Ao lançar seu plano de desinvestimentos de US$ 13,7 bilhões para o biênio 2015/2016, a Petrobras encontrará um ambiente receptivo a compras, mas terá de dividir as atenções dos investidores com um mercado recheado de oportunidades de aquisições. Em entrevista exclusiva ao Valor, o sócio da consultoria norte-americana A.T. Kearney, Vance Scott, vê o Brasil como um mercado competitivo, mas projeta uma nova onda global de fusões e aquisições no setor nos próximos seis a doze meses.
Segundo o estudo "Fusões e Aquisições em Óleo e Gás", recém-lançado pela consultoria, a indústria petrolífera será marcada em 2015 por uma agenda de desinvestimentos, diante da necessidade das petroleiras de fazer caixa frente à queda dos preços do petróleo.
Scott, co-autor do relatório, vê oportunidades de negócios não só no Brasil, mas também na América do Norte e Europa. "Olhando para o mercado global, claramente observamos as petroleiras independentes de pequeno porte dos Estados Unidos e Canadá, que vem atraindo o interesse de investidores financeiros. Essas empresas fizeram investimentos em projetos de óleo e gás não convencionais e podem enfrentar problemas com perspectivas de caixa e obrigações financeiras, diante da queda do preço do petróleo, mas são extremamente atrativas", afirma.
Em um cenário de baixa nos preços do petróleo, essas empresas menores, segundo a A.T. Kearney, irão se desfazer de parte de seus ativos de alto custo para reequilibrar suas carteiras. O consultor também vê oportunidades de venda de ativos na indústria petrolífera do Mar do Norte e no Golfo do México, onde ele acredita que petroleiras menores terão de reposicionar seus portfólios. "São esses os principais ativos com quem a Petrobras terá de competir", complementa.
Apesar da concorrência, Scott acredita que o plano de desinvestimento anunciado pela Petrobras deve gerar interesse de investidores, sobretudo se a companhia estiver aberta a negociar participações em projetos no pré-sal. "A Petrobras ainda não apresentou que ativos colocará a venda, mas acredito que seja um dos primeiros lugares para onde as empresas vão olhar", opinou o consultor, que prega, no entanto, rapidez na tomada de decisão da estatal.
"Dependendo do quão rápido a Petrobras se movimentará para colocar a venda seus ativos, acredito que haverá uma atividade alta [de fusões e aquisições] no Brasil este ano", comentou o especialista.
De acordo com o estudo da A.T. Kearney, uma nova onda de fusões e aquisições vai surgir em toda a cadeia de valor nos próximos seis a doze meses, mas a janela de oportunidade pode ser curta. Segundo Scott, o perfil dos interessados nos ativos da Petrobras vai depender do portfólio que a estatal colocará a venda. O consultor acredita que, apesar de estarem num momento de enxugamento de portfólios, as grandes petroleiras internacionais têm caixa disponível para fazer frente a eventuais oportunidades interessantes no Brasil.
O especialista disse, ainda, que estatais, incluindo as chinesas que já operam no Brasil, também têm força financeira para acompanhar o programa de desinvestimentos da Petrobras e que petroleiras independentes de maior porte podem entrar na disputa.
O estudo da A.T. Kearney aponta que, ao longo dos últimos anos, enquanto as grandes petroleiras multinacionais têm reduzido seus papéis como compradores no mercado, as estatais têm sido mais ativas.
Muitas estatais, segundo o relatório, têm dinheiro suficiente para assumir um papel significativo como compradores, especialmente se os preços do petróleo continuarem baixos. "A dúvida é se essas empresas se moverão rápido o suficiente para tirar proveito da situação", cita o relatório, que também destaca o ganho de importância de investidores financeiros no setor.
"Ao longo dos últimos anos, os investidores financeiros têm se concentrado no setor de serviços. No entanto, há sinais de que eles estão expandindo seu interesse para os operadores [de exploração e produção] com necessidades de capital mais elevado", destaca a consultoria.
A Petrobras espera que a venda de seus ativos na área de exploração e produção renda à companhia US$ 4,1 bilhões, o equivalente a 30% dos desinvestimentos anunciados pela estatal no começo da semana passada.
Na ocasião, a petroleira anunciou um plano de alienação de ativos de US$ 13,7 bilhões para o biênio 2015 e 2016, montante superior ao divulgado na gestão anterior, de Graça Foster, de US$ 5 bilhões a US$ 11 bilhões entre 2014 e 2018.
A expectativa da companhia é que a maior parte dos ativos vendidos venha da área de gás e energia (40%), num total de US$ 5,48 bilhões, seguido das áreas de abastecimento (30%) e exploração e produção (30%). Fonte: Valor Econômico/André Ramalho | Do Rio Leia mais em portosenavios 09/03/2015
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