Após forte expansão nos últimos anos, o setor de shopping centers sinaliza o começo de uma acomodação, com ritmo decrescente de novos empreendimentos e alguns ajustes em carteiras de ativos. De acordo com especialistas, a nova fase do segmento pode atrair a atenção de fundos de investimento nacionais e estrangeiros, que buscam comprar fatias em empreendimentos para firmar parcerias com companhias locais. Já as grandes operadoras nacionais podem ter iniciativas mais tímidas e pontuais, frente a cautela despertada pelos desafios macroeconômicos.
Após a abertura do número recorde de 38 shoppings em 2013, o setor tem crescido a um ritmo mais lento, de acordo com dados da Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce). Em 2014, foram inauguradas 25 unidades e, para 2015, a previsão é de um total 18 novos shoppings. Caso a projeção se concretize, estarão presentes 538 shoppings no Brasil no fim do ano.
Diante da desaceleração econômica, a maioria das empreendedoras de shopping não está apostando em novos lançamentos no curto prazo, explicou o diretor da Make it Work e especialista em Shopping Center e Varejo, Michel Cutait. As companhias "que já estão com shoppings em construção seguem com seus projetos, mas estão comercialmente mais agressivas nas negociações. Já aquelas que estão sem novos projetos estão preferindo consolidar seus empreendimentos existentes, apostar em reformas ou expansões, além de ajustar seus ativos, mesmo que, neste último caso, seja necessário vender uma parte ou o todo de um ou outro empreendimento", acrescentou o executivo.
Para a diretora de geonegócios do IBOPE Inteligência, Marcia Sola, o setor de shoppings ainda é bastante pulverizado e, por isso, tem grande potencial para negociação de ativos. No lado vendedor, encontram-se algumas companhias ou empreendimentos que hoje enfrentam dificuldades de gestão ou tenham um endividamento elevado. Já no lado comprador, a executiva disse que o ritmo de aquisições deve ser ditado, principalmente, por fundos que possuem capital em caixa e já conheçam o mercado nacional, como o Government Of Sinagapore Investment Corporation (GIC) e o Canada Pension Plan (CPP).
A executiva da Ibope Inteligência contou que foi procurada por diversos investidores de outros países, como fundos de pensão e firmas de private equity, que buscavam informações sobre o mercado nacional. No entanto, apesar do interesse em entrar no País, as instituições internacionais demonstraram cautela com as incertezas da conjuntura econômica e política do Brasil e tem assumido uma postura de "esperar para ver" antes de tomar uma posição mais agressiva.
A chegada de operadoras internacionais de shoppings pode ser mais complicada, de acordo com os especialistas. Para o gerente sênior da PwC e especialista em finanças, Renato Revorêdo, embora o tamanho do mercado nacional possa atrair interesse de estrangeiros, é muito pouco provável entradas estrangeiras de peso neste setor o curto prazo.
"A montagem de plataformas novas no Brasil é possível porém mais desafiadora, devido à desaceleração econômica. Fundos estrangeiros que estejam capitalizados podem comprar algumas unidades e eventualmente montar plataformas, mas em geral fala-se de cautela e expectativa de maiores definições econômica e política para o Brasil", explicou o executivo.
De acordo com uma fonte, além da atual crise econômica, os estrangeiros também podem encontrar dificuldades para lidar com as especificidades do mercado nacional de shoppings, como marcas regionais e burocracia para construção. O desconhecimento de algumas lojas e restaurantes pode ser um obstáculo na hora de montar uma identidade para o empreendimento ou mesmo nas negociações de aluguel, afirmou a fonte. Já o processo de licenciamento e aprovações para construir uma unidade leva muito tempo e tem detalhes que podem resultar na paralisação da obra.
Por enquanto, o histórico recente reforça essa dificuldade. Grandes companhias internacionais, como Simon e Westfield, entraram no País com parcerias com companhias nacionais no começo da década, mas não tiveram sucesso notável em suas operações brasileiras. Já a Gazit Brasil é vista por muitos como uma exceção e tem expandido suas operações no Brasil desde sua chegada no País, em 2008. Atualmente, a companhia tem participação em oito empreendimentos nacionais e a expectativa no mercado é de que continue a buscar outras oportunidades.
Já as operadoras de shopping, em geral, devem aproveitar oportunidades mais pontuais e evitar grandes apostas. Dentre essas medidas, a Iguatemi aumentou sua fatia no shopping Pátio Higienópolis e a Gazit Brasil, divisão do grupo israelense Gazit-Globe, comprou o Shopping Light, que pertencia à General Shopping.
Paralelo ao movimento de aquisições, muitos shoppings acabarão por fechar as portas, de acordo com os especialistas. A tendência é natural, de acordo com Marcia Sola, do IBOPE Inteligência, uma vez que, tomados pelo entusiasmo do consumo no País, muitos empreendimentos foram construídos em locais com potencial mais fraco de comercialização, ou criaram uma competição muito acirrada em cidades de menor porte. "Alguns empreendimentos vão ter de fechar as portas ou se reinventar, com novos conceitos ou até outros nichos de negócio", afirmou a diretora. Estadao | Leia mais em Yahoo 25/10/2015
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