18 abril 2016

Reino Unido registra queda fusões, aquisições antes de referendo

Enquanto a Europa segura a respiração diante da dúvida sobre a permanência do Reino Unido na União Europeia, as empresas seguram seu dinheiro.

Após atingir um recorde em fusões e aquisições para os últimos oito anos, o Reino Unido teve seu pior trimestre desde 2010 em termos de negócios, segundo dados compilados pela Bloomberg. No primeiro trimestre, os investimentos com fusões e aquisições no país que tiveram empresas como origem ou destino caíram 39 por cento em relação ao ano anterior.

A culpa é do chamado Brexit (neologismo em inglês para "saída britânica"). Os críticos alertaram que a perda de acordos comerciais e imigratórios poderia causar instabilidade econômica e empurrar algumas empresas para fora do país. Com seu grande pólo bancário em Londres, o Reino Unido tem sido, em muitos aspectos, a capital financeira da União Europeia. A desaceleração da atividade de negócios deverá continuar até junho, quando os britânicos votarão pela permanência ou pela saída do bloco.

"O Brexit está provocando um impacto negativo sobre os negócios, especialmente sobre aqueles com um ângulo internacional", disse Stefan Brunnschweiler, sócio e chefe de fusões e aquisições corporativas em Zurique do escritório de advocacia CMS, em entrevista por telefone. "Temos visto uma série de empresas e investidores adiarem suas decisões de investimentos para depois da votação".

Além do potencial impacto econômico ao Reino Unido, a saída da UE poderia implicar mudanças para as regras que regem uma série de setores, disse Ben Higson, chefe de práticas corporativas da Hogan Lovells em Londres.

Setores altamente regulados, como o automotivo, o de energia e o de finanças, "provavelmente serão mais atingidos que os outros no tocante às fusões e aquisições", disse Higson. "Como muitas das nossas regulações têm origem em Bruxelas, não se sabe o que será renegociado se o Reino Unido sair da UE, mas prevemos um longo período de reelaboração de uma série de tratados".

Desvalorização monetária
O risco de uma saída britânica da UE também tem pesado sobre a moeda do país. A libra acaba de fechar seu pior trimestre desde 2008 em relação ao euro em meio ao temor quanto à votação.

Além do Brexit, a incerteza sentida por todos os lados, das ações voláteis aos preços das commodities, passando pela economia chinesa e pelas políticas dos bancos centrais, tem dificultado os negócios neste ano. A atividade global de fusões e aquisições nos três primeiros meses caiu cerca de 10 por cento em relação ao ano anterior, para US$ 623 bilhões, segundo dados da Bloomberg.

Mas até mesmo os compradores chineses estão evitando o Reino Unido. Embora o gasto total na Europa ocidental tenha se multiplicado em mais de cinco vezes até esta altura do ano, os negócios no Reino Unido estão em baixa de 93 por cento, segundo os dados.

Ainda há, contudo, algum apetite por ativos baseados no Reino Unido. Em março, a Deutsche Boerse concordou em comprar a London Stock Exchange, um negócio que poderá iniciar uma guerra de ofertas em um momento em que a rival Intercontinental Exchange estuda uma contraproposta. O CEO da Deutsche Boerse, Carsten Kengeter, disse neste mês que o Brexit não afetaria a transação.

O governo britânico está trabalhando para neutralizar os medos e transformar o país em um lugar mais atraente para o investimento. O ministro das finanças, George Osborne, anunciou em março planos de reduzir os impostos corporativos de 20 por cento para 17 por cento em 2020, transformando a taxa do Reino Unido na segunda mais baixa entre os países desenvolvidos, atrás apenas da Irlanda.

Além disso, os perigos a longo prazo de uma eventual saída da UE para a economia podem ser exagerados. Em última análise, os mercados de câmbio podem ser o maior risco, o que, embora seja uma consideração importante, não vai desfazer o raciocínio estratégico dos acordos, disse Ferdinand Mason, sócio do escritório de advocacia Jones Day, em Londres.

"Mesmo se sair da UE, o Reino Unido não será deixado de fora dos mercados internacionais", disse Mason. "Na eventualidade de um Brexit, o Reino Unido provavelmente terá uma relação com a UE similar à de Noruega, Suíça ou EUA, e essas relações não mostraram ser um impedimento para as fusões e aquisições". Manuel Baigorri e Ruth David (Bloomberg) --  Leia mais em bol.uol 18/04/2016

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