O Brasil tem hoje mais de R$ 1 bilhão em recursos disponíveis nos fundos de capital semente e venture capital para financiar startups, segundo Clovis Meurer, fundador e vice-presidente da Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital (Abvcap). Esses gestores estão em busca de negócios interessantes para aportarem de R$ 100 mil a R$ 4 milhões, sob a forma de participação societária.
Sob os holofotes dos investidores estão os setores de educação, tecnologia da informação, agronegócios, energia e áreas ligadas à economia criativa como animação e jogos. Nesses fundos, há capitais nacionais e estrangeiros, bem como a participação que prossegue firme de órgãos de fomento como o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), Fundo Multilateral de Investimentos (Fumin) do Banco Interamericano de Desenvolvimento, Corporação Financeira Internacional (IFC) do Banco Mundial e Corporação Andina de Fomento (CAF).
"A indústria de 'seed money' e venture capital não recuou em função da crise, pelo contrário, têm surgido oportunidades. Vemos que muitos técnicos e bons profissionais deixaram seus empregos em grandes companhias e têm montado negócios de forma estruturada até com apoio de incubadoras", diz Meurer, na 25ª Conferência da Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec), realizada este mês, em Cuiabá (MT). A desvalorização do real tem sido um estímulo adicional. "Para os fundos que tem capital investido em dólar, o Brasil está barato", afirma Marcelo Carrullo, consultor de empresas da Abvcap.
O BNDES não sofreu contingenciamento nessa área. Atualmente, o banco tem R$ 2,5 bilhões comprometidos em 34 fundos ativos, sendo 40% de seed money e venture capital. Em 2014, a instituição anunciou a liberação de recursos novos, totalizando R$ 2 bilhões. Assim, ainda no ano passado, o BNDES fez chamadas públicas e selecionou oito fundos que receberam a primeira fatia de R$ 1 bilhão. O novo edital está na praça e as propostas podem ser colocadas até o dia 17 de novembro. "Iremos selecionar fundos e gestores para aportarmos a outra parcela, de R$ 1 bilhão", destaca Carlos Augusto de Figueiredo Carneiro, gerente da área de capital empreendedor do BNDES. Desses, cerca de 40% devem ir aos fundos de seed Money e venture capital.
Esses fundos investem em empresas que apresentam faturamento, ou seja, já validaram os produtos e serviços no mercado e pretendem expandir as atividades. "A empresa tem que estar rodando para entrar no radar. Caso esteja em estágios anteriores, deve procurar outras formas de financiamento como investidores-anjo ou aceleradoras que apoiam com recursos", diz Marcelo Carrullo, da Abvcap. Segundo ele, o Brasil conta com um ecossistema mais robusto de apoio aos empreendedores, que inclui entidades, aceleradoras, incubadoras e centros de pesquisa que atuam no amadurecimento dos projetos. A Abvcap realiza processos de coaching a empresas pré-selecionadas.
Este mês, a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) se aliou a Anjos do Brasil para lançar um instrumento de financiamento inédito no país. O primeiro edital será aberto até o fim de novembro, sendo que o aporte é de R$ 20 milhões. A previsão é lançar mais um edital em 2016 e outros dois, em 2017, de R$ 20 milhões cada. "Esse novo instrumento preenche uma lacuna na política de fomento à inovação no Brasil. O objetivo é estimular empresas que estejam na fase final de desenvolvimento do produto ou que tenham algumas vendas iniciais, mas precisam ganhar escala", diz Luís Fernandes, presidente da Finep. Segundo ele, no estágio após a fase de protótipo, as empresas iniciantes enfrentam maior dificuldade de acesso a recursos. Nessa fase, elas passaram pela prova de conceito dos produtos e serviços no mercado, porém, não tem garantias nem maturidade de gestão para acessarem fundos de seed money e venture capital.
Uma das novidades é que os investimentos da Finep serão feitos por meio de contratos de opção de compras de ações, que podem chegar a R$ 1 milhão, baseados no plano de negócios de cada startup. Assim, a Finep se torna potencial acionista das empresas. O prazo para exercício das opções será de até três anos, com possibilidade de renovação por mais dois anos. Se uma startup for bem, conseguir resultados efetivos, a Finep pode exercer a opção. Mas caso determinado empreendimento não avance, a Finep não se torna sócia. O mecanismo inova também, porque estimula os empreendedores a buscarem aportes privados. As startups que se inscreverem no edital da Finep com cartas de compromisso de investidores-anjo vão ganhar pontuação adicional na seleção. A quantidade de pontos dependerá dos valores dos investimentos privados, que podem variar de R$ 50 mil a R$ 350 mil. Contratos de opções também serão assinados pelos investidores-anjo, para se tornarem sócios ou não.
Além da aproximação com a Anjos do Brasil, a Finep assinou um memorando de parceria com a Anprotec. O objetivo é que a associação auxilie na divulgação do instrumento no ambiente das incubadoras e parques tecnológicos, participe do processo de seleção das empresas que receberão os aportes Finep Startups. "Outra vertente é o apoio na mentoria nas startups", diz Fernandes.
O consultor da unidade de inovação e empreendedorismo do Banco Mundial com base nos Estados Unidos, Sam Raymond, avalia positivamente o crescimento do equity crowdfunding, modalidade de financiamento coletivo de startups no Brasil. "É uma forma interessante de captação de recursos para empresas nascentes para testarem suas ideias." Segundo ele, entre os países emergentes, o Brasil lidera esse formato de investimento.
Raymond diz que é um movimento natural, de "tecnologização dos investimentos-anjo". "O acesso dos investidores às startups se torna mais democrático", avalia. As campanhas de equity crowdfunding unem muitas pessoas que podem fazer aportes reduzidos e, assim, se tornarem sócias das empresas. No entanto, o consultor diz que há necessidade de regulamentação da modalidade para o avanço sustentável. "É preciso que fiquem claros quais os requisitos, os riscos e quem são os responsáveis em caso de fraudes."
A repórter viajou a convite da Anprotec. Site: Valor Econômico Autor: Daniela Rocha Leia mais em tirio 30/10/2015
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