27 outubro 2015

Tempo de consolidação na área de agroquímicos e sementes

Após irritar alguns investidores por recusar uma sondagem de compra de US$ 47 bilhões feita pela americana Monsanto, líder global em sementes, a suíça Syngenta, maior fabricante de agroquímicos do mundo, poderá ela própria se tornar protagonista de um movimento de consolidação no segmento. Para alguns analistas, essa tendência inclusive ganhou força depois da confirmação de que Mike Mack, principal executivo da Syngenta, ficará no cargo apenas até o fim desta semana. Em novembro, ele será substituído pelo diretor financeiro John Ramsay.

Com a Dow Chemical examinando a possibilidade de vender sua divisão de agroquímicos e sementes e a DuPont, aparentemente, também cada vez mais perto de um desmembramento, a nova direção da Syngenta poderá, conforme esses analistas, levá-la a assumir um novo papel neste momento de transformações do mercado. Jonas Oxgaard, da gestora de investimentos Bernstein, é um dos que acreditam que a Syngenta poderá se mobilizar para adquirir os negócios da Dow – que, como a DuPont, também é americana.

O pedido de demissão de Mack, apresentado na semana passada, veio depois de o CEO da Dow, Andrew Liveris, ter dito que previa fusões no segmento porque "todo mundo está falando com todo mundo". Liveris fez coro com Hugh Grant, CEO da Monsanto, que afirmou que a consolidação é "inevitável". A companhia americana apresentou sua primeira oferta pelo controle da Syngenta em abril, mas desistiu de assediar a rival em agosto.

Com outras grandes empresas com negócios no ramo, como as alemãs Bayer e Basf, fortalecendo suas posições, eventuais fusões e aquisições tendem a ficar mais complexas. Cada combinação possível envolve muitas armadilhas, realçou John Klein, do banco Berenberg. Os produtos em pesquisa e desenvolvimento na Dow, por exemplo, têm bom potencial de vendas e uma compradora teria de "pagar por isso". As vendas da divisão agrícola da Dow atingiram US$ 7,3 bilhões no ano passado, enquanto as da DuPont somaram US$ 11,3 bilhões.

Com Ramsey no lugar de Mack, que liderou a Syngenta por oito anos com foco nas vendas, a companhia suíça passa a ser comandada, ao menos temporariamente, por um ex-contador da KPMG. Já a presidência do conselho da múlti continuará com Michel Demare, que recorreu até ao YouTube para defender a rejeição da oferta feita pela Monsanto.

"O conselho conquistou algum espaço com a saída de Mack, e isso poderá se traduzir em maior liberdade de ação", afirmou Oxgaard, da Bernstein. Para ele, Syngenta, Monsanto e DuPont são "prováveis consolidadoras", enquanto Dow, Bayer e, potencialmente, Basf, "tendem mais a serem consolidadas".

Enquanto Dow e DuPont estão sob pressão dos "investidores ativistas" Third Point e Trian Fund Management, a ascensão de Ramsay na Syngenta ocorre em meio à tentativa de uma variante suíça de acionistas do gênero de ganhar influência. A Alliance of Critical Syngenta Shareholders, que defende uma revisão estratégica abrangente da empresa, disse já ter conquistado o apoio de mais de 100 investidores desde sua abertura, no começou deste mês.

"A direção da Syngenta foi atacada por algum tempo antes de surgir a oferta da Monsanto", disse Klein, do Berenberg. "Não houve melhoria da margem nem expansão dos lucros, portanto a proposta da Monsanto foi apenas o clímax de um problema subjacente". Antes de sair, Mack passou a adular os investidores com uma recompra de US$ 2 bilhões em ações. Alguns questionaram sua estratégia de impulsionar as vendas tanto de defensivos quanto de sementes, ao oferecê-los sob a forma de pacote aos agricultores. O enfoque integrado ainda não rendeu retornos satisfatórios tendo em vista sua estrutura de custos inchada, disse a aliança, que também sustenta que a companhia tem ambições de crescimento pouco realistas.

A Syngenta pôs à venda suas divisões de sementes de flores e de hortifrútis, e chegou a sugerir a possibilidade de alienar toda a divisão de sementes. Mas, para alguns investidores que defendem a vinda de um CEO de fora da empresa, isso pode não ser suficiente. "O sucessor deveria ser uma pessoa capaz de trazer uma nova perspectiva para a Syngenta", disse Martin Lehmann, sócio da gestora de ativos 3V Asset Management, com sede em Zurique, e membro da aliança.  Por Alice Baghdjian e Andrew Noël | Bloomberg  Fonte : Valor Leia mais em alfonsin 27/10/2015

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