Já escasso desde o começo do ano passado, o crédito bancário para empresas pequenas e médias está ficando ainda mais fraco, com instituições financeiras evitando exposição a um segmento da economia que tem sido um dos maiores responsáveis pelo aumento das provisões para perdas com calotes.
Com a piora das expectativas para a economia brasileira --alguns economistas já preveem queda superior a 2 por cento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2015 e contração também em 2016--, os bancos têm reforçado o foco nas linhas consideradas de menor de risco, mesmo que isso custe crescimento menor da carteira.
"Estamos parados em PME (pequena e média empresa) e a tendência é diminuir", disse à Reuters um alto executivo de um dos maiores bancos do país, que falou sob condição de anonimato.
"Especialmente agora que a expectativa é de que a retomada da economia será bem mais lenta do que se previa." Mesmo bancos de médio porte especializados no setor têm pisado no freio. O Daycoval, que acaba de tomar uma linha internacional de 200 milhões de dólares justamente para operações no setor, não está pensando em tão cedo ampliar seus empréstimos no segmento.
"Isso foi mais uma antecipação para necessidades que nós mesmos teremos mais à frente. Também não estamos crescendo essa carteira (de pequena e média empresa)", disse à Reuters o diretor de Relações com Investidores do Daycoval, Ricardo Gelbaum.
Desde o primeiro trimestre de 2014, as novas concessões de crédito para empresas pequenas e médias praticamente pararam. Consequentemente, a fatia desse segmento na carteira de empréstimos total dos bancos vem sucessivamente diminuindo.
No Itaú Unibanco e no Bradesco, o crescimento foi residual e abaixo da inflação em 12 meses até março, enquanto na Caixa Econômica Federal e no Banco do Brasil houve até uma ligeira contração. O mesmo aconteceu no Santander Brasil, apesar de o banco ter anunciado recentemente uma plataforma específica para lidar com esse nicho.
Nada indica que esse cenário vá mudar nos próximos meses. Preferindo se concentrar nas linhas de menores riscos num momento em que a inadimplência vem subindo, os grandes bancos têm preferido expandir no varejo, leia-se consignado e imobiliário, e em grandes empresas.
Embora um clima de apreensão tenha surgido na esteira da operação Lava Jato, que investiga denúncias de corrupção envolvendo Petrobras e grandes empreiteiras, representantes dos bancos se mostram razoavelmente confiantes.
Isso porque empréstimos para grandes corporações em geral são pulverizados nos bancos e acompanhados por estruturas financeiras que dão maiores garantias aos credores.
Diante desse quadro, as empresas menores têm recorrido a soluções de emergência para evitar uma quebradeira, segundo entidades de classe.
"Algumas estão tentando tomar empréstimos pelo menos para pagar as despesas com rescisão de funcionários", disse o diretor de Assuntos Tributários, Relações Trabalhistas e Financiamentos da Abimaq, associação que representa a indústria de máquinas e equipamentos, Hiroyuki Sato. "Mas a maioria está atrasando o pagamento de impostos." E mesmo soluções emergenciais, incluindo também o alongamento de prazos de pagamento com fornecedores, já não estão sendo suficientes e muitas começam a esperar pelo pior.
Segundo pesquisa do Sindicato da Micro e Pequena Indústria de São Paulo (Simpi), cerca de 40 mil pequenas e médias empresas no Estado admitem o risco real de fechamento em três meses.
Para a entidade, o risco deve-se sobretudo à dificuldade de acesso a crédito, que só contemplou 28 por cento das empresas que bateram na porta dos bancos, o menor índice em dois anos. Aluísio Alves, da REUTERS Leia mais em Exame 24/07/2015
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