A Coca-Cola Co. tem uma decisão dura para tomar em consequência da planejada aquisição da cervejaria SABMiller PLC por sua rival Anheuser-Busch InBev NV por US$ 104,2 bilhões.
A SABMiller é uma engarrafadora importante para a Coca-Cola na atual consolidação que a gigante dos refrigerantes está realizando em suas operações de engarrafamento na África. Mas a belgo-brasileira AB InBev, que deve se tornar a controladora da SABMiller pelo acordo que as duas fecharam nesta semana, é uma importante engarrafadora da PepsiCo Inc. na América Latina.
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Além de a Coca e a PepsiCo serem rivais globais, a Coca também é frequemente citada como um dos alvos de aquisições da insaciável AB InBev. O próprio diretor-presidente da Coca, Muhtar Kent, vem alertando executivos nos últimos anos que a 3G Capital Partners LP, cujos fundadores — o trio de brasileiros Jorge Paulo Lemann, Marcel Herrmann Telles e Carlos Alberto Sicupira — são acionistas controladores da AB InBev, poderia, em algum momento, tentar comprar a Coca-Cola.
A Coca, a AB InBev e a PepsiCo não quiseram comentar ontem sobre como a planejada fusão das produtoras de cervejas poderia afetar os acordos de engarramento e distribuição de refrigerantes.
A Coca, que tem sede em Atlanta, possui cláusulas de mudança de controle que permitiriam que ela recomprasse os ativos de engarrafamento e distribuição da SABMiller ou os vendesse para outra empresa, segundo pessoas a par do assunto.
A Coca colocou muito esforço em seus ativos de engarrafamento da África. Em novembro de 2014, ela fechou um acordo para combinar seus ativos com os da SABMiller e com a firma de investimentos Gutsche Family Investments, de capital fechado, para criar uma joint venture presente em 12 países africanos e responsável por 40% do volume de refrigerantes da Coca no continente.
Ao mesmo tempo, a Coca concordou em vender sua unidade alemã de engarrafamento em agosto e está acelerando a venda de ativos nos Estados Unidos.
Os esforços são parte de uma corrida para se desfazer de fábricas, armazéns e caminhões e consolidar a distribuição em função da desaceleração no crescimento das vendas e das metas de lucros não atingidas, para não se tornar um alvo de aquisição.
“O dilema para a Coca é se ela vai permitir a AB InBev em sua casa?”, disse Carlos Laboy, analista de bebidas do HSBC em Nova York, que que a AB InBev poderia tentar comprar a Coca em três ou quatro anos.
O desempenho do preço da ação da Coca tem sido inferior ao do índice S&P 500 em anos recentes, mas com um valor de mercado de US$ 181 bilhões, a empresa ainda está entre as mais valiosas firmas de capital aberto dos EUA.
O negócio de engarrafamento de refrigerantes na África da Coca com a SABMiller e a Gutsche já foi adiado porque as empresas não conseguiram assegurar aprovações regulatórias do governo da África do Sul. Isso pode criar atrasos adicionais não apenas para a Coca, mas para o meganegócio entre as cervejarias, que será analisado minuciosamente pelo Ministério das Finanças da África do Sul, autoridades antitruste e sindicatos trabalhistas.
Sindicatos representando trabalhadores das operações sul-africanas da SABMiller já estão se preparando para o confronto. O Food and Allied Workers Union, sindicato dos trabalhadores do setor de alimentos, afirmou por meio de um comunicado divulgado ontem que estava “perturbado” pelas notícias da aquisição e prometeu usar seus parceiros internacionais para “se opor a essa transação usando todos os meios e formas disponíveis”.
Com a economia da África do Sul desacelerando e a taxa de desemprego em torno de 25%, em parte devido aos problemas do setor de mineração, de grande importância para o país, qualquer demissão, redução de investimentos ou menor arrecadação obtida com a SABMiller em virtude da consolidação das operações das cervejarias devem ser execradas pelos formuladores de políticas do país, segundo analistas.
A Coca poderia tentar vender os ativos de engarrafamento da SABMiller na África para outro parceiro, mas não está claro para quem. Os ativos poderiam gerar US$ 3 bilhões, segundo algumas estimativas. A SABMiller também engarrafa a Coca em El Salvador e Honduras e é responsável por cerca de 3% do volume global da Coca, segundo a empresa.
Não seria a primeira vez que uma cervejaria engarrafa e distribui produtos da Coca e da Pepsi em diferentes países. A SABMiller é a engarrafadora da Pepsi no Panamá. A Carlsberg A/S e a Heineken NV distribuem a Coca em alguns mercados e a Pepsi em outros, embora não na escala da SABMiller ou da AB InBev.
Ian Shackleton, analista de bebidas da Nomura em Londres, disse que a Coca poderia, acertadamente, ver a AB InBev como um “Cavalo de Troia” depois de a InBev ter fechado um acordo de distribuição nos EUA com a Anheuser-Busch antes de comprar a cervejaria, em 2008, para criar a AB InBev. Mas ele também disse que a Coca estaria relutante em se desfazer das operações de engarrafamento da África, o que poderia provocar uma grande ruptura numa região de crescimento rápido.
“Obviamente não é a situação ideal para eles”, disse Shackleton, que também acredita que a AB InBev poderia tentar comprar a Coca em três ou quatro anos.
Shackleton e outros analistas do setor também veem um cenário em que a Coca concorde em entrar no guarda-chuva da AB InBev, mas apenas se a empresa parar de distribuir a Pepsi. Eles dizem que a AB InBev pode preferir engarrafar a Coca na África do que a Pepsi na América Latina, onde ela já possui uma operação em crescimento de refrigerantes, com marcas como o Guaraná Antarctica.
A AB InBev atualmente engarrafa as bebidas da PepsiCo no Brasil, Argentina, Bolívia, Uruguai, Peru e na República Dominicana. Os acordos de engarrafamento vencem no fim de 2017, mas são automaticamente renovados por outros 10 anos a menos que a AB InBev ou a PepsiCo façam uma notificação escrita antes do fim de 2015 de que querem encerrar a parceria.
As duas empresas também fecharam um acordo de compra conjunta nos EUA em 2009 em vários setores, de tecnologia a viagens. Observadores do setor têm especulado por anos que a AB InBev poderia tentar comprar a PepsiCo em algum momento se a cervejaria decidisse ampliar sua participação no segmento de bebidas não alcoólicas. Por MIKE ESTERL Leia mais em Thewallstreetjournal 15/10/2015
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