Em meio à crise política e econômica, o Brasil teve sua nota de crédito rebaixada nesta quarta-feira (9) pela agência Standard & Poor's (S&P). Com isso, o país perde seu grau de investimento pela agência, ou seja, status de bom pagador, e entra no grau especulativo – a nota caiu de BBB- para BB+.
A agência ainda sinalizou uma tendência negativa, ou seja, risco de o país ter a nota rebaixada novamente – o que os economistas já alertam que deve ocorrer.
Em seu comunicado, a S&P diz que "os desafios políticos que o Brasil enfrenta continuaram a aumentar", tendo reflexos sobre "a capacidade e a vontade do governo" em submeter um Orçamento para 2016 "coerente com a significativa sinalização de correção" da política econômica no segundo governo Dilma Rousseff.
O país ainda tem grau de investimento nas outras duas principais agências de classificação de risco – Moody's e Fitch. Segundo André Perfeito, economista-chefe da consultoria Gradual Investimentos, a tendência é que elas sigam, porém, o rebaixamento feito pela S&P, e que, mesmo antes disso, o país já seja afetado.
"Vamos supor que eu seja um fundo de pensão que, para investir em um país, precisa ter ao menos duas agências dizendo que ele país é OK. Se de repente há três, mas o país perde uma, eu posso já decidir sair de forma antecipada", afirmou ele, ao lembrar que esse rebaixamento já era esperado.
Metas
Em seu comunicado, a S&P diz acreditar que o perfil de crédito do Brasil ficou ainda mais fraco desde o fim de julho, quando a agência revisou a tendência do país para negativa. "Naquele momento, sinalizamos o avanço dos riscos à execução das políticas de correção então em curso decorrente da dinâmica no Congresso Nacional".
Para Perfeito, a tendência é que, uma vez que o grau de investimento já tenha sido perdido, governo "relaxe" no cumprimento das metas fiscais.
Embora o comunicado da Standard & Poor's cite a apresentação do projeto de Orçamento para 2016 do governo com uma previsão de deficit, o especialista vê em outro aspecto um peso maior para a decisão da agência de rebaixar a nota brasileira.
"A questão não era nem tanto mais o superavit primário ou não, na minha opinião. E sim que os juros nominais (encargos sobre a dívida) explodiram em 2015 no Brasil", afirmou. Segundo o economista, até julho o pagamento desses juros chegou a R$ 278 bilhões, 95% a mais que no mesmo período do ano passado – ampliando a dívida pública bruta.
Efeitos
De acordo com Perfeito, o principal problema no país não foi o aumento das despesas, mas "uma queda brutal das receitas".
Para ele, o dólar pode avançar ainda mais e chegar aos R$ 4. "Vai ter uma elevação, talvez, dos juros mais longos. O crédito pode ficar um pouco mais caro", disse sobre os efeitos do rebaixamento no cotidiano dos brasileiros.
"A perda do grau de investimento afeta a economia como um todo", explicou Alessandra Ribeiro, economista da consultoria Tendências.
Segundo ela, o rebaixamento provoca uma queda nos investimentos, fazendo com que as empresas enfrentem mais dificuldades para se financiar – o que acaba afetando, como consequência, emprego e renda.
Em nota, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, afirmou que o governo "reafirma seu compromisso com a consolidação fiscal", em esforço para "equilibrar a economia" e complementando medidas tomadas desde o início do ano, "que já têm se refletido no processo de reequilíbrio das contas externas e na queda das expectativas de inflação para 2016 e 2017". Adriano Brito e Ruth Costas
Da BBC Brasil, Leia mais em Uol 09/09/2015
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