A desvalorização do real associada às oportunidades abertas pela crise de abastecimento de energia ampliou o interesse, principalmente dos estrangeiros, por operações de fusões e aquisições no mercado elétrico brasileiro. Segundo a PwC, até meados de junho, foram 23 transações no setor, contra apenas 19 no mesmo período do ano passado. Entre os negócios, nove foram fechados por investidores de fora do país, mais do que o total contabilizado anualmente desde 2010, com exceção de 2014, quando foram registradas, ao todo, 12 transações.
E a expectativa é que o movimento se aprofunde. Assessores apontam um forte aumento nas consultas de investidores internacionais, com destaque para o os chineses, que desde o ano passado vem olhando com lupa os ativos nacionais. "Há um claro movimento de consolidação em curso, tanto de players locais quanto de externos", afirma Vânia Souza, sócia-líder em energia da consultoria KPMG.
Se por um lado o real mais barato tem atraído fundos estrangeiros, por outro, a menor disponibilidade de crédito no mercado doméstico, com a postura mais conservadora do BNDES nas concessões, estimula a procura por novas fontes de captações. "Lá fora tem recursos disponíveis a custo muito atrativo. Há inclusive fundos soberanos procurando empresas do setor para investir, seja garantindo empréstimos, seja com investimento direto", informa Luiz Carlos Tsutomu, gerente sênior da área de energia da Deloitte.
Neste ano, o inglês Barclays anunciou o investimento na Positiva Energia, que atuará em geração e comercialização. Já a Renova, de energia eólica, firmou uma parceria com a SunEdison, que incluiu a venda de cerca de R$ 800 milhões em participações em projetos já prontos, além de uma parceria para captar via uma oferta pública nos Estados Unidos. A americana negocia ainda a compra da fatia de 16% da Light na empresa, por US$ 250 milhões.
Outro fator de estímulo aos negócios é a elevação dos preços oferecidos pelo governo, de forma a reforçar o abastecimento após a crise hídrica, que secou os reservatórios. Nos leilões de geração, os preços-teto vêm aumentando, enquanto em distribuição e transmissão as taxas de retorno regulatórias subiram. "O Brasil tem uma percepção de risco mais elevada, mas o cenário para os preços de eletricidade é de alta e atrai", ressalta Tsutomu.
Ao mesmo tempo, os temores em relação à interferência do governo no setor, levantados pela Medida Provisória (MP) 579, que condicionou a renovação de concessões de hidrelétricas a cortes na tarifas praticadas, começam a ficar para trás. "Hoje, os investidores têm mais clareza que as reformas de 2012 não afetaram o mecanismo de leilões e que há uma mudança na postura, de mais diálogo do governo, para atrair capital", diz Fabiano Britto, sócio especialistas em energia da firma de advocacia Mattos Filho.
O principal interesse é nas empresas de energias renováveis - os projetos eólicos representam 30% das transações fechadas no primeiro semestre, de acordo com a PwC. "O potencial de crescimento em renováveis por aqui é muito grande, o mercado é pulverizado e os investidores estão atentos a isso", ressalta Ana Karina de Souza, líder emenergia do Machado, Meyer, Sendacz e Opice Advogados.
A Lava-Jato também gerou uma onda de negócios. A Engevix, envolvida nas investigações, vendeu o controle da Desenvix, de renováveis, para norueguesa Statkraft, que já era sua sócia na companhia, por R$ 500 milhões.
A Petrobras também deve dar fôlego à consolidação, com a venda de participação minoritária em seu parque de termelétricas. Cemig e AES estão entre as empresas que já manifestaram interesse no pacote, que inclui mais de 20 projetos, com capacidade de 7 gigawatts (GW).
Já a privatização das distribuidoras da Eletrobras, que deve ter início neste ano com a Celg-D, provocará uma forte disputa entre as empresas privadas do segmento, ansiosas por oportunidades de expansão desde a venda dos ativos do Grupo Rede, em 2013. Com necessidade de reforçar o caixa, a estatal elétrica já informou também que pode de desfazer de participações minoritárias em projetos de transmissão e geração.
Em meio às diversas oportunidades de negócio abertas no mercado, as empresas também têm rebalanceado seus portfólios, com venda de ativos de segmentos específicos para fazer caixa para outras operações. "É uma tendência de reciclagem de capital, que não denota desconforto com o setor, muito pelo contrário", diz Vânia, da KPMG.
Foi o caso da Energisa, que levou as oito distribuidoras do grupo Rede e acabou vendendo seus ativos de geração para a canadense Brookfield por US$ 1,2 bilhão no ano passado. O grupo gaúcho Bolognesi, que vai construir duas térmicas, que somam mais de 2 GW de capacidade, além de terminais de regaisificação, também está colocando 166 MW de capacidade em ativos à venda para levantar recursos e financiar os novos projetos. Fonte: Valor Econômico - Leia mais em portalabeeeolica 10/07/2015
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