A estatal de petróleo informou os sócios franceses em uma reunião em meados de abril, na sede da companhia, no Rio, que pretendia vender sua fatia atualmente em 42,9% no negócio.
Ouviu em troca, segundo essas fontes, que o setor de açúcar e etanol passa por grandes dificuldades, no rastro de um longo período de baixa nos preços desses produtos, e que os ativos estariam subavaliados.
Ainda assim pediu para que a Tereos fizesse uma oferta para comprar de volta a fatia no negócio, mas não está disposta a aceitar os cerca de US$ 200 milhões que os franceses indicaram que ofertariam (não chegaram a fazer uma oferta formal).
A situação ilustra os obstáculos que a petroleira deverá enfrentar em sua meta de levantar pelo menos US$ 3 bilhões somente neste ano com seu plano de vendas de ativos que pode chegar a US$ 13,7 bilhões no total.
A Petrobras se comprometeu em 2010, quando fechou o acordo com a Tereos, a repassar R$ 1,6 bilhão em um período de 5 anos, ao final do qual deteria 45,7% da Guarani, companhia controlada pela Tereos Internacional, empresa com sede em São Paulo e com ações negociadas na BMFBovespa, que por sua vez é controlada pela Tereos francesa.
Segundo a Tereos, a Petrobras ainda precisa fazer um aporte de R$ 250 milhões para chegar à fatia estabelecida no negócio (com base no que já investiu nos últimos anos sua participação atual é de 42,9%).
Procurado para comentar as informações repassadas pelas fontes, o diretor da Tereos no Brasil, Jacyr Costa, disse à Reuters na tarde de domingo que não foi informado oficialmente pela Petrobras sobre intenção de sair do negócio e que espera que a estatal faça o último aporte de R$ 250 milhões até outubro.
"Estamos satisfeitos com nosso relacionamento", afirmou Costa. "Se eles querem sair, esta é uma hipótese, é claro que vai ser discutido".
Questionado se a Tereos estaria disposta a comprar de volta a fatia, Costa disse: "Nós não estamos no mercado para comprar ou vender usinas no momento".
A Petrobras, cuja dívida superou R$ 400 bilhões , sendo a companhia de petróleo mais endividada do mundo, está lutando para executar o plano de desinvestimentos até o final de 2016.
No caso do etanol, há outros problemas. A Tereos já controla a Guarani e tem direito de preferência sobre qualquer proposta. E se uma terceira parte se interessar em ficar com a fatia da Petrobras, terá apenas uma participação minoritária em um negócio que atravessa mares turbulentos.
Os preços do açúcar em Nova York, referência internacional, estão no menor valor em seis anos.
E as usinas tentam se recuperar de um período de cinco anos em que os preços do etanol foram massacrados por uma política governamental de manter os valores da gasolina artificialmente mais baixos, para segurar a inflação.
Em suas últimas demonstrações financeiras, a Petrobras avaliou seu investimento na Guarani em R$ 1,25 bilhão, de acordo com o método de equivalência patrimonial.
"O momento (do negócio) é péssimo, porque os preços estão baixos, particularmente os do açúcar, e isso deprime muito o valor econômico do negócio de usina," disse à Reuters Julio Maria Borges, um dos principais consultores do setor sucroalcooleiro no Brasil.
"Potencial comprador vai existir, é tudo questão de preço. Se a Petrobras estiver disposta a assumir uma perda na venda, ela vai vender", afirmou Borges.
A Petrobras oficialmente não confirma a intenção de vender a fatia na Guarani.
Mas na semana passada uma fonte com conhecimento direto dos planos da estatal disse à Reuters que a empresa, de fato, está considerando vender ativos não essenciais que incluem usinas de etanol.
Costa, da Guarani, disse que o contrato entre a Petrobras e a Tereos inclui a possibilidade de a Petrobras vender sua participação para uma terceira parte, hipoteticamente, mas um possível acordo nesse sentido vai ter que obedecer a uma série de condições.
Além da participação nas sete usinas da Guarani, a Petrobras, sempre por meio de sua subsidiária Petrobras Biocombustível, tem uma fatia de 49% na Usina Boa Vista, em sociedade com o grupo São Martinho, e uma fatia de 40% na Usina Bambuí, em Minas Gerais, em parceria com a Bambuí Bioenergia. Terry Wade e Marcelo Teixeira Reuters (Com reportagem adicional de Jeb Blount) Leia mais em Uol 22/06/2015
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