O total de companhias que fechou as portas representou 77,9% do universo de 388,5 mil empresas abertas no mesmo período de 2015. Embora a quantidade de novas firmas ainda supere a de fechamentos, essa relação já foi bem mais favorável à expansão do empreendedorismo. Em 2010, por exemplo, quando o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 7,5%, 617,9 mil empresas foram criadas, quase o triplo das 215 mil extintas.
Os dados do ano passado também podem refletir a redução da burocracia exigida para encerrar as atividades de firmas. No começo de 2015, o governo lançou um sistema que permite ao empresário por fim em seu CNPJ em apenas um dia, sem apresentação de certidões negativas de débitos tributários, trabalhistas e previdenciários. As dívidas em aberto da empresa podem ser transferidas ao CPF dos sócios. Mesmo assim, economistas avaliam que o principal fator que explica o avanço da extinção de firmas é a retração da demanda, aliada a um forte aumento de custos.
Segundo levantamento feito pela Confederação Nacional do Comércio, Bens, Serviços e Turismo (CNC) com base no Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), o total de estabelecimentos com vínculos empregatícios diminuiu 12,4% nos 12 meses encerrados em novembro - também o pior resultado da última década - na comparação com o período anterior. A redução atingiu todos os ramos de atividade, com destaque para construção civil (-17,4%) e indústria de transformação (-16,7%).
A Brasolda Indústria e Comércio, de São Paulo, ainda não entrou nas estatísticas porque está acertando as contas com os funcionários, mas está inativa desde o fim de 2015. Os principais clientes da fábrica que produzia e comercializava máquinas para soldagem eram empreiteiras terceirizadas da Petrobras, conta Kazuo Okamoto, que fundou a empresa há 15 anos. Com a paralisia do setor petroquímico provocada pela Operação Lava-Jato, a demanda caiu bastante. No segmento de máquinas menores, que podem ser usadas para consertos em casa, a concorrência de produtos importados da China ainda é forte, afirma Okamoto.
"Já passei por muitas crises, mas nas outras eu sempre cresci. Essa de agora afetou mais segmentos", diz o empresário. Como Okamoto não tinha acesso a capital de giro, ele avalia que fechar foi uma questão de sobrevivência. Neste ano, pretende continuar atuando no mesmo ramo, mas em uma firma menor, contando apenas com a ajuda de seus familiares. A Brasolda já chegou a empregar 25 pessoas, mas, antes de fechar, esse número havia recuado para cinco.
As pesquisas de emprego têm mostrado que o contingente de trabalhadores por conta própria cresceu, fenômeno que especialistas associam à menor oferta de postos com carteira assinada. Nos três meses encerrados em dezembro, o emprego por conta própria subiu 4,2% em relação a igual período de 2014 na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, que abrange cerca de 3,5 mil cidades.
"Sem dúvida, está em marcha um processo de precarização do mercado de trabalho", diz Fabio Bentes, economista da CNC. De qualquer forma, para ele, as estatísticas de fechamento de empresas refletem mais o efeito da crise do que a migração dos negócios para outras modalidades de menor porte, como o Micro Empreendedor Individual (MEI).
Também apurado pela CNC em parceria com a SMPE e o Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT), o "Empresômetro" - indicador que contabiliza a criação de micro e pequenas empresas e também de MEIs - mostra que há 5,7 milhões de microempreendedores individuais ativos em todo o país, ou 35,2% do total de micro e pequenas empresas em atividade.
Bentes pondera que os números de extinção de firmas levantados com base no Caged não funcionam como termômetro para a situação de empresas familiares, mas são bastante abrangentes. "Somente no comércio, são 700 mil empresas declarantes", diz, número que cai para 6 mil na Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), do IBGE. Como exemplo do quadro adverso generalizado, ele destaca que, no ano encerrado em novembro de 2015, a quantidade de empresas de serviços que declaram informações ao Caged diminuiu 10,7%. No comércio, a redução foi ainda maior, de 11,2%.
O ex-comerciante Luiz Caruso Jr. estava na região da praça João Mendes, no centro de São Paulo, há 45 anos, e fechou as portas em agosto de 2014. Além da falta de interesse dos dois filhos em gerenciar a loja de utilidades domésticas, Caruso afirma que o que mais pesou na decisão foi o acúmulo de dívidas. "Comecei a fazer financiamentos em bancos e vi que não ia dar mais para pagar. Preferi alugar o imóvel do que ficar com essa dor de cabeça", diz Caruso, que hoje trabalha como corretor imobiliário.
Na micro e pequena indústria paulista, o percentual de empresários cujos negócios estão ameaçados pela crise segue em alta. De novembro para dezembro, a fatia de empresas que vê possibilidade de fechar nos próximos três meses subiu um ponto, para 31%. Essa parcela atinge 35% nas micro indústrias, que empregam até 9 funcionários.
Para Joseph Couri, presidente do Sindicato da Micro e Pequena Indústria do Estado de São Paulo (Simpi-SP), que encomenda a pesquisa, a falta de crédito e a alta dos custos de produção são os principais responsáveis pelo avanço do indicador. Segundo 56% dos empresários ouvidos, o capital de giro disponível é muito pouco ou suficiente. Ao mesmo tempo, a fatia de empresas que teve aumento de custos no mês anterior ficou em 54%.
"As empresas tiveram uma redução muito grande de suas receitas e ao mesmo tempo os custos subiram", comenta Flávio Calife, economista da Boa Vista. Pelos dados da administradora do Serviço Central de Proteção ao Crédito (SCPC), os pedidos de recuperação judicial cresceram 51% em 2015 na comparação com o ano anterior, enquanto os pedidos de falência avançaram 16,4% em igual período. Valor Econômico - Leia mais em abinee 21/01/2016
Nenhum comentário:
Postar um comentário