A oferta de mais de US$ 5 bilhões feita pela fabricante de eletrodomésticos chinesa Midea Group para adquirir a empresa alemã de robótica Kuka AG fornece novas evidências do crescente apetite da China por negócios no exterior para elevar a competitividade de suas companhias.
A Midea Group informou ontem que ofereceu 115 euros por ação, ou cerca de US$ 130,20, pela Kuka, uma das principais empresas alemãs especializadas na automação industrial. Ela afirmou que quer manter a Kuka em bolsa e que não planeja adquirir seu controle total. Mas, ao informar que estava buscando uma fatia de mais de 30%, ela está obrigada a fazer uma proposta por todas as ações em circulação.
A oferta representa um prêmio de 59,6% sobre a cotação de 72,05 euros da ação da Kuka no fechamento em 3 de fevereiro, um dia antes de a Midea anunciar um aumento de sua participação na empresa alemã para 10,2%. A Midea informou que sua fatia na Kuka estava em 13,5% quando fez a oferta de aquisição.
Em termos de tamanho potencial, qualquer acordo seria uma incursão relativamente modesta em meio a uma série de grandes negócios propostos globalmente por empresas chinesas. Em fevereiro, por exemplo, a China National Chemical Corp. fechou acordo para comprar a empresa suíça de sementes e químicos Syngenta AG por US$ 43 bilhões.
Mas a Kuka é parte de uma constelação de empresas que deram à Alemanha uma vantagem competitiva grande em automação industrial. Longe de ser um nome familiar, mesmo no seu país de origem, a Kuka é uma líder global na fabricação dos chamados robôs articulados. As máquinas podem autonomamente lidar com uma ampla variedade de tarefas nas linhas de produção das fábricas, incluindo soldagem, pintura e montagem. A Kuka, que tem sede em Augsburg, foi fundada em 1898 como uma fabricante de equipamentos de acetileno e concorre hoje com gigantes como a Siemens AG e a ABB Ltd.
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As endinheiradas empresas chinesas estão em uma febre de compras no exterior e já fizeram ofertas para adquirir 20 empresas alemãs este ano, segundo a firma Dealogic.
Essas empresas chinesas estão aumentando o ritmo na compra de companhias estrangeiras, com “alvos cada vez maiores e um aumento no número de transações”, diz Nicolo Salsano, um dos diretores do setor de banco de investimento do Credit Suisse AG na Alemanha e Áustria. A Alemanha parece ser o foco porque abriga um grande número de empresas em setores nos quais as companhias chinesas querem se expandir, como indústria e engenharia, diz Salsano.
Segundo a Ernst & Young, a Alemanha e o Reino Unido foram os principais destinos dos compradores chineses no ano passado. As empresas chinesas compraram ou investiram em 179 companhias europeias em 2015, sendo 36 delas na Alemanha e 34 no Reino Unido, informou a consultoria.
Os alvos na Alemanha são apenas parte da febre de investimentos da China este ano. Além da oferta pela Syngenta, a China National Chemical também comprou a empresa de máquinas industriais KraussMaffei este ano por US$ 1 bilhão.
A Midea foi fundada em 1968 e é hoje uma das maiores fabricantes de eletrodomésticos da China, com mais de 100 mil empregados em todo o mundo. No Brasil, ela opera através de uma joint venture com a empresa de climatização Willis Carrier, atuando como Midea Carrier no mercado de sistemas de ar-condicionado. A empresa informou que a compra ajudaria sua estratégia geral de melhorar suas fábricas e expandi-las para a inclusão de robôs, equipamentos de automação e dispositivos para casas inteligentes.
A Kuka informou que vai avaliar a oferta da Midea.
Mais de 30% das vendas da Midea são feitas fora da China. Como muitas empresas chinesas, ela enfrenta o aumento dos custos trabalhistas, o que acelera sua busca pela automação de suas fábricas.
De fato, a automação é um dos pilares dos esforços da China para levar a segunda maior economia do mundo em direção à manufatura de maior valor agregado. O mercado chinês é o maior e de mais rápido crescimento no setor de robótica. As vendas de robôs industriais na China aumentaram 16% no ano passado em relação a 2014, para 66 mil unidades, segundo a Federação Internacional de Robótica, entidade do setor. Isso se compara a um crescimento de 11% e 9% na América do Norte e Europa, respectivamente. A China foi responsável por 27% dos US$ 32 bilhões da receita global registrados pelo setor em 2014, informou o grupo.
A oferta pela Kuka marca uma mudança de foco da Midea em meio à consolidação do setor de eletrodomésticos, que tem sido golpeado por um aumento da capacidade e pela desaceleração do crescimento global.
Os fabricantes chineses de eletrodomésticos estão indo para o exterior em busca de retornos maiores, maior presença no Ocidente e inovações. A Midea fechou um acordo em março para comprar o braço de eletrônicos de consumo da Toshiba Corp. por 53,7 bilhões de ienes (US$ 491 milhões). A fabricante de eletrodomésticos chinesa Haier Group comprou a unidade de eletrodomésticos da General Electric Co. por US$ 5,4 bilhões.
O acordo com a Kuka leva a Midea para áreas mais sensíveis da tecnologia e poderá enfrentar barreiras de autoridades governamentais.
“Os reguladores na Alemanha e no resto do mundo irão analisar minuciosamente o negócio”, prevê Erik Gordon, professor da Faculdade de Administração Ross da Universidade de Michigan. “Máquinas de lavar não são consideradas tecnologia essencial, mas os robôs são.”
Analistas notaram que as vendas da Kuka na China podem se beneficiar de um acordo com a Midea. Os investidores da Kuka aplaudiram a oferta, fazendo as ações subirem 25% ontem.
A Midea informou em um documento que a oferta está sujeita a uma taxa de aceitação mínima de 30% das ações emitidas pela Kuka.
Segundo a Dealogic, a China está em primeiro lugar no setor de fusões e aquisições este ano e pode superar os EUA no ranking pela primeira vez desde 2007. Por KANE WU, de Hong Kong e EYK HENNING, de Frankfurt Leia mais em thewallstreetjournal 19/05/2016
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