O fundo de investimentos Cambuhy, que tem entre seus sócios a família Moreira Salles, pode
assumir fatia de até aproximadamente 25% do capital da geradora Eneva (antiga MPX), com o
acordo entre as partes divulgado ontem e que prevê um aumento de capital na empresa de
energia. Caso os demais acionistas da Eneva não subscrevam as ações, a Cambuhy pode se tornar o segundo maior acionista da elétrica, atrás apenas do banco BTG Pactual, que detém 49,57% e pode ter sua participação reduzida para cerca de 34%, se não acompanhar o aumento de capital.
Fechado na última semana, após mais de dois meses de negociações, o acordo foi firmado pela Cambuhy, Eneva e OGX Petróleo e Gás. Ele prevê aumento de capital na Eneva, de cerca de R$ 1,15 bilhão, em que Cambuhy e OGX contribuirão com suas respectivas participações na Parnaíba Gás Natural (PGN) em favor da geradora. Como contrapartida, Cambuhy e OGX se tornarão acionistas da Eneva, que, por sua vez, terá 100% de participação na PGN. Hoje, a geradora possui 27,25% da PGN, empresa de exploração e produção de óleo e gás e fornecedora de combustível para as térmicas da Eneva.
"Pode ter algum investidor [da Eneva] que decida se movimentar também [no aumento de capital]. Mas o grande aumento de capital é a contribuição dos ativos de Drummond, presidente da Eneva:
operação provocará uma queda na alavancagem da companhia de 7 vezes para 5,5 vezes
OGX e Cambuhy em PGN na Eneva. Esse é o desenho da transação", afirmou o presidente da Eneva, José Aurélio Drummond, ao Valor.
Segundo ele, o acordo também vai reduzir o nível de endividamento da Eneva. Considerando os números de 2015 e a operação, a relação dívida líquida/Ebitda da Eneva passa de cerca de 7 vezes para perto de 5,5 vezes. "Como a PGN é uma empresa menos alavancada, ela contribuirá positivamente para a desalavancagem da companhia [Eneva]", disse o executivo.
A operação também faz parte do plano da Eneva de retomar a trajetória de crescimento. A geradora de energia fechou 2015 com lucro líquido de R$ 142,6 milhões o primeiro lucro anual da história da empresa revertendo prejuízo de R$ 1,5 bilhão em 2014. A companhia também fechou o ano passado com R$ 247 milhões em caixa.
Com relação ao aumento de capital, o preço de emissão das ações é de R$ 0,15 por ação. O valor deve ser proporcionalmente ajustado em decorrência do grupamento de ações a ser deliberado pela assembléia geral extraordinária da Eneva, convocada para 7 de abril.
Segundo fato relevante divulgado ontem pela Eneva, uma vez implementada a transação, "serão encerrados definitivamente os litígios judiciais e arbitrais envolvendo interesses da Eneva e/ou de suas subsidiárias, de um lado, e da PGN, de outro". No ano passado, a OGX havia entrado com ação na Justiça para suspender os efeitos de uma emissão de debêntures da PGN.
Segundo Drummond, a expectativa é que o acordo, que não envolverá movimentação financeira, seja concluído no terceiro trimestre deste ano. A operação está sujeita ao atendimento de condições suspensivas estabelecidas entre as partes e à aprovação de órgãos competentes como o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e a 4ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro visto que tanto Eneva quanto OGX estão em recuperação judicial. Após a obtenção dessas aprovações, a realização do aumento de capital será submetida à aprovação de assembléia geral de acionistas da Eneva, ainda sem data marcada.
Ao fim da operação, a Eneva continuará sendo uma sociedade sem controlador específico. Além do BTG, atualmente os acionistas relevantes da elétrica são a energética alemã E.ON (12,25%), o Itaú Unibanco (11,65%) e o Ice Canyon (6,8%). Juntos, os demais acionistas possuem 19,73%. Se não acompanharem o aumento de capital, Itaú e E.ON terão suas participações reduzidas para cerca de 8% cada.
"Essa transação permite termos duas atividades distintas e complementares dentro da mesma companhia. É óbvio que temos integração muito grande por causa do fornecimento de gás para nossas termelétricas, mas esse é um pedaço pequeno dos potenciais que essa companhia passa a ter quando a gente olha as oportunidades de exploração e produção [E&P] de óleo e gás e de geração de energia", explicou Drummond.
"Juntos temos um modelo único de gastowire [geração de energia na cabeça do poço]. É uma vantagem competitiva que existe dentro do novo [acordo]. Essa é uma alavanca de crescimento, o que não impede de crescer em alavancas distintas de E&P e geração", afirmou o presidente da PGN, Pedro Zinner.
"No entendimento da OGX, os ganhos em sinergias entre Eneva e PGN agregam valor ao seu portfólio de ativos, garantindo, ainda, maior liquidez aos mesmos, visto que a Eneva é empresa de capital aberto e com ações negociadas na BM&FBovespa", informou a Óleo e Gás Participações (OGPar), dona da OGX Petróleo e Gás, em fato relevante sobre o acordo. Com a operação, a OGX deverá ficar com fatia próxima a 6% no capital da Eneva. Por Rodrigo Polito e Alessandra Saraiva Fonte: Valor Econômico Leia mais em sinicon 29/03/16
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