Com as atenções do mercado voltadas à bilionária incorporação da Estácio pela Kroton, grupos estrangeiros correm por fora e avançam nas negociações para a compra de universidades brasileiras. Três deles revelaram ao GLOBO seus planos estratégicos. De forma geral, a caçada visa a reforçar a musculatura dos concorrentes, uma vez que a Kroton passará a ter um de cada cinco alunos do ensino superior privado no Brasil, e a carteira do Fies está encolhendo.
A gestora americana de private equity Advent, por exemplo, está em diligência para fechar a compra de duas empresas regionais de ensino superior. Outro interessado neste segmento é o grupo alemão Bertelsmann, que está buscando universidades de gestão familiar. Mais um movimento é a saída da gestora britânica Actis do capital do Grupo Cruzeiro do Sul. A Actis detém 40% da instituição brasileira e já contratou o banco Morgan Stanley para intermediar a venda. Fontes do setor dizem que a Actis também já negocia a aquisição de outros ativos para manter-se no setor de educação.
Enquanto a concorrência se movimenta, Kroton e Estácio avançam na costura da fusão. Em comunicado ao mercado na quinta-feira à noite, as empresas informaram acordo pelo qual ambas podem desistir da fusão se o Conselho de Administração de Defesa Econômica (Cade), órgão regulador da concorrência, impuser restrições que reduzam em 15% ou mais a receita líquida anual combinada, ou impeçam (por alienação ou restrição) o uso da marca Estácio. Aquela que desistir, porém, terá de pagar multa de R$ 150 milhões à outra.
A movimentação dos estrangeiros, para especialistas, consolida uma nova onda de fusões e aquisições no segmento do ensino superior brasileiro. A tendência é concentrar ainda mais o mercado. Levantamento da consultoria Hoper, obtido com exclusividade pelo GLOBO, mostra que, há 13 anos, os 20 maiores grupos educacionais detinham em torno de 14% do mercado, em número de alunos. Ao fim de 2015, eram 12 os principais grupos, que detinham 43,9% das matrículas.
FOCO EM EMPRESAS REGIONAIS
Newton Maia, diretor da Advent em São Paulo, antecipou ao GLOBO que a aquisição das duas empresas com as quais está negociando deve ser anunciada em dois meses. O grupo teve parte do capital da Kroton entre 2009 e 2013, quando saiu do negócio para cumprir a estratégia de permanecer no máximo cinco anos nas empresas. Em 2015, eles voltaram ao setor de educação com a aquisição da Faculdade da Serra Gaúcha.
— Definimos que queremos investir em universidades com qualidade mais alta e atuação regional — diz Maia.
Já o alemão Marc Puskaric, diretor-geral da Bertelsmann, afirma que o grupo está em fase de prospecção de negócio e se diz “bastante flexível quanto às formas de parceria”.
— A Actis não está saindo do setor educacional brasileiro, apenas se reposicionando — esclarece fonte.
De forma geral, os grupos estrangeiros buscam negócios em que a qualidade do ensino vem em primeiro lugar, o que significa mensalidade média mais alta. É uma postura diferente da estratégia das empresas que lideraram as aquisições anteriores, que cresceram muito em número de alunos e também no ensino à distância.
De acordo com a Hoper, entre 2010 e 2014, as “consolidadoras” da onda anterior tiveram um aumento de 5,2% na participação de mercado nos cursos presenciais, atingindo 38,2%. Já no ensino à distância, o avanço foi de 21,8%, chegando a 66,2%.
Outro fator que impulsiona a consolidação é a redução do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies).
— As empresas acabam precisando se juntar para ficarem mais eficientes e conseguirem sobreviver. Ou você quebra ou junta forças. Juntando forças, diminuem os custos de back office e de tecnologia por exemplo. Com dez mil alunos ou um milhão, é a mesma estrutura — explica William Klein, diretor executivo da consultoria Hoper.
As estrangeiras não estão sozinhas no movimento. Carlos Monteiro, da CM Consultoria, aposta que o próximo negócio bilionário do segmento será a venda da Uniseb, braço de ensino à distância da Estácio com 50 mil matriculados. O Cade deve impor que Kroton/Estácio se desfaçam da unidade. À Ser Educacional, que perdeu a corrida pela Estácio, por exemplo, o negócio caberia como uma luva. Outra aposta é a união entre as gigantes paulistanas Unip e Uninove. Leia mais em jornalfloripa 16/07/2016
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