Está reaberta a temporada de captação de fundos de "private equity", que compram participações em empresas. As principais gestoras que atuam no país retomaram os contatos com investidores para levantar novos fundos que, somados, podem atingir até US$ 10 bilhões.
Entre as grandes firmas de private equity que iniciaram recentemente a captação de novos fundos está o Pátria Investimentos, que espera levantar entre US$ 1,5 bilhão e US$ 2 bilhões. A americana Advent International também deu início a um novo fundo, o sexto dedicado a investimentos na América Latina, que tem como meta levantar por volta de US$ 2 bilhões, conforme apurou o Valor.
A Gávea Investimentos, que iniciou a captação do novo fundo no ano passado, é uma das mais adiantadas nesse processo, segundo fontes de mercado. A gestora fundada pelo ex-presidente do Banco Central Arminio Fraga captou em 2011 o maior fundo destinado a investimentos no país, de US$ 1,9 bilhão. A indicação inicial da gestora era obter por volta de US$ 1,5 bilhão no novo fundo.
O BTG Pactual também está no mercado desde o ano passado, em busca de até US$ 1,5 bilhão. A americana Carlyle, que tem um fundo para investimentos na América do Sul captado no exterior, está próxima de obter mais R$ 1 bilhão (US$ 450 milhões) com investidores locais, incluindo grandes fundos de pensão.
Uma das novidades da atual leva de private equity são os fundos dedicados a investimentos em infraestrutura. No ano passado, o BTG captou US$ 1,850 bilhão para aplicar na área. A P2 Brasil, associação entre Pátria e Grupo Promon, está em conversas para levantar seu segundo fundo no setor, também na casa do bilhão de dólares.
A GP Investimentos, que contratou uma equipe dedicada a investimentos em infraestrutura, pretende captar um fundo de até US$ 1 bilhão, segundo fontes de mercado. Procuradas, as gestoras não comentaram o assunto.
O cenário atual é diferente do vivido pelos grandes gestores de private equity em 2010 e 2011, quando as captações somaram mais de US$ 12 bilhões. O principal desafio será vencer a maior resistência dos investidores. Enquanto as gestoras, de um modo geral, querem levantar fundos maiores, os investidores preferem portfólios com valores semelhantes aos atuais.
Além da piora macroeconômica, os fundos sentiram os efeitos da desvalorização cambial. Como a maior parte da captação de recursos das gestoras vem do exterior, os investimentos realizados quando o dólar estava abaixo de R$ 2 precisam apresentar retornos maiores para compensar a alta da moeda americana.
Se o câmbio jogou contra nos últimos anos, agora pode servir de trunfo para os fundos. O real desvalorizado torna as empresas mais atrativas para os fundos que captam recursos fora do país. "O cenário para captação está mais difícil, mas as gestoras que possuem bom histórico de retorno não devem ter dificuldades para levantar novos fundos", diz André Castellini, sócio da consultoria Bain & Company.
O preço considerado alto pelos ativos brasileiros nos últimos anos desviou o foco dos investidores para países como Chile, Colômbia e Peru. Mas o mercado nacional deve se manter como o principal destino dos recursos direcionados a private equity na região, segundo Clovis Meurer, presidente da Abvcap, associação que representa o setor. "Temos uma economia muito maior, que proporciona mais oportunidades de negócio", afirma.
Enquanto partem para captações de novos fundos, as gestoras seguem de olho em investimentos para os portfólios atuais, que ainda contam com recursos para aplicar. Gestoras como a Advent, que em 2011 declarou que o Brasil estava "caro", agora apontam uma melhora nas condições.
Nos últimos anos, os fundos dedicados a aquisições de empresas brasileiras ganharam a companhia de gestoras globais, que acirraram a disputa pelos ativos. A americana KKR, que possui escritório no Brasil desde o início do ano passado, acaba de fazer o primeiro negócio local, com a compra da Aceco TI, que atua na construção e manutenção de data centers.
Outras gigantes do setor que levantaram fundos globais recentemente também estão no país em busca de novos negócios. Existem ainda casos como o da Bain Capital, que mesmo sem ter presença local já fechou duas aquisições, da operadora de plano de saúde Intermédica e da empresa de call center Atento.
Apesar da maior concorrência, a avaliação é que a disputa pelos ativos brasileiros ainda é pequena em relação a outros mercados. "Cada fundo segue uma estratégia. Um bom negócio para mim pode não ser para outro fundo, e vice-versa", diz o executivo de uma firma de private equity, que pediu para não ser identificado.
A bolsa, apontada como outro potencial concorrente para os fundos, pelo menos por ora não é uma ameaça. Com o momento ruim de mercado e o calendário mais apertado em razão da Copa e das eleições, a expectativa é que o ano seja mais fraco para as ofertas de ações (IPO, na sigla em inglês). A bolsa ruim, por outro lado, fecha uma porta de saída para a venda das participações dos fundos.
Fonte: Valor Econômico / Vinícius Pinheiro Leia mais em abbc 14/04/2014
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