramos um alvo muito mais interessante por sua exposição internacional.
Entretanto, para Zuanic, uma combinação com a Kraft Heinz é o resultado mais provável. A Mondelez e a Kraft dividiram-se em duas empresas em 2012, com a primeira se concentrando em "snacks" no mercado internacional. "Uma fusão com a PepsiCo não pode ser descartada, mas vemos isso mais como um tiro no escuro", diz Zuanic. "Mas no final das contas, achamos que a Mondelez acabará sendo comprada pela Kraft Heinz." - Valor Econômico Leia mais em portal.newsnet 31/08/2016
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