12 março 2014

Venda do setor de lácteos reforça aposta em internacionalização da BRF

Francesa Lactalis surge como interessada na compra das marcas Elegê e Batavo

 A fusão entre Sadia e Perdigão, que deu origem à BRF, criou também um problema para a empresa. Após o Cade impor restrições para aprovar o negócio, ficou praticamente impossível para a BRF realizar novas aquisições no País. Se quiser crescer, o caminho mais claro é a internacionalização. Por isso, a possível venda do setor de lácteos, anunciada em 26 de fevereiro, foi vista pelo mercado como um preparativo para a expansão mundial da empresa comandada por Cláudio Galeazzi – estratégia que já anunciada desde a posse de Abilio Diniz na presidência do conselho de administração.

 Outra vantagem é que a empresa ficaria livre para investir em produtos de maior margem. A divisão, que engloba a Batavo e a Elege, respondeu por 9,2% da receita total da companhia em 2013, ou cerca de R$ 2,8 bilhões. “Mesmo com essas cifras, o lácteo não estava sendo lucrativo por causa das margens baixas”, diz Luciana de Carvalho, analista da BB Investimentos. Reduzir custos, otimizar gastos e preservar o caixa são preocupações declaradas de Galeazzi. "Nossa política global é continuar com a geração de caixa forte, fortalecendo a nossa posição econômica e sempre preparados para enfrentar qualquer crise", disse Galeazzi durante conferência de resultados.

 A visão do mercado, porém, é que a companhia se prepara para uma grande aquisição no exterior. “A internacionalização da empresa tem sido fraca, com compras de abatedouros muito pequenos, e ainda perderam boas oportunidades”, diz Rodrigo Pasin, fundador da V2 Finance, consultoria especializada em fusões e aquisições. “Eles precisam comprar uma empresa grande lá fora para, de fato, ter uma expansão significativa.” Para mudar esse panorama, o dinheiro da divisão de lácteos pode ser essencial. 

Segundo fontes ouvidas pela DINHEIRO, a empresa que está acompanhando mais de perto essa situação é a francesa Lactalis, a maior do setor no mundo. A companhia, que tem faturamento estimado em 15,7 bilhões de euros, sondou no ano passado a LBR, que está em recuperação judicial e tem em seu portfólio marcas como Parmalat e Bom Gosto. Contudo, nada foi fechado. Agora, os olhos estão voltados para a divisão de lácteos da BRF, que possui 10,7% do mercado, segundo a Nielsen. Por meio de sua assessoria de imprensa, a Lactalis afirmou que não fará nenhum comentário sobre o assunto. Procurada, a BRF não se pronunciou.

 Desde que o anúncio foi feito, as ações da BRF subiram 9,56% até o fechamento do pregão dessa segunda-feira 10, quando o papel ficou cotado a R$ 43,76. No mesmo período, o Ibovespa, principal índice da bolsa, oscilou 2,5% negativamente. “A informação mudou o humor do mercado”, afirma Luciana, da BB Investimentos. “O investidor voltou a ficar animado com o futuro após a reestruturação.”

 O leite azedou

 Há tempos, a Batavo está acostumada a ser envolvida em transações. Antes de ser comprada pela Perdigão, a marca já esteve nas mãos da Parmalat entre 1998 e 2006 e quase teve que ser comercializada após a fusão entre Sadia e Perdigão. O fato é que a Batavo não trouxe os resultados esperados pela BRF até agora.

 O ano de 2009 foi o último em que a empresa apareceu no ranking das 50 principais marcas do Brasil, elaborado pela consultoria Brand Analytics, e exatamente na última posição, com valor de R$ 242 milhões. No levantamento anterior, ela era 35ª colocada. “O setor de laticínios passou por dificuldades nos últimos anos”, afirma Eduardo Tomiya, diretor da Brand Analytics. “Mas a Batavo ainda tem uma marca forte.” Desde 2012, a BRF investiu R$ 18 milhões na reestruturação da Batavo e no lançamento de novos produtos.

 O caso da Elegê é um pouco mais complicado. Especializada, principalmente, em leites longa vida, a marca tem sofrido com a queda na margem da produção das caixas, que atinge o segmento fortemente desde 2012. Por André JANKAVSKI | Leia mais em Istoedinheiro 11/03/2014

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