Ao olhar para o Brasil, os investidor externo vem provando que o lema de vender um ativo na alta e comprar na baixa está mais atual do que nunca. Reunidos ontem em evento no Valor, economistas do Comitê de Acompanhamento Macroeconômico da Anbima concordam que os estrangeiros estão atordoados com o momento ruim pelo qual passa o país, mas em conversas com bancos, gestoras e consultorias têm sempre uma pergunta na ponta da língua: "qual o momento certo para comprar"?
"Temos visto bastante consultas de operadores internacionais de infraestrutura", disse Denise Pavarina, diretora executiva do Bradesco e presidente da Anbima. Segundo ela, o Brasil sustenta hoje um preço relativo que interessa investidores internacionais e esse dado não pode ser desprezado. "Todo mundo pergunta: 'qual é o trigger [gatilho], eu quero por dinheiro, o que eu olho para poder investir?'".
Outro ponto interessante, disse Luiz Fernando Figueiredo, sócio diretor da Mauá Capital, é que os estrangeiros têm portfólios indexados a índices de mercados emergentes e estariam 'underweight' em Brasil (com posição abaixo do peso do país no índice). "O próximo passo, se as coisas melhorarem, seria elevar essa participação. Esse investidor tem estômago maior do que temos aqui".
Segundo Denise, do Bradesco, mesmo com taxa de juros de 14% ao ano, há uma série de investimentos em infraestrutura para acontecer e que não estão sendo ignorados por operadores externos, especialmente porque há várias empresas sendo questionadas no âmbito da operação Lava-Jato. "Não há taxas de retorno na economia real nem no mercado financeiro como as nossas e nem há tanta opção assim no mundo", disse. "Estamos passando por um momento muito difícil, mas temos todos os elementos para que se estabeleça uma disciplina melhor na parte política", emendou.
Para Fernando Honorato Barbosa, economista -chefe da Bradesco Asset Management (Bram), o movimento de operações de compra de empresas brasileiras por estrangeiros traz o sentimento de que "ok, tem algum preço ao qual a economia brasileira se ajusta". Para ele, parece claro que isso não muda a trajetória de desemprego, mas, eventualmente, se as duas forças se juntarem, com construção de algum consenso político e fluxo continuo de negócios, talvez o cenário não seja tão ruim. "Não é o cenário base do comitê, mas pode ser uma possibilidade".
Segundo Honorato, a Bram tem sido consultada por investidores, japoneses em especial, assim como fundos soberanos. "O país tem, sim, apelo se imaginarmos o equacionamento da questão fiscal". Sem isso o cenário se complicaria a ponto de estimular a fuga de recursos brasileiros da conta de capital. "Mas isso só ocorreria num cenário de desgovernança, que também não é nosso cenário central".
Mesmo com o cenário de desgovernança descartado, Carlos Kawall, economista-chefe do Banco Safra, lembrou que as chances de perda do grau de investimento por outra agência de risco-a primeira a fazêlo foi a Standard & Poor's, em setembro - são maiores do que 50% nos próximos três a seis meses. "Disso saem consequências concretas. Nada está 100% precificado" afirmou.
Segundo Kawall, dada a expectativa de déficit nominal em torno de 9% neste ano e de 7% em 2016, não perder o grau de investimentos conferido por outras agências "será surpresa". Para Kawall, o país vem há tempos postergando ajustes necessários e, desse modo, o boom de receitas com commodities nos últimos anos talvez "não tenha sido bom para o Brasil, pois adiou o que começava a se delinear como positivo".
É o setor externo, porém, que mais uma vez dá alento. Honorato ressaltou o processo de substituição de importações, ajudado pela ociosidade da indústria. "O setor externo já está dando uma grande contribuição à indústria e vai dar mais. Mas é difícil salvar a demanda doméstica". VALOR ECONÔMICO Leia mais em maisrn 25/11/2015
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