O acordo de US$ 155 bilhões para unir a Pfizer Inc. e a Allergan PLC e construir uma gigante do setor farmacêutico pode estar montando um palco para um drama ainda maior: uma nova separação. O negócio, anunciado ontem reúne um conjunto diverso de drogas, desde medicamentos contra o câncer, vacinas e o remédio para disfunção erétil Viagra, da Pfizer, aos voltados para tratamentos de pele e produtos oftalmológicos da Allergan. A companhia farmacêutica resultante seria a maior do mundo, com vendas anuais de US$ 63,5 bilhões, 110 mil funcionários e investimentos anuais em pesquisa de US$ 9 bilhões.
As empresas esperam atingir US$ 2 bilhões em redução de custos, além de benefícios fiscais significativos com o acordo. Mas operar - e expandir - uma empresa desse tamanho será um desafio de gestão, segundo especialistas.
Uma pergunta: os executivos da Pfizer indicam que eles vão considerar dividir a empresa unificada em 2018, reunindo os pontos fortes de ambas em duas novas companhias. Uma se concentraria em novos medicamentos, como o voltado para o câncer de mama Ibrance, da Pfizer, e o Botox, sucesso da Allergan, que teriam vendas com crescimento estimado em dois dígitos.
A outra, com crescimento potencial de um dígito, consistiria de remédios antigos que perderam a proteção da patente ou estão para perdê-la, como a droga para artrite Celebra, da Pfizer, e o antibiótico Teflaro, da Allergan. "Isso pode ou não ser oportuno", disse o diretor-presidente da Pfizer, Ian Read em uma entrevista ao The Wall Street Journal.
Os acionistas prefeririam ter mais certeza sobre uma divisão, segundo analistas, porque a divisão poderia elevar os valores dos seus ativos. A Pfizer tem falado em uma possível separação há anos, e os acionistas também estão desapontados, dizem analistas, porque os executivos da empresa adiaram em dois anos o prazo para tomar a decisão, alegando que querem primeiro se concentrar em absorver de forma apropriada a Allergan.
As empresas não querem abandonar o tom neutro usado pela Pfizer para descrever suas deliberações porque elas não querem prejudicar o moral, segundo uma pessoa a par do assunto. As ações da Pfizer caíram ontem 2,6%, enquanto as da Allergan recuaram 3%.
Outro problema com as ações: receios que o governo americano possa tentar impedir a união porque ela mudará a base tributária da Pfizer para a sede da Allergan, na Irlanda, em uma operação chamada "inversão fiscal". Como consequência, a Pfizer espera reduzir seus impostos dos cerca de 25% atuais para uma taxa entre 17% e 18% porque os impostos para empresas na Irlanda são menores que nos Estados Unidos.
Entretanto, apesar das novas regras implementadas pelo Departamento do Tesouro na semana passada para deter essas operações de redução fiscal, é improvável que qualquer mudança significativa no código fiscal corporativo ocorra no curto prazo sem uma ação do Congresso americano. A Pfizer estruturou o acordo - no qual a Allergan, de menor porte, assumirá a empresa americana e os acionistas da Allergan controlarão 44% da nova companhia - de modo a se esquivar dos esforços do Tesouro. "Isso apenas nos capacita a investir mais nos EUA", disse Read.
De sua parte, o governo irlandês está otimista com o negócio, já que as duas farmacêuticas já empregam milhares de pessoas no país. Um porta-voz do ministro das Finanças, Michael Noonan, disse que a única "grande preocupação" era de a fusão poder causar demissões. "Nós esperamos que a fusão resulte em um aumento de empregos aqui em vez de uma redução."
Read disse que a reestruturação fiscal pode liberar bilhões de dólares para pesquisas de medicamentos e outros programas. Esse dinheiro ficava preso no exterior porque trazê-lo de volta aos EUA geraria uma enorme carga fiscal. No fim de setembro, a Pfizer tinha US$ 37,6 bilhões em caixa e equivalentes de caixa, a maior parte no exterior, disse o diretor-financeiro da Pfizer, Frank D'Amelio.
O negócio considerou o preço da ação da Allergan a US$ 363,63, um prêmio de mais de 30% sobre a cotação antes de o The Wall Street Journal divulgar as negociações no fim de outubro. Os acionistas da Allergan terão 11,3 ações da empresa combinada para cada ação própria, enquanto os acionistas da Pfizer poderão trocar parte de suas ações por dinheiro.
O acordo transforma as empresas que têm sido afetadas por integrações e reestruturações nos últimos anos, resultado de mudanças no setor de saúde com controle de gastos, como consequência do novo sistema de saúde americano, e o fim da onda de vencimento de patentes de remédios campeões de vendas como o Lípitor, para controle do colesterol, da Pfizer.
"As duas empresas e seus líderes têm transformado seus negócios", disse em entrevista ao WSJ o diretor-presidente da Allergan, Brent Saunders, que será o diretor-superintendente e o diretor operacional da empresa combinada e também participará de seu conselho.
Após assumir a Pfizer em 2010, Read realizou vários acordos para concentrar a empresa em produtos médicos para humanos e reconstruir seu portfólio. A Pfizer desmembrou a unidade de saúde animal, por exemplo, e recentemente comprou a Hospira - especializada em remédios injetáveis - por US$ 16 bilhões.
Read também reorganizou a Pfizer em segmentos com foco em remédios com proteção de patente e medicamentos mais antigos, medida que poderia abrir caminho para uma potencial divisão.
A Allergan atravessou uma reestruturação ainda maior, desde que Paul Bisaro assumiu uma empresa de medicamentos genéricos relativamente pequena chamada Watson Pharmaceuticals em 2007. A Watson expandiu seu portfólio de genéricos através de uma série de aquisições, incluindo a da empresa europeia Actavis, cujo nome a empresa assumiu.
No ano passado, a empresa entrou no setor de remédios protegidos por patente ao comprar a Forest Laboratories, cujo diretor-presidente era Saunders, e então criou a Allergan. Mais recentemente, a empresa abandonou suas raízes ao vender a empresa de genéricos para a israelense Teva Pharmaceutical Industries Ltd., por US$ 40,5 bilhões. Valor Econômico - Jonathan D. Rockoff - (Colaborou Denise Roland.) Leia mais em nmaa 24/11/2015
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