06 julho 2016

Cemig volta a estudar venda da Gasmig

Enfrentando um endividamento elevado com custo cada vez mais alto, a direção da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) voltou a estudar a possibilidade se desfazer da empresa distribuição de gás do Estado, a Gasmig. A estatal mineira precisa fazer caixa e já havia informado seu interesse em sair de ativos onde não tem o controle ou que não fazem parte de seu 'core business'. A empresa não comenta que ativos poderá vender.

O Valor apurou com duas fontes familiarizadas com as discussões que faria mais sentido para a empresa vender a Gasmig do que abrir mão de usinas ou pequenas centrais hidrelétricas (PCHs).

Uma das fontes ouvidas pela reportagem disse hoje que para Minas Gerais o que interessa mais é ter um serviço eficiente de distribuição de gás e que isso não exige necessariamente que o Estado seja dono de uma empresa de gás.

 "É um ativo que interessa a grandes grupos internacionais que vêm esse momento o Brasil como uma grande oportunidade para fazer negócios", disse ao Valor o presidente da Gasmig, Eduardo Andrade. Ele afirmou, no entanto, não ter informações de que a Cemig esteja considerando vender o negócio de gás.

A direção da Cemig ainda não enviou para o conselho de administração um plano sobre o que abrir mão. A ideia inicial da empresa é se desfazer de ativos que não façam parte da sua atividade fim: geração, transmissão e distribuição de energia elétrica. "A Cemig não vai vender PCHs [Pequenas Centrais Hidrelétricas, em um primeiro momento]. Mas outros ativos que não seu foco, sim", disse uma fonte ao Valor.

A Cemig tem 99,57% na Gasmig e 0,43% pertence ao município de Belo Horizonte. Se a ideia de sair da Gasmig prosperar, a estatal e, sobretudo o governador de Minas Fernando Pimentel (PT), terão de lidar com uma questão politicamente delicada.

Esta não é a primeira vez em que a venda da Gasmig entra no radar da Cemig. Em 2014, o governo mineiro buscou um sócio para dividir os investimentos necessários para construção de um gasoduto para alimentar a fábrica de fertilizantes que a Petrobras pretendia construir em Uberaba, no Triângulo Mineiro. A espanhola Gas Natural Fenosa (controladora das distribuidoras CEG, CEG Rio e Gas Natural SPS) manifestou interesse pela distribuidora e chegou a anunciar um acordo para se associar à Cemig em investimentos conjuntos no setor de distribuição de gás.

O plano era que a distribuidora de gás estatal mineira fosse privatizada e absorvida pela nova empresa a ser criada pela Fenosa e Cemig. Essa empresa seria controlada pelos espanhóis.

O governo de Minas - então comandado pelo governador Alberto Pinto Coelho (PP) - tentou facilitar as regras para a privatização. Mas por pressão do PT, que estava na oposição na época, e de sindicatos de trabalhadores, a proposta foi engavetada. "Vamos brigar contra a privatização, qualquer que seja o governo", promete o coordenador geral do Sindieletro, Jefferson Silva.

Com vendas de 3,1 milhões de metros cúbicos diários de gás natural, a Gasmig está entre as dez maiores empresas do mercado de distribuição e é uma das empresas com mais potencial de crescimento no setor. A companhia está apenas começando a desenvolver o mercado em Minas. Segundo Eduardo Andrade, no início de 2015, quando assumiu, a empresa tinha 2 mil clientes residenciais e comerciais e hoje são mais de 7 mil. A meta é chegar ao fim deste ano com 17 mil a 19 clientes e a 80 mil até 2018.

No ano passado, a Gasmig lucrou R$ 117,07 milhões, uma queda de 17% ante 2014, atribuída ao maior dispêndio com juros da dívida. Já as receitas líquidas cresceram 0,9%, para R$ 1,332 bilhão, alavancadas pelo maior consumo das termelétricas, enquanto a geração de caixa pelo conceito Ebitda (lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização) subiu 4,75%, para R$ 213,4 milhões. O resultado em 2015 rendeu aos acionistas uma distribuição de R$ 53,6 milhões em dividendos e juros sobre capital próprio.

Sem citar números, Andrade afirma que o lucro líquido no primeiro semestre de 2016 ultrapassou as previsões.

Sem a venda de ativos, a Cemig continuará desrespeitando as cláusulas contratuais restritivas ("covenants") até 2020, ao menos de acordo com as projeções da própria companhia. No fim do primeiro trimestre, a alavancagem medida pela relação entre dívida líquida e Ebitda estava em 4,39 vezes. O limite previsto no estatuto da empresa é 2,5 vezes.

Projeções apresentadas pela Cemig no fim de maio indicavam que a alavancagem continuará acima de 4 vezes nos próximos anos, a menos que a companhia consiga amortizar dívida com ganhos obtidos com a venda de ativos.

Para 2016, a companhia conseguiu o "waiver" (perdão) desses covenants. No evento de divulgação das estimativas em maio, o diretor de relações com investidores da estatal mineira, Fabiano Maia

Pereira, disse que a Cemig poderá pedir o "waiver" da alavancagem "anualmente" aos credores até que o indicador retorne aos patamares desejados. Pereira admitiu que o endividamento estava elevado e que a rolagem da dívida estava mais cara do que o desejado. "Temos algumas estratégias que vamos começar a aprofundar no segundo semestre, buscando outros potenciais investidores em renda fixa, para que possam contribuir com a rolagem da companhia", disse. Na época, falou também da venda de ativos. "Temos olhado para ativos, fundamentalmente os que não temos controle. O planejamento da companhia é voltar os olhos para eles e colocá-los à venda, obviamente com valores satisfatórios."

O governo mineiro, antes contrário às vendas de ativos, já considera as privatizações para abater a dívida com a União. Em entrevista recente ao Valor, o secretário de Governo, Odair Cunha, disse que essa é uma "possibilidade." - Valor Econômico Leia mais em portal.newsnet 06/07/2016

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