03 setembro 2015

Crise provoca fechamento de 691 concessionárias

Com o consumo de automóveis no nível mais baixo em oito anos, a Fenabrave, entidade que representa as concessionárias, informou ontem que a crise vem reduzindo o tamanho da rede de distribuição de veículos.

Segundo a associação, 691 revendas fecharam as portas entre janeiro e agosto, quando a demanda por carros de passeio, utilitários leves, caminhões e ônibus encolheu 21,4%, chegando ao menor volume desde 2007, com 1,75 milhão de unidades licenciadas nos oito meses. O estrago não foi maior porque outras 344 lojas foram inauguradas nesse período, sobretudo em redes de marcas em expansão como Jeep, Audi e BMW. No saldo de aberturas e fechamentos, houve uma diminuição de 347 lojas do total de revendas em operação no país, o que representa cerca de 4% da rede nacional de aproximadamente 8 mil concessionárias.

Conforme a Fenabrave, esse é o número de lojas que deixou de faturar veículos, numa indicação de que não estão funcionando. Entre elas, 147 lojas de motos foram fechadas. O resultado do enxugamento nesse setor foi a eliminação de 17 mil postos de trabalho, conforme informou a associação.

Amanhã, será a vez de a Anfavea, entidade das montadoras, atualizar o fechamento de vagas na indústria de veículos. Até julho, o setor já contabilizava 8,8 mil demissões desde janeiro, mas o número poderia ter sido maior não fosse a adoção de uma série de medidas adotadas pelas empresas para segurar o excesso de mão de obra.

Em entrevista concedida ontem em Porto Alegre (RS), o presidente da Anfavea, Luiz Moan, disse que outros fabricantes devem fechar neste mês acordos parecidos com o acertado na segunda­feira pela Mercedes-Benz para evitar demissões de 1,5 mil operários no ABC paulista. Os funcionários da montadora de caminhões aceitaram reduzir os salários em 10% por nove meses, com a adesão ao programa de proteção ao emprego, o PPE.

Conforme Moan, outras três empresas do setor automotivo, entre montadoras e fabricantes de autopeças, estão negociando com sindicatos a adesão a esse programa. O executivo, porém, não revelou nomes.

Ao apresentar à imprensa os resultados de agosto, quando as vendas de veículos marcaram o pior desempenho para o mês em nove anos, o presidente da Fenabrave, Alarico Assumpção Jr., atribuiu o agravamento da recessão do setor à combinação de crise política e econômica, com falta de confiança das empresas e consumidores, desemprego em alta e escalada da inflação, com consequente aumento das taxas de juros. O executivo disse ainda que os bancos seguem rigorosos nas liberações de crédito, com um índice de aprovações de financiamentos a carros na faixa de 3 a 3,5 a cada dez pedidos de empréstimo. No caso das motos, as aprovações não chegam a duas a cada dez fichas cadastradas, disse Alarico.

Para a Fenabrave, o avanço do desemprego tende a pressionar os índices de inadimplência nos próximos meses, mas a entidade avalia que o sistema bancário está preparado para absorver esse choque sem aumentar ainda mais a seletividade nas concessões.

“Os bancos tiveram perdas com crédito nessa modalidade e a eliminação de empregos pode gerar maior inadimplência. Mas os bancos já trabalham com muito mais rigor do que em anos atrás”, disse o executivo, lembrando também que, a despeito do possível avanço dos calotes, a atualização na lei de alienação fiduciária, facilitando a retomada de bens de inadimplentes, reduziu o risco da operação.

Segundo o balanço da Fenabrave, as vendas de veículos caíram 23,9% em agosto, na comparação com igual período de 2014. No total, 207,3 mil unidades foram emplacadas no mês passado. Em relação a julho, o mercado manteve o mesmo ritmo de vendas diárias: 9,9 mil unidades. Mas como teve dois dias úteis a menos, agosto acabou fechando 8,9% abaixo do mês anterior. Os números no segmento de veículos pesados são os mais desoladores, com queda de 46,1% das vendas de caminhões em agosto, comparativamente a igual mês do ano passado. (Valor Econômico/Eduardo Laguna e Sérgio Ruck Bueno)  Leia mais dana 03/09/2015

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