Muitos talvez já tenham esquecido, mas entre 1986 (ano do anúncio) e 1995 (separação final de todos os ativos) o Brasil protagonizou na indústria automobilística uma tentativa de consolidação – jargão para processo de fusões e aquisições em determinado setor da economia.
Naquele período as filiais da Volkswagen e da Ford anunciaram uma joint venture (associação com objetivos definidos) chamada Autolatina. Na época chegou-se a pensar que se tratava de uma experiência para fusão das duas empresas, negada por ambas.
O “casamento” não resistiu aos fatídicos sete anos. As operações começaram efetivamente em 1987 e a assinatura do “divórcio”, sacramentada em 1994. Financeiramente, a Autolatina funcionou ao gerar bons lucros, mas carros produzidos em conjunto não convenceram e as duas marcas perderam participação. A briga aconteceu quando a VW, que tinha 51% do consórcio, negou ceder o Gol de segunda geração para um modelo equivalente da Ford.
Nessa fase diminuiu o nível concorrencial e foi ruim para o consumidor no mercado nacional. O mau exemplo não impediu, porém, uma fusão germano-americana, quando a Daimler-Benz comprou a Chrysler/Dodge/Jeep em 1998 por US$ 38 bilhões. Em 2007, depois de constatar que não deu certo, os alemães venderam as três marcas por praticamente nada para um grupo investidor dos EUA.
Em perspectiva histórica, fusões e aquisições no setor automobilístico são inúmeras em um mesmo país, mas algumas não deram certo especialmente quando envolveram diferentes nacionalidades. Existem também alianças em dive-rsos níveis. A mais próspera é a Renault-Nissan que mantém participações acionárias cruzadas e conseguiu avanços na economia de recursos.
A crise financeira de 2008/2009 pela quebra do banco Lehman Brothers revelou a fragilidade da indústria automobilística. O governo americano teve que assumir GM e Chrysler, embora por pouco tempo. A primeira voltou ao mercado de ações e a segunda foi entregue à Fiat para uma fusão posterior. Recentemente, a FCA (Fiat Chrysler Automobiles) também lançou ações na bolsa de valores de Nova York.
O inquieto Sergio Marchionne, presidente da FCA, sempre defendeu com razão que uma consolidação mais profunda é necessária para economizar bilhões de dólares e enfrentar os enormes desafios atuais e futuros em termos ambientais, de segurança veicular e de mobilidade. Semana passada sugeriu que sua empresa poderia se fundir com a GM, mas esta nem quis conversa, até pela experiência atribulada entre 2000 e 2005.
Para o grupo de mídia Automotive News, sediado em Detroit, há outras opções complicadas. Marcas orientais, como Mazda, Honda e Hyundai-Kia, não mostram interesse. Aparentemente restaria possível fusão com a PSA Peugeot Citroën que tem o governo francês e a fabricante estatal chinesa Dongfeng como sócios. Governos no meio, modelos de veículos em superposição e escala de produção insuficiente são fatos pouco animadores.
Enfim, algo paira no ar. A competição nunca foi tão dura e investimentos (inviáveis) parecem ter o céu como limite. Os consumidores estão na posição de esperar para ver. Se não temerosos, pelo menos falta uma zona de conforto. Por Fernando Calmon | Leia mais em jcom 18/06/2015
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