07 agosto 2015

Bill Ackman investe na Mondelez e sugere fusão com Kraft Heinz, da 3G

A Kraft Heinz Co. e seu acionista controlador, a 3G Capital Partners LP, acabam de receber um incentivo que poderia aguçar o apetite por mais negócios, mas parece que, no momento, eles já estão com o prato cheio.

O investidor ativista William Ackman está sugerindo que a nova Kraft Heinz volte a se unir às antigas operações da Kraft Foods. A ideia de uma reunificação é parte do investimento de Ackman na Mondelez International Inc., a gigante global de salgadinhos na qual a Kraft se transformou após desmembrar sua unidade de alimentos norte-americana em 2012.

A firma de private equity Pershing Square Capital Management LP, de Ackman, revelou na noite de quarta-feira que acumulou uma fatia de US$ 5,5 bilhões na Mondelez, cerca de 7,5% da empresa.

Ackman acredita que a Mondelez tem que cortar custos significativamente ou ser vendida para uma rival, segundo pessoas a par do assunto. Eles identificaram a Kraft Heinz Co. como uma potencial compradora. A empresa foi formada em julho com a fusão da H.J. Heinz com a antiga unidade de alimentos da Kraft.

O coringa agora é a 3G Capital, que adquiriu o controle da Heinz em 2013 e montou a recente fusão da Kraft-Heinz. É pouco provável que ela explore uma nova fusão com a Mondelez agora, dizem pessoas a par do assunto, já que a Kraft Heinz está apenas começando seu processo de integração, que deverá envolver grandes mudanças nas antigas operações da Kraft. Essas operações fecharam o ano passado com uma receita de US$ 18,2 bilhões. Mesmo com as ambições da 3G, pode levar um bom tempo antes que ela esteja pronta para digerir a Mondelez, uma empresa muito maior cujas vendas em 2014 superaram US$ 34 bilhões. Além disso, a recente alta das ações da Mondelez poderia torná-la muito cara para alguns compradores potenciais.

A jogada de Ackman ressalta a nova realidade enfrentada pelas grandes empresas de alimentos embalados, que estão sob enorme pressão para reduzir os custos em meio ao enfraquecimento das vendas de seus produtos tradicionais. Mesmo empresas como a Mondelez, que têm enfatizado seus esforços para melhorar a eficiência, estão sendo pressionadas para fazer mais.

A Mondelez já tem um grande ativista em seu conselho, Nelson Peltz, que entrou na empresa em janeiro 2014 e tem defendido cortes agressivos de custos para elevar as margens de lucro. A empresa melhorou sua margem de lucro operacional ajustada em 2,1 pontos percentuais neste ano até junho. Sua ação subiu cerca de 28% neste ano e mais de 65% desde a cisão com a Kraft.

Mas embora a Mondelez tenha feito mais progresso que muitos rivais em enxugar a empresa, ela não atingiu as expectativas, diz Erik Gordon, professor da Faculdade de Administração Ross, da Universidade de Michigan.

“Peltz agora tem um aliado que irá pressionar ainda mais para cortes maiores e uma fusão” que crie “maior oportunidade para reduzir custos”, diz ele.

Uma porta-voz da Mondelez disse que a Pershing Square é um investidor bem-vindo. “Nós continuamos centrados em executar nossa estratégia e entregar valor aos acionistas.”

O porta-voz da Kraft Heinz não quis comentar sobre uma potencial fusão.

A Mondelez e suas grandes rivais do setor de alimentos estão enfrentando uma série de problemas, incluindo uma grande mudança nos gostos do consumidor americano, que passou a evitar comidas tradicionais altamente processadas. Além disso, elas lidam com estruturas infladas de custos — incluindo sistemas de produção e distribuição ineficientes — construídas durante anos de crescimento contínuo.

Ackman estava entre os investidores da velha Kraft Foods Inc. que recomendou sua cisão, assim como Peltz e Warren Buffett, cujo conglomerado Berkshire Hathaway Inc. era um grande acionista da Kraft. O argumento então era que a Kraft não podia extrair todo o potencial de suas marcas de crescimento rápido, como os chocolates Cadbury e os biscoitos Oreo, agora de propriedade da Mondelez, porque elas eram arrastadas pela debilidade das marcas de alimentos americanos tradicionais como o macarrão com queijo e as gelatinas Jell-O.

A 3G cortou custos com sucesso na Heinz e informou que espera reduzir US$ 1,5 bilhão do orçamento anual da empresa combinada. Sua habilidade de reduzir gastos é incomparável no setor de alimentos, mesmo quando elas usam as mesmas ferramentas financeiras, dizem analistas.

A meta da Mondelez de expandir sua margem de lucro em três pontos percentuais surpreendeu quando foi anunciada em 2013, disse a analista Alexia Howard, da Bernstein Research, que sugeriu em uma nota na semana passada que a Kraft Heinz pode comprar a Mondelez e outras empresas de alimentos nos próximos anos. Mas, “isso parece insignificante agora”, considerando que a Heinz elevou sua margem em sete pontos percentuais na metade desse tempo sob a liderança da 3G, disse ela. “Embora muitos no setor de private equity realmente compram empresas para cortar custos, a extensão dos cortes da 3G parece única”, disse ela.

Christopher Geier, sócio da Sikich Investment Banking, diz que cortar custos nos bastidores e incluir mais marcas icônicas de bilhões de dólares ao seu império beneficiaria a Mondelez e a Kraft Heinz. “Não é surpresa ver mais atividade nesse setor, [vejo] mais consolidação em breve”, diz ele.

Além disso, embora a empresa combinada pudesse gerar algumas economias na compra de suprimentos e na distribuição, ela não se fortaleceria nas redes de supermercados porque a Kraft Heinz e a Mondelez não possuem muitas categorias de alimentos que se sobrepõem e a Kraft Heinz não tem muito a oferecer para a expansão internacional da Mondelez, dizem analistas.

Alguns analistas dizem que outras empresas mais globais como a Nestlé SA ou a PepsiCo Inc. seriam uma melhor combinação para a Mondelez. Ou ela poderia se expandir em novos segmentos ao comprar empresas menores e de crescimento rápido. A Mondelez e suas concorrentes já vêm usando aquisições e outras táticas nos últimos anos para tentar acompanhar as mudanças de hábitos alimentícios nos EUA. A Mondelez levou sua marca europeia BelVita para os EUA, promovida como um biscoito matinal para redução de apetite; a Campbell Soup Co. lançou uma linha de sopas orgânicas com seu nome icônico; e a General Mills Inc. comprou no ano passado a marca de alimentos naturais e orgânicos Annie’s.

Ainda assim, as empresas têm dificuldade para gerar o crescimento de vendas que já tiveram e que empresas muito menores como o iogurte Chobani Inc. e as barras de granola Kind LLC estão registrando. Greg Wank, sócio da consultoria do setor de alimentos Anchin Block & Anchin LP, defende uma aceleração da tendência em direção a alimentos saudáveis produzidos de forma sustentável. “Seria melhor que [as gigantes de alimentos] usassem sua economia de escala para comprar marcas naturais [...] para realmente impulsionar o crescimento.”  Annie Gasparro The Wall Street Journal. The Wall Street Journal. Leia mais em msn 07/08/2015

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