Mais do que nunca, o governo precisa agir rapidamente para restabelecer essa confiança. O recente pacote de medidas anunciado pelo governo interino, com corte de gastos e perspectiva de reforma da Previdência Social, terá impacto positivo significativo caso seja aprovado. É importante ressaltar que, se de um lado as medidas são consideradas extremamente importantes e necessárias, de outro é reconhecida a dificuldade de aprovação pelo Congresso, em função dos sacrifícios de curto prazo que podem implicar.
Paralelamente ao grande desafio político e econômico, temos acompanhado com interesse os casos recentes envolvendo gestão de empresas estatais ou privadas com papéis negociados nas bolsas internacionais, como Petrobrás e Eletrobrás. Na visão do investidor estrangeiro, a incerteza fiscal tem peso dominante. No entanto, ela não pode ser vista como uma questão completamente separada, pois as empresas controladas pelo governo desempenham um papel importante no Orçamento, através de subsídios fiscais e potencial contribuição para a receita do governo, por meio de impostos.
O problema fundamental é que a trajetória atual da dívida pública em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) parece insustentável, o que leva a questionamentos sobre as prováveis mudanças que eventualmente surjam, quer por decisões do governo e do Congresso, ou pela necessidade de manter o acesso aos mercados internacionais de dívida. A situação é alarmante, mas ainda pode haver tempo para aplicar medidas corretivas.
Um ponto favorável ao país é que os ativos estão baratos, o que poderia significar grandes oportunidades. Mas, infelizmente, a maioria dos mercados emergentes também está com os preços mais atrativos.
Um bom exemplo é a Colômbia, que nos últimos 12 meses (referência ao final de maio) a moeda depreciou 22%, enquanto na África do Sul, no mesmo período, declinou mais de 29%. Entre os emergentes, a China é uma exceção importante. Quem compara os ativos chineses com brasileiros enxerga vantagens no país. No entanto, na comparação com outros emergentes, o Brasil empata ou perde se a tese de investimentos for fortemente baseada em aproveitar os preços. Além disso, a moeda fraca faz com que os brasileiros percam poder de compra, tendo mais dificuldade em obter moedas internacionais, tornando alguns produtos e serviços, como compra de produtos importados ou viagens internacionais, pouco acessíveis.
Outra dúvida é se o Brasil vai ou não voltar a crescer, não apenas como uma questão cíclica de curto prazo, mas também como um crescimento potencial de longo prazo.
O mais recente relatório do Fundo Monetário Internacional (FMI), divulgado em abril, estimou uma queda de 3,8% no PIB este ano, contra uma estimativa inicial de 3,5% divulgada em abril. Isto coloca o país entre as seis economias com pior perspectiva para 2016, contra uma contração média de 0,5% para América Latina e Caribe. Assim, em comparação com os mercados emergentes, o Brasil ganhou competitividade com a desvalorização da moeda, mas perdeu em termos de potencial de crescimento.
Vale lembrar que, na comparação com emergentes, o Brasil tem algumas vantagens significativas: seu tamanho relativamente grande, a falta de riscos geopolítico e excelente disponibilidade de recursos naturais, como solo, água e minerais.
Um ponto importante que toma a atenção dos investidores estrangeiros é a insegurança jurídica e tributária. A percepção desses investidores em relação ao país é que as regras no mercado de capitais podem mudar de acordo com a necessidade de arrecadação. Neste momento, há no Congresso projetos de lei que restabelecem Imposto de Renda sobre lucros e dividendos e a retirada de benefícios fiscal para a companhia na distribuição de juros sobre capital próprio, o que aumenta a necessidade de prêmio pelo risco Brasil.
Embora esses investidores estejam habituados a mudanças e complexidade nos códigos fiscais em todo o mundo, o Brasil consegue ser pessimamente avaliado nos dois quesitos. De acordo com a revista "The Economist", o Brasil tem o código fiscal mais complicado do mundo, enquanto os impostos sofrem mudanças contínuas que tornam ainda mais difícil estimar os retornos de diferentes investimentos no país.
Em um ano em que o Brasil também se preocupa em receber a Olimpíada no Rio de Janeiro, vale fazer uma analogia. Se o Brasil fosse um atleta olímpico de corrida de obstáculos, as atitudes que o ajudaria neste momento seriam: planejar, para saber como chegar ao pódio; ter disciplina, para cumprir o planejamento; capacidade de sacrifício, para entender que o esforço vale a pena; eficiência, para fazer mais com menos; olhar para o adversário, para aprender com ele e buscar ser melhor; e segurança jurídica e tributária, pois nenhum atleta chega à final se as regras são mudadas no meio da competição. E melhor, sendo consistente, ético e transparente, a torcida acreditará e o apoiará até o fim. Valentin Carril - Valor Econômico Leia mais em portal.newsnet 24/06/2016
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