As mineradoras globais têm de se preparar para uma retomada do ciclo de alta das commodities. Na opinião de Daniel Peixoto, diretor de auditoria do Centro de Energia e Recursos Naturais, da EY (antiga Ernst & Young), as empresas terão um caminho árduo pela frente para convencer acionistas e partes relacionadas de que o momento pode ser de investir para se aproveitar mais da recuperação desse cenário.
O especialista lembra que alguns metais, como o cobre e o zinco, dão sinais de que os preços iniciam uma inversão de tendência. Isso se daria, especialmente, por conta da dinâmica das companhias, que, percebendo a falta de balanço entre oferta e demanda, começaram a segurar a capacidade. Para ele, como o cenário pode significar um novo ciclo, a hora de investir seria agora.
"As empresas que produzem esses metais têm de se planejar sobre o futuro crescimento", afirma, em entrevista ao Valor. "É aí que entram perspectivas de fusões e aquisições ou de construção de seus próprios ativos, com despesas em nova exploração."
Estudo realizado globalmente pela EY mostra que esse seria o principal fator rondando as operações de mineradoras no momento: a necessidade de voltar a crescer. O momento é cada vez mais de disciplina de capital e entrega de retorno a acionistas, mas as companhias vão precisar se expandir quando o ambiente melhorar, pondera Peixoto.
É por isso que a perspectiva do diretor de auditoria é que o mercado de fusões e aquisições pode ficar agitado a partir do ano que vem. A perspectiva vai depender, completa o analista, de os sinais de retomada se materializarem. A recuperação, contudo, será gradual.
A grande dificuldade é enfrentar a austeridade atual da mineração. Na opinião de Peixoto, salvar margens e enxugar operações é a ordem do momento entre os executivos, por conta da cobrança dos acionistas. "Investir para crescer nesse ambiente é um paradoxo, por isso é difícil. O mercado financeiro é avesso ao risco, se depara com essa realidade de preços bastante baixos e é difícil imaginar o crescimento", afirma. "A resposta que os investidores estão acostumados a ouvir é 'corte de custos'. O trabalho de convencimento é árduo, mas já vemos indicações disso."
Conter gastos seria o segundo fator mais importante para o momento, mostra o estudo. A EY lembra que, durante o chamado superciclo das commodities, a produtividade do setor caiu à menor taxa em pelo menos 30 anos. "Conselhos e executivos reconheceram rapidamente que recuperar a produtividade perdida e acessar as melhorias que outros setores alcançaram na última década com isso é essencial para o retorno de longo prazo em capital investido", diz o texto.
No caso do minério de ferro, porém o caminho pode ser mais complicado. Isso porque, na visão de Peixoto, a commodity estaria praticamente "capitaneando" a ponta negativa de expectativas, ao lado da siderurgia, que é a principal demandadora do insumo.
O minério valia US$ 180 a tonelada há quatro anos, mas os preços recuaram muito. Há dois meses, a cotação caiu a US$ 45 e agora ronda os US$ 50. O diretor da EY vê como "particular" o balanço entre oferta e demanda nesse caso, por conta da perda de ritmo da economia chinesa e dos grandes investimentos das maiores companhias - que até agora não sinalizaram que vão colocar o pé no freio em termos de produção.
"Temos de nos preparar para a realidade de cada mineradora, mas no caso do minério de ferro, essa análise tem de ser ainda mais cuidadosa", afirma Peixoto. "O começo do investimento [para retomar o crescimento] tem de estar em linha com o plano estratégico de cada uma e coincidir com o período de maturação dos ativos."
A perspectiva é que a recuperação da commodity demore mais do que para os outros metais. E mesmo nesse caso, Peixoto lembra que analistas e agentes do mercado preveem que a estabilização se dará mais próxima dos US$ 80 - e não os quase US$ 200 observados anteriormente. Fonte: Valor Econômico/Renato Rostás | De São Paulo Leia mais em portosenavios 05/08/2015
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