23 abril 2014

Série de acordos redesenha os negócios da Novartis e Glaxo

As farmacêuticas voltaram com tudo ao mundo das fusões e aquisições.

 Ontem, a Novartis AG NOVN.VX +0.33% e a GlaxoSmithKline GSK.LN +0.40% PLC revelaram uma série de transações, avaliadas em um total de mais de US$ 20 bilhões, que transformam de maneira fundamental as duas empresas, estreitando mais o foco da Novartis, mas sem prejudicar significativamente sua receita, e tornando a Glaxo uma potência na fabricação de vacinas e medicamentos para o consumidor.

 Os acordos, anunciados antes da abertura dos mercados na Europa, seguem-se a notícias de que o investidor ativista americano William Ackman e a canadense Valeant Pharmaceuticals International Inc. VRX.T -0.72% planejam comprar a Allergan Inc., AGN +0.24% fabricante do tratamento de rugas Botox. Esse acordo, se concluído, criaria um gigante no setor de cuidados da pele e dos olhos.

 As transações ocorrem em meio a um ressurgimento das fusões e aquisições na indústria farmacêutica, que volta a injetar dinheiro em expansão depois de pagar a dívida acumulada durante a onda de fusões do início dos anos 2000. Ao contrário daquela fase, em que grandes farmacêuticas se uniram para criar gigantes, essa nova onda de negócios é mais direcionada, com foco em transações que criem empresas capazes de competir como líderes em suas áreas, em vez de simplesmente garantir presença.

 "Fusões e aquisições são uma estratégia que deve ser usada com moderação", disse Andrew Witty, diretor-presidente da Glaxo, em uma teleconferência ontem." Mas elas têm um papel extremamente importante, se a empresa consegue encontrar transações específicas que a permitam se fortalecer nos setores onde tem vantagem competitiva estabelecida."

 Tornar-se mais focada tem ajudado a criar valor para os investidores. Empresas puramente farmacêuticas, como a Bristol-Myers Squibb Co. BMY -0.25% e a AstraZeneca AZN.LN +2.30% PLC, que não têm grandes divisões de genéricos, ou de diagnósticos, têm hoje um valor de mercado mais alto que rivais muito diversificadas. As ações da Pfizer Inc. PFE -0.13% subiram acentuadamente desde que ela se desfez da Zoetis, ZTS -1.00% seu negócio de saúde animal, com uma oferta pública inicial de ações que captou US$ 2,2 bilhões em 2013. As da Abbott Laboratories ABT +0.05% também subiram, depois que ela desmembrou sua unidade farmacêutica AbbVie, ABBV -1.00% em 2012. [image]


Entre as ofertas que se destacam estão o acordo feito pela AstraZeneca para comprar, por US$ 2,7 bilhões, a participação da Bristol-Myers Squibb em uma joint venture que mantinham para o tratamento de diabete — parte dos esforços da AstraZeneca de se concentrar na doença — e a venda de ativos não essenciais pela GlaxoSmithKline, como as marcas de bebidas Ribena e Lucozade, onde não tem o peso necessário para competir.

 No primeiro trimestre, a atividade de fusões e aquisições subiu 40% em comparação com o mesmo período de 2013, para US$ 16,9 bilhões, segundo a firma de pesquisas Dealogic.

 A parceria incomum entre Ackman e a Valeant é mais um exemplo da tendência de negócios com um alvo específico que caracteriza a atual onda de atividade. A firma de private equity Pershing Square Capital Management LP, de Ackman, está trabalhando com a Valeant para comprar a Allergan, um forte participante do mercado de drogas cosméticas. A Valeant vê uma potencial economia de US$ 2,5 bilhões nos custos caso consiga se unir à Allergan, além de expandir seu portfólio de produtos.

 As transações entre a Novartis e a Glaxo se ajustam diretamente a esse novo estilo de aquisições, permitindo que cada empresa fortaleça seus negócios mais promissores e removam divisões menores e pouco competitivas.

 Desde que seu ex-presidente Daniel Vasella deixou a Novartis, no ano passado, o diretor-presidente, Joe Jimenez, disse repetidas vezes que deseja reorientar a Novartis para as áreas em que ela tem escala para competir, em vez de manter uma presença pequena em muitos mercados. A empresa vem reavaliando seus negócios e vendeu uma divisão de diagnósticos para a espanhola Grifols SA GRF.MC +1.20% no ano passado.

 Os acordos com a Glaxo, e um separado no qual a Novartis concordou em vender sua divisão de saúde animal para a Eli Lilly LLY -0.47% & Co. por cerca de US$ 5,4 bilhões, cumprem esse objetivo, colocando o foco da Novartis em produtos farmacêuticos, cuidados com os olhos e genéricos. Os analistas da Sanford C. Bernstein & Co. estimam que as vendas da farmacêutica vão cair um pouco mais de 6,5%, para US$ 53,5 bilhões, enquanto a margem operacional deve subir 2,5 pontos percentuais, para 27,2%.

 "Essas transações marcam um momento de transformação para a Novartis", disse ontem Jimenez.

 A Novartis, sediada em Basileia, na Suíça, vai adquirir a divisão de oncologia da Glaxo por cerca de US$ 14,5 bilhões, reforçando seu leque, já potente, de produtos contra o câncer. Depois de fechado o negócio, a Novartis vai obter cerca de um 20% da sua receita anual, estimada em quase US$ 54 bilhões, de medicamentos contra o câncer.

 Em troca, a Glaxo, sediada em Londres, vai pagar US$ 5,25 bilhões pela divisão de vacinas da Novartis, adquirindo com ela a promissora Bexsero, vacina contra a meningite B. Em outra operação separada, as duas empresas vão fundir suas divisões de produtos de saúde para o consumidor, que ficarão sob a gestão da Glaxo, combinando algumas das marcas mais conhecidas do mundo, como os analgésicos Excedrin e Panadol e a pasta de dentes Aquafresh.

 "A escala das mudanças é realmente espantosa", disse Birgit Kulhoff, gestora de fundos do banco Rahn & Bodmer, em Zurique, que detém ações da Novartis e da Glaxo. Segundo Kulhoff, o perfil de risco da Novartis iria aumentar "ligeiramente" devido à nova configuração, mas os desafios, tal como a expiração de patentes, que a empresa está enfrentando ou vai enfrentar no futuro são administráveis.

 A ação da Novartis subiu 2,3%, para 76,40 francos suíços (US$ 86,32) ontem, refletindo o entusiasmo do mercado pelos acordos. A ação da Glaxo subiu 5,2% em Londres, para 16,40 libras (US$ 27,54). 

Os negócios também transformam a Glaxo, focando seus negócios em produtos para doenças respiratórias, HIV, vacinas e produtos para a saúde do consumidor. Essas quatro áreas serão responsáveis por cerca de 70% do total de vendas da empresa britânica.

 A Glaxo vai assumir o comando das divisões combinadas de produtos para o consumidor, que se tornará uma das maiores fabricantes mundiais de remédios vendidos sem receita médica, com faturamento anual de cerca de 6,5 bilhões de libras esterlinas (US$ 10,9 bilhões). A Glaxo deterá 63,5% da divisão.

 Ao combinar suas divisões de consumo, a Glaxo e a Novartis buscam adicionar escala e competir melhor com rivais de maior porte com foco no consumidor, bem como reduzir os custos de produção e vendas em até US$ 672 milhões por ano.

 Alguns dos maiores produtos da nova empresa serão para dor e resfriado, unindo marcas como Excedrin, Panadol e Voltaren, para tratar enxaquecas, dores de cabeça, gripe e dores nas articulações.

 O acordo também vai ampliar a liderança da Glaxo como a maior fornecedora mundial de vacinas, reforçando a sua posição nos Estados Unidos e no mercado da vacina contra a meningite. A nova empresa terá mais de 20 vacinas em desenvolvimento. Por MARTA FALCONI e HESTER PLUMRIDGE, de Zurique CONNECT. Leia mais em Thewallstreetjournal 23/04/2014

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