A Monsanto, maior produtora de sementes do mundo, avaliada em US$ 64 bilhões, tentou comprar por US$ 34 bilhões a concorrente Syngenta, sediada na Basileia, em uma operação que teria permitido à companhia americana transferir seu domicílio fiscal para a Suíça. O negócio - que, segundo fontes ouvidas pela Bloomberg, não tem mais chances de se concretizar -, teria sido mais um sinal de como empresas de vários setores dos EUA estão tentando fugir de impostos transferindo suas sedes para outros países.
Nos últimos meses, Monsanto e Syngenta mantiveram conversações preliminares com consultores para uma eventual combinação de seus negócios, mas a empresa europeia decidiu não levar as negociações adiante, disseram fontes que pediram para não serem identificadas. Segundo duas delas, representantes das multinacionais também conversaram informalmente sobre uma possível união.
Conforme as fontes, havia preocupações a respeito de posicionamento estratégico, questões antitruste e sobre a própria realocação da "nova" companhia para a Suíça por razões fiscais. As negociações, que avaliaram a Syngenta em mais de US$ 40 bilhões, teriam sido encerradas no fim de maio.
A combinação das duas companhias teria criado a maior empresa de sementes e defensivos químicos agrícolas do mundo - e um concorrente formidável para as alemãs Bayer e Basf e para a americana Dow Chemical. A Syngenta é a maior fabricante de agrotóxicos do mundo e a mais forte da Europa; a Monsanto, a maior em sementes e líder nos mercados americano e global de organismos geneticamente modificados (OGMs), os transgênicos.
"Os investidores teriam adorado, pois o negócio teria criado, de longe, a maior empresa de tecnologia agrícola do mundo", diz Patrick Rafaisz, analista do Bank Vontobel, acrescentando que a transação seria uma surpresa. "Não estamos discutindo esse assunto em particular", disse ontem Lee Quarles, um porta-voz da Monsanto, em comunicado, sem ser específico. Paul Barrett, porta-voz da Syngenta, não quis fazer comentários.
As especulações de mercado sobre uma maior consolidação do mercado agroquímico sempre cercaram os principais concorrentes do segmento, incluindo a Bayer CropScience, a Dow Chemical e a Pioneer, da DuPont. Houve conversas informais nesse sentido em diversas ocasiões e a Syngenta considerou "opções estratégicas" antes da crise financeira, segundo fontes.
Embora as negociações entre Monsanto e Syngenta estejam suspensas no momento, há chances de elas serem retomadas, conforme duas fontes. Os negócios internacionais, sobretudo os que enfrentam resistência política e barreiras antitruste, muitas vezes são abandonados antes de serem retomados.
Um acordo entre Monsanto e Syngenta teria rivalizado com um acordo recente de inversão fiscal. A Medtronic, fabricante de equipamentos médicos de Minneapolis, foi a maior companhia a informar que renunciará ao endereço americano como parte de seu plano de assumir o controle da Codivien, da Irlanda, por US$ 42,9 bilhões. A estratégia de inversão fiscal poderá liberar quase US$ 14 bilhões em dinheiro que a Medtronic hoje mantém fora dos EUA, permitindo que a companhia faça melhor uso desses recursos.
Para a Syngenta, mudar e se adaptar faz parte do DNA. Desmembrada da Novartis em 2000, se fundiu com a Zeneca Agrochemicals, abrindo sua base de acionistas.
Nos últimos dois anos, as ações da Syngenta tiveram desempenho inferior aos papéis de outras empresas do segmento. Em 2014, acumula desvalorização de 8%, ante altas de 4% dos papéis da Monsanto e de 12% e 5% nos casos da Basf e da DuPont, respectivamente.
Além de abocanhar as tecnologias mais recentes na área de agroquímicos, a compra da Syngenta permitiria à Monsanto a remoção de um concorrente que investe tempo e dinheiro na construção de uma operação concorrente em sementes. A rival suíça fez uma série de aquisições, que incluiu a Sunfield Seeds, mas mesmo assim ainda enfrenta a presença dominante da Monsanto no mercado americano.
O negócio teria criado complicações para um número crescente de acordos de pesquisa e desenvolvimento entre os concorrentes. Este ano, a Monsanto firmou uma aliança com a Novozymes na área de soluções biológicas que inclui o uso de insetos no combate a pestes e doenças. Entre as parcerias da múlti americana, estão algumas com a Basf.
"A Basf poderia ter objeções por ter uma colaboração de longo prazo em pesquisa e desenvolvimento com a Monsanto, que parece estar ficando mais estreita", diz Rafaisz do Bank Vontobel. "A questão antitruste seria um problema no negócio de sementes, onde as duas teriam posição dominante em certas áreas, como a de milho nos EUA" (Valor, 24/6/14) Leia mais em brasilagro 24/06/2014
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