O setor de cana-de-açúcar, que desde 2008 enfrenta dificuldades financeiras, teve em 2015 o maior número de usinas (unidades de processamento) entrando em recuperação judicial em um único ano. Foram ao todo 13, ante uma média anual de 11 nos últimos seis anos. O que chama a atenção é o perfil das novas empresas nessa situação, a maioria de médio e grande portes. Além disso, pela primeira vez, passaram a integrar a lista duas multinacionais. O passivo delas também é significativo. Juntas, as 13 unidades têm dívidas bancárias perto de R$ 8 bilhões.
Com essa leva de usinas do ano passado, chegou a 79 o número de unidades que entraram em recuperação judicial no país desde 2008. A fatia representa perto de 23% do total de 350 unidades existentes no Brasil. O mercado, no entanto, não espera que mais usinas entrem para essa lista em 2016. A escalada dos preços do etanol e do açúcar no país, em curso desde setembro passado, deve ajudar o caixa das empresas ainda endividadas. "Além disso, o pior já passou. As que estavam em situação mais complicada já pediram proteção judicial. Agora, estamos vendo mais renegociações extrajudiciais de usinas", avaliou o advogado Domício dos Santos Neto, do Santos Neto Advogados, escritório mais atuante na defesa de credores.
As que entraram em recuperação em 2015 têm um perfil diferente do visto até então. Pela primeira vez, duas multinacionais integram essa lista. São elas o Grupo Renuka, controlado pela indiana Shree Renuka Sugars e a Abengoa Bioenergia, da gigante espanhola Abengoa. Até então, eram empresas mais tradicionais do setor que vinham recorrendo à recuperação judicial, e que, em muitos casos, traziam percalços financeiros do passado, agravados com a crise financeira de 2008.
Os ativos sucroalcooleiros das duas multinacionais têm também uma envergadura de maior porte. O Grupo Renuka controla no Brasil quatro usinas, duas em São Paulo e duas no Paraná, que somam capacidade para moer 11 milhões de toneladas de cana por safra. A Abengoa Bioenergia tem duas unidades em São Paulo com condições de processar juntas 7 milhões de toneladas.
No grupo de 2015 também figura a Tonon Bioenergia, que tem no seu capital o fundo de private equity FIP Terra Viva, gerido pela DGF Investimentos. Somada, a capacidade das três usinas da Tonon é de 8 milhões de tonelada por safra. A extensão da crise do setor, que dura mais de cinco anos, surpreendeu a companhia, que vinha fazendo investimentos em ampliação e já detinha um elevado endividamento em dólar. Quando a moeda americana começou a subir de forma mais intensa em relação ao real – saindo do patamar de R$ 2,20, no início de 2015, para níveis acima de R$ 3,90, ao fim de 2015 – a empresa se viu incapaz de fazer frente aos compromissos com credores, a maior parte "bondholders" (detentores de bonds).
O câmbio também deteriorou a situação já complicada do Grupo Renuka, com endividamento de R$ 3,3 bilhões no Brasil. A companhia negociava o pagamento extra-judicialmente há mais de um ano. Mas a falta de um acordo no decorrer desse período levou os credores a desistirem da negociação e partir para execuções de garantias, pressionando a empresa a pedir recuperação.
A Abengoa enfrenta percalços desde que entrou no setor no Brasil. As duas usinas que comprou em 2007 foram objeto de arbitragem, agora em fase de validação pela Justiça brasileira, pois a espanhola alegou que o ativo tinha uma capacidade menor que a acertada em contrato. Desde que adquiriu as unidades até 2014, a empresa registrou um prejuízo acumulado superior a R$ 700 milhões com o negócio.
Mas a entrada em recuperação judicial da Abengoa Bioenergia veio na esteira do pedido feito pela matriz, na Espanha, em novembro do ano passado. A subsidiária já registrava antes disso, no entanto, atraso no pagamento de fornecedores que agora tentam arrestar bens da empresa para quitar dívidas. Os débitos bancários da Abengoa Bioenergia em dezembro de 2014, último balanço disponível, eram de R$ 900 milhões.
No ano passado, também entraram em recuperação judicial empresas com perfil mais tradicional, como o grupo Unialco, com duas usinas, uma em São Paulo e outra em Mato Grosso do Sul. Desse mesmo Estado, integra a lista a Energética Santa Helena. De Goiás, entrou em recuperação a usina Rio Verde. Por Fabiana Batista | De São Paulo Fonte : Valor Econômico Leia mais em alfonsin 26/01/2016
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