Furnas, subsidiária da Eletrobras, está avaliando a possibilidade de adquirir parte das obras de linhas de transmissão da espanhola Abengoa no Brasil. A companhia, que está em recuperação judicial, paralisou a construção dos empreendimentos em novembro.
A estatal é mais uma das cotadas para assumir as obras na chamada "solução de mercado" da Abengoa, em que os contratos de concessão atuais seriam mantidos e não seria necessário uma intervenção administrativa por parte da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
Esse cenário sempre foi o preferido pelo governo, pelos menores prazos e despesas envolvidos.
Segundo o diretor interino de Gestão de Novos Negócios e de Participações de Furnas, Luiz Roberto Alves Correia, ainda não há nenhuma decisão sobre o assunto e o negócio depende de vários fatores, como o processo de proteção judicial da empresa, cujas dívidas totalizam R$ 3 bilhões.
"Estamos estudando, sim [adquirir ativos em construção da Abengoa]. Não temos nenhuma decisão a respeito. Sempre que existe essa oportunidade a gente estuda, busca parcerias para participar dessa aquisição. Mas bastante coisa precisa ser considerada, como a recuperação judicial da empresa. Mas estamos analisando. Se puder, vamos contribuir para deslanchar esses eventos [projetos] que estão parados", afirmou Correia, que participou ontem do Fórum de Comercialização de Energia Outlook 2016, no Rio.
Correia, que não citou os nomes de possíveis parceiros para a realização do negócio, explicou que o foco de Furnas é especificamente as obras da Abengoa não concluídas. A estatal não planeja adquirir os ativos já em operação da transmissora espanhola. "Sempre procuramos trabalhar na área da expansão. No caso dessa empresa que está em dificuldade [Abengoa], existem ativos que já estão
concluídos.
Não é isso que buscamos. Nós buscamos sempre contribuir com a expansão do sistema", completou o executivo.
Com participação de 6,2% do mercado de transmissão brasileiro, em termos de receita, a Abengoa possui cerca de 6,3 mil quilômetros de linhas de transmissão em Eólicas consideram assumir as obras de escoamento no Nordeste, disse Élbia Gannoum, presidente da Abeeólica obras atualmente. Desse total, o principal empreendimento, e que causa mais preocupação ao governo, é o linhão que será responsável pelo escoamento da energia da hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu, no Pará, para o Nordeste, de cerca de 1,8 mil quilômetros de extensão.
O Valor antecipou no fim de fevereiro que a Eletrobras tinha interesse nos ativos da Abengoa. Na ocasião, uma fonte próxima do comando da estatal disse que se a taxa de retorno dos projetos for ampliada e/ou se o prazo de concessão das linhas for postergado, pode haver rentabilidade.
Na última semana, a State Grid também admitiu o interesse nos ativos da Abengoa. A chinesa tem interesse em todos os ativos da espanhola no Brasil, e não apenas nas linhas de Belo Monte, mas, até semana passada, ainda não havia proposta firme pelo negócio. Todas as operações nesse sentido são conduzidas pelo braço internacional do grupo, a State Grid International Development.
Também na última semana, o ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, afirmou que duas empresas estrangeiras já haviam manifestado interesse pelos ativos da Abengoa. Já o presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim, disse na sexta-feira, que acreditava em uma solução privada para o negócio.
A gestora canadense Brookfield é mais uma companhia estrangeira avaliando os ativos da Abengoa, segundo o Valor apurou. Uma possível participação de Furnas, porém, pode não ser vista necessariamente como um investimento estatal. Pelo histórico dos investimentos recentes da subsidiária da Eletrobras, ela forma parceria com um sócio privado, na qual ela fica com participação máxima de 49%. Correia, porém, não detalhou se esta seria a forma estruturada para uma possível aquisição dos ativos da Abengoa.
Outra possibilidade sendo desenhada é relacionada às linhas de transmissão que vão escoar a energia gerada em eólicas e solares no Nordeste. Segundo Élbia Gannoum, presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), as empresas do setor estão olhando essas linha e considerando assumir as obras se outra solução não for viabilizada.
Estamos trabalhando e discutindo a possibilidade com nossos geradores", disse Élbia. "Pensamos em uma modelagem em que possamos participar, mas tem que ser pulverizada, porque os montantes de investimento são elevados", afirmou. Segundo a presidente da Abeeólica, se esse cenário se concretizar, as empresas vão ficar com construção e operação das linhas.
Recentemente, Lucas Araripe, diretor de novos negócios da Casa dos Ventos, admitiu o interesse nas linhas de transmissão que afetam seus projetos. Por Rodrigo Polito e Camila Maia Fonte: Valor Econômico Leia mais em sinicon 09/03/16
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