O presidente da Riachuelo, Flávio Rocha, avalia que a convocação de novas eleições seria a melhor saída para o impasse que paralisa o Brasil, mas pondera que as saídas mais viáveis politicamente são a renúncia ou o impeachment de Dilma.
Ele defende que o vice-presidente Michel Temer assuma o comando do país, apesar do seu envolvimento com a Operação Lava Jato. "Ele é muito preparado e tem um bom programa de governo".
Para o executivo, que comanda um dos maiores grupos de varejo do país, "não temos mais tempo a perder" e a chegada do ex-presidente Lula ao comando da Casa Civil é "uma tentativa desesperada de sobrevida para um ciclo que se esgotou".
Ele acredita que o Brasil está saindo de um ciclo estatizante, marcado pelo capitalismo de conluio entre governo e alguns empresários, para uma nova fase de livre mercado, que será protagonizada pelos empreendedores.
Abaixo, a entrevista concedida à Folha.
Folha - Qual é a sua opinião sobre a nomeação de Lula como ministro, apesar de investigado pela Lava Jato?
Flávio Rocha - O governo forçou a barra. Veja a rejeição pública. A nomeação foi percebida muito mais como busca de proteção por foro privilegiado que um reforço aos quadros do governo.
Por que o senhor acha que Dilma tomou essa decisão?
É uma tentativa desesperada de ganhar sobrevida para um ciclo que se esgotou. A destruição de valor no país acontece dia a dia. Não temos tempo a perder.
O quanto antes encerrarmos esse capítulo da história dentro da legalidade prevista pela Constituição, melhor.
Qual é a melhor saída hoje?
A solução ideal seria convocar eleições. Um governo respaldado por milhões de votos e com um projeto bem delineado seria a melhor maneira de mudar esse ciclo econômico. E não tem ministério. É só utilizar o binômio democracia e livre mercado.
Veja o poder desse binômio na Argentina. Os argentinos chegaram mais perto do fundo do poço do que nós, mas apenas a entrada de um governo de inspiração liberal já vem mudando o país.
Também existe outra saída mais viável politicamente, que é a renúncia ou o impeachment, assumindo o vice-presidente Michel Temer.
Ele é muito preparado para a costura política e tem um bom programa de governo, que é o "Uma Ponte para o Futuro" [documento proposto pelo PMDB que congrega várias reformas estruturais].
Tenho certeza de que Temer passaria para a história se conseguisse nos deixar esse programa como legado. O documento sintetiza o que o país precisa neste momento para crescer.
O vice-presidente também está envolvido na Lava Jato, assim como outros líderes do PMDB. Eles tem capacidade de formar um governo?
Cada agonia no seu tempo. Se ficar provado alguma coisa contra ele, o processo continuará. Mas acho que até agora foram só impressões em delação. Nada está comprovado.
O caminho que a Constituição nos dá é esse: assumir o vice. Resta torcer para que não exista nada contra o Temer e para que ele possa fazer a pacificação política e construir o consenso em torno de um projeto de país.
A crise política é culpada pela crise econômica, com recessão de 3,8% no ano passado e que pode repetir a dose neste ano?
Não se pode culpar a crise política, que é uma mera decorrência do caos que reina no governo. Para exigir medidas duras do Congresso, é preciso criar consenso dentro de casa. Não estou nem falando da base parlamentar, mas dos próprios ministérios.
O ajuste fiscal fracassou pelas sinalizações de dissenso no Planalto. O tapete do ex-ministro Joaquim Levy [Fazenda] foi puxado sucessivas vezes num momento decisivo para o país.
Se Lula se mantiver no comando da Casa Civil, ele deve promover uma guinada à esquerda na política econômica?
Esse é o pior dos cenários. O discurso do Lula está muito diferente do primeiro mandato, quando promoveu um expressivo ajuste fiscal.
Os pontos do programa do PT são assustadores e mostram que o partido não aprendeu nada e também não esqueceu nada.
É a repetição de todos os erros que nos levaram a esse caos, principalmente o reforço da "nova matriz econômica" [expansão fiscal, abandono da meta de inflação, câmbio controlado e crédito barato], adotada desde 2008.
O discurso de Lula indica que ele vai por essa via de mais estatismo, crescimento de gasto público e escancarar a porta dos bancos estatais.
Quando ele foi anunciado ministro, as ações do BB despencaram, porque o mercado entendeu que seria a ruína dos bancos estatais.
A Fiesp "envolveu" nesta quarta seu prédio numa faixa de luz preta pedindo a renúncia de Dilma. Qual é a sua avaliação sobre essa iniciativa?
Estamos encerrando um ciclo estatizante, caracterizado pela criação dos campeões nacionais e por um capitalismo de conluio.
Agora será o início de um novo ciclo baseado no livre mercado, cujos protagonistas serão os empresários e a livre-iniciativa.
Por isso, vejo com bons olhos os empresários estarem saindo da toca. Uma postura arredia do setor poderia retardar esse processo.
Manifestações corajosas como a de Pedro Passos [dono da Natura, que pediu a renúncia da presidente em um artigo na Folha] e de Lawrence Pih [ex-dono do Moinho Pacífico, que disse que a saída de Dilma é inevitável], passam confiança para a opinião pública. Deixam claro que os empreendedores brasileiros tem condições de assumir a locomotiva desse novo ciclo econômico.
-RAIO-X Flávio Gurgel Rocha, 58
FORMAÇÃO Administração de empresas pela Fundação Getulio Vargas
CARGO > Presidente da Riachuelo > Deputado federal entre 1986 e 1994
Fonte: Folha de S Paulo Leia mais em abinee 18/03/2016
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