O governo federal prepara uma capitalização estimada entre 6 bilhões e 7 bilhões de reais na holding Eletrobras
A Celg, de Goiás, encabeça a lista. Os chineses estão no páreo
Uma série de fusões e aquisições deve agitar o setor elétrico em um futuro próximo, em uma movimentação que não se via desde o processo de privatização nos anos 90 do século XX. A onda é motivada pela venda de negócios de estatais federais, pela recessão e pelos efeitos da Operação Lava Jato.
No topo da lista está a Celg, distribuidora goiana controlada pela Eletrobras (51%) e o governo estadual (49%). A sala virtual com as informações financeiras e operacionais da empresa, que atende pouco mais de 2,5 milhões de clientes, está disponível. O preço mínimo é estimado em 2,8 bilhões de reais. Grupos estrangeiros como a chinesa State Grid, e nacionais, como a CPFL Energia e a Equatorial, estariam interessados. Potenciais concorrentes seriam fundos internacionais de private equity, em busca de ativos baratos (e a desvalorização do real casa muito bem com esse objetivo).
O governo federal prepara uma capitalização estimada entre 6 bilhões e 7 bilhões de reais na holding Eletrobras. O dinheiro seria usado para pagar dívidas das seis distribuidoras deficitárias controladas pelo grupo estatal (Cepisa, Ceal, Eletroacre, Ceron, Boa Vista Energia e Amazonas Distribuidora de Energia). Sanear as empresas abriria o caminho para a venda do controle acionário, possivelmente ainda este ano. O aporte seria essencial para as distribuidoras renovarem seus contratos de concessão com a Agência Nacional de Energia Elétrica. “Ficou acertado com o Ministério da Fazenda que, do valor arrecadado no leilão de hidrelétricas no ano passado, 7 bilhões iriam para Eletrobras. Ainda estudamos como será feito”, afirmou o ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga.
Há outras oportunidades à vista. No fim de 2015, a Aneel aprovou os critérios de renovação por 30 anos de 41 contratos de distribuição expirados ou prestes a vencer. A agência estabelecerá níveis de qualidade a ser alcançados em até cinco anos, com metas intermediárias a cada 12 meses. A trajetória de melhora dos serviços será apurada pelos indicadores Duração Equivalente de Interrupção (DEC) e Frequência Equivalente de Interrupção (FEC). O descumprimento de cláusulas de qualidade pode limitar o pagamento de dividendos e juro sobre o capital próprio aos acionistas. “Essas regras mais rígidas poderão ser um elemento a mais no cenário de consolidação do segmento”, diz o presidente da Thymos Energia, João Carlos Mello.
Ferreira Jr., da CPFL, prevê uma consolidação setorial
No fim do ano passado, durante a assinatura do contrato de cinco distribuidoras da CPFL Energia, o presidente do grupo, Wilson Ferreira Jr, afirmou que o processo de consolidação poderá ser intenso em distribuição, mas também envolverá a geração. “Há vários agentes privados que investiram em usinas ao longo do tempo e estão em situação difícil ou dispostos a diversificar seus negócios. Em geração não víamos antes espaço para trabalhar com fusões e aquisições, mas hoje ele existe.”
Segundo Samuel Santos, sócio da Upside Finance, uma construtora de médio porte procurou recentemente a consultoria financeira para vender seis pequenas centrais hidrelétricas. “Eles querem se capitalizar. Enxergam uma oportunidade única de participar das concessões de logística e dos negócios que se abrem por causa dos desdobramentos da Lava Jato e do programa do governo de concessões nas áreas de transportes.”
No rol de grupos estrangeiros, destaque para os chineses. No leilão de hidrelétricas cujos contratos de concessão tinham expirado e não foram renovados, realizado no ano passado, o maior lote foi arrematado pela China Three Gorges, que desembolsou 13,8 bilhões de reais para adquirir as hidrelétricas de Ilha Solteira e Jupiá, pertencentes à Cesp. Os dois empreendimentos somam quase 5 mil megawatts de capacidade, o que posiciona a empresa chinesa entre as dez maiores geradoras do País. A CTG é ainda a maior acionista da Energias de Portugal, controlada da Energias do Brasil, responsável por gerar 2,5 mil megawatts e atender cerca de 3 milhões de clientes no setor de distribuição, com concessionárias em São Paulo e no Espírito Santo. Recentemente, a companhia chinesa Brasil adquiriu da Triunfo as usinas hidrelétricas de Salto, em Goiás, e Garibaldi, em Santa Catarina, por 1,75 bilhão de reais.
A CTG segue os passos da compatriota State Grid, que venceu os dois leilões das linhas de transmissão da usina hidrelétrica de Belo Monte. No primeiro leilão, realizado em fevereiro de 2013, a empresa era majoritária em um consórcio com Furnas (24,5%) e Eletronorte (24,5%). Em julho de 2014, arrematou sozinha o segundo bipolo de Belo Monte. A State Grid agora busca parceiros para o empreendimento. Além da expansão orgânica, as fusões e aquisições não são descartadas, e a empresa mira oportunidades de geração e distribuição.
Na área de transmissão, todos os olhares miram a espanhola Abengoa, que ingressou com pedido de recuperação judicial no fim do ano passado em Madri, após ter fracassado na renegociação de 2,2 bilhões de euros em dívidas. Em janeiro, a subsidiária brasileira igualmente entrou na Justiça do Rio de Janeiro com um pedido de recuperação das operações no Brasil, onde a empresa detém empreendimentos importantes, entre eles obras de uma das linhas que interligará a usina hidrelétrica de Belo Monte ao Nordeste. O governo acompanha de perto a situação e estuda alternativas para evitar atrasos nas obras. por Roberto Rockmann — Leia mais em cartacapital 25/02/2016
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