02 junho 2015

Após tropeços, Sanofi tenta voltar a crescer no País

Comprada a peso de ouro em 2009, por R$ 1,5 bilhão, a farmacêutica Medley garantiu ao grupo francês Sanofi a liderança absoluta em medicamento genéricos e o título de maior laboratório do mercado brasileiro. Essa aquisição também abriu a temporada de um longo e intenso movimento de consolidação do setor no País. Tudo parecia conspirar a favor da Sanofi, uma das maiores farmacêuticas do mundo, mas o que se viu nos anos seguintes foi uma sucessão de atropelos, que agora, sob nova gestão, a companhia pretende estancar.

Nos últimos dois anos, a empresa trocou duas vezes de presidente – Heraldo Marchezini, cria da Sanofi, foi demitido em meados de 2013, e Patrice Zagamé, ex-Novartis, que o substituiu, não chegou a ficar um ano no cargo. Nesse período, a farmacêutica perdeu a liderança na venda de medicamentos totais para a nacional EMS e encerrou 2014 na terceira posição, atrás da Hypermarcas. Em genéricos, foi também ultrapassada pela EMS e já está com a vice-liderança ameaçada.

O desafio de reverter esse cenário está nas mãos do executivo suíço Pius Hornstein, que chegou em janeiro para assumir a presidência da companhia no País. Pela frente, ainda enfrentará os impactos da desaceleração da economia no setor (leia texto abaixo). A receita global da multinacional foi de € 33,7 bilhões em 2014. O Brasil está entre os cinco principais países em faturamento, com vendas brutas em torno de R$ 9 bilhões, incluindo saúde humana e animal.

Em entrevista ao Estado, Hornstein garante que está preparado para colocar a companhia na rota de crescimento novamente.

A Sanofi, que atua em várias frentes de negócios–medicamentos com e sem prescrição, genéricos e doenças raras, vacinas e saúde animal –, tem hoje menos de 10% de seus produtos protegidos por patentes. “O grupo está ampliando o portfólio de produtos inovadores, que promete garantir receita”, diz.

Hornstein cita dois medicamentos que já estão em avaliação de registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa): um que atua no combate a diabetes e outro para tratar alta taxa de colesterol no sangue. Até 2020, há expectativa de lançar 18 produtos que estão em desenvolvimento.

Já nos remédios sem patente, o grupo se prepara para lançar novas categorias de similares e genéricos, além de produtos isentos de prescrição (OTC), muito consumidos no Brasil.
“Nos próximos meses,ainda vamos colocar no mercado a vacina contra a dengue (leia mais ao lado)”, completa Hornstein.

O executivo reconhece o avanço dos concorrentes nacionais– que adotam postura agressiva de preços, principalmente em genéricos – e as dificuldades de distribuição de produtos, devido ao tamanho do País. Para simplificar a logística atual do grupo, a Sanofi vai investir € 200 milhões na construção de um grande centro de distribuição em Guarulhos (Grande São Paulo).
Os aportes serão feitos ao longo dos próximos cinco anos para a construção de um complexo de 36 mil metros quadrados. “É o equivalente a quase cinco estádios de futebol”, diz.

Fragilidades. De acordo com fontes ouvidas pelo Estado, foram erros estratégicos que fizeram a Sanofi perder participação no mercado. No caso da Medley, de genéricos,a companhia trabalhava com um estoque alto, de seis meses,enquanto a média do setor gira em torno de dois meses, afirmaram as fontes.

A estratégia agressiva de preços de concorrentes, que concedem pesados descontos para os genéricos, comprimindo margens, também contribuiu para queda de participação da companhia.

Em 2012, o grupo tinha 31,2% de participação nesse mercado e encerrou o ano passado com 15,14%, de acordo com a consultoria IMS. A EMS segue líder, com 29,62%, e a Hypermarcas, com 14,08%.

Caio Moreira, analista especializado em farmacêutica do Banco Fator, lembra que desde 2012 a Hypermarcas vem investindo na unificação dos gasto a distribuição e consolidação de seus negócios em Anápolis (GO). A Hypermarcas tem altos com marketing, o que a fez avançar no setor. A Medley passou por problemas internos afetando seus resultados.” Segundo fontes, uma auditoria de desempenho feita a pedido da matriz da Sanofi entre 2012 e 2013 colocou em xeque a gestão de Marchezini, então presidente do grupo. Hornstein diz que não quer especular sobre o passado e que prefere olhar para frente.Há três meses no País, o executivo, que está há 17 anos na Sanofi e passou por vários países pela companhia, diz ter planos de longo prazo para o País. “De janeiro a março deste ano, as vendas da companhia começaram a crescer.” Esse avanço pode ser um bom sinal. Mas Hornstein ainda tem muito trabalho pela frente.

Além de arrumar a casa, está focado também em melhorar a relação com os clientes no varejo.

“Claro que market share (fatia de mercado) é importante, mas cada competidor tem estratégias diferentes. Acredito que os próximos anos para o grupo no País serão bem melhores que os anos anteriores.” Autor: Mônica Scaramuzzo Fonte: O Estado de S.Paulo Leia mais em tudofarma  01/06/2015

Nenhum comentário:

Postar um comentário